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Gabriela Prioli: “Se ser melhor inclui mudar, que assim seja”

Em entrevista exclusiva, Gabriela Prioli revelou os bastidores de seus movimentos na televisão, os dilemas de ser mãe hoje e o que pensa sobre o futuro

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Gabriela Prioli | Divulgação

Gabriela Prioli é um dos nomes mais plurais e de destaque de sua geração. Apresentadora, advogada, comentarista e palestrante, a paulistana de 38 anos foi professora de pós-graduação e conquistou as câmeras da televisão em 2020. Desde então, tornou-se onipresente nas redes sociais com mais de três milhões de seguidores e quase um milhão em seu canal homônimo no Youtube.

Depois de passar pela bancada dos programas da CNN Brasil ao lado de Leandro Karnal, Mari Palma e de um programa solo de entrevistas com três temporadas, Gabriela passou a integrar o time de apresentadoras do Saia Justa, no canal GNT, posto que ocupou durante pouco mais de um ano. No ar com o programa semanal Sábia Ignorância, ela busca discutir temas universais e assuntos socialmente relevantes, como carreira, gênero, envelhecimento e formas de relacionamento sempre na companhia de um convidado e de um especialista.   

Em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil, Gabriela Prioli conta um pouco de sua trajetória, a dedicação à comunicação, os dilemas da maternidade e ainda revela o que pretende realizar nos próximos passos da carreira. Confira! 

A comunicação sempre fez parte da sua vida profissional, seja como professora nos cursos de pós-graduação, nas redes sociais ou na televisão. Como é falar para públicos tão extensos e em formatos diferentes?

Eu acredito que a essência da boa comunicação seja a capacidade de adaptar o seu discurso a públicos diferentes e isso começa com escuta atenta. Eu preciso saber quem é o meu público para entregar a mensagem da melhor forma possível. O meu histórico como advogada e professora, sem dúvida, me ajudou nisso; esteja eu falando para duas, duzentas, duas mil ou 2 milhões de pessoas, eu o faço com a mesma responsabilidade. As pessoas me entregam algo muito precioso, seu tempo e sua atenção e eu retribuo com o meu cuidado na elaboração do conteúdo. 

Você migrou do universo do Direito para o Jornalismo e, mais tarde, para o entretenimento. A partir de qual momento você passou a se entender como comunicadora?

Olhando para trás, acho que esse sempre foi o meu forte e também sempre foi a minha paixão. Gostava da sala de aula, das audiências, das sustentações orais. É, de outro jeito, um palco [risos], mas eu comecei a preencher as fichas de cadastro com “comunicadora” em vez de “advogada” há poucos meses. É sempre difícil trocar de identidade.

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Gabriela Prioli | Divulgação

Deixar a CNN Brasil foi uma decisão difícil?

Foi e não foi. Foi porque fiz amigos lá e tive lá o meu berço na comunicação. Na CNN, estão as pessoas que primeiro acreditaram em mim e me deram muito espaço e confiança para experimentar caminhos diferentes. Sou e sempre serei muito grata a eles e estarei sempre torcendo pelo sucesso da CNN. E não foi porque ir para o grupo Globo sempre foi um sonho. Eu assistia ao Saia Justa e fui convidada para estar ali, até por isso aceitei o convite mesmo tendo dado à luz a minha filha há tão pouco tempo. As decisões mais importantes da vida são assim, difíceis, mas é importante seguir nossos desejos.

Quando a pequena Ava nasceu, você afirmou  em entrevista logo após aceitar o convite para integrar o elenco do programa Saia Justa: “preciso continuar sendo uma mulher completa para ser boa mãe”. O que é mais desafiador ao conciliar trabalho e maternidade?

Os valores que a gente enfiou na nossa cabeça desde sempre e que, muitas vezes, nem se dá conta que estão lá. Aprendemos que é da mãe — e só dela! — a responsabilidade pelos filhos e que o amor se mede pelo sacrifício. Se nos vemos felizes ou pensando nos nossos sonhos, sentimos culpa. É como se olhar para nós mesmas automaticamente negasse algo à nossa prole. E essa é uma mentira aprisionante: quanto mais estivermos bem, plenas e satisfeitas, mais saudáveis estaremos para cuidar das nossas crianças de uma forma leve. Bom para nós e bom para eles.

 

Você já se questionou sobre os seus valores como mãe? 

Eu me questiono sempre, assim como sobre todas as crenças e valores a respeito de assuntos importantes. Não tenho apego com o que percebo errado, ultrapassado. Meu compromisso comigo é com minha filha e fazer sempre o meu melhor. Se ser melhor inclui mudar, que assim seja.

Sobre o tempo em esteve no sofá do Saia Justa, o que ficou da experiência do programa?

Um profundo respeito pelas minhas colegas de sofá e pela equipe. A produção do Saia é impecável. A pesquisa extensa e cuidadosa. Astrid é uma tremenda apresentadora, uma escola mesmo. De ruim, a percepção que, durante o ano que eu estive lá, foi comum lidar com insinuações sobre a competição ou desafetos entre as saias, o que não era verdade. As pessoas ainda se satisfazem por imaginar mulheres em disputa, o que é muito triste. Sou amiga da Mari Palma, minha primeira colega de bancada ainda na CNN até hoje. Torço pelas minhas colegas do Saia. Espero que a sociedade mude no futuro.

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Gabriela Prioli | Divulgação

Como surgiu a ideia e as inspirações para o programa Sábia Ignorância?

Adoraria dizer que o programa foi ideia minha porque ele é a minha cara, mas a verdade é que ele foi pensado pelo GNT e eu fiquei felicíssima com a proposta. Desde que eu entrei na TV, digo que quero espaço para dizer o que eu acredito e o que eu acredito é que o público se interessa por assuntos mais profundos e que se interessa pela profundidade apresentada por uma mulher. Temos outros apresentadores no ar que exploram conversas densas num tom mais elaborado, como o Pedro Bial, que é um exemplo para mim e acho que podemos ter mais mulheres ocupando esse espaço. Historicamente, o saber é visto como prerrogativa masculina, então é importante até como influência para as meninas mais jovens ter mulheres também nesse espaço. 

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Gabriela Prioli | Iude Richele

O novo projeto do canal GNT se propõe a tratar de assuntos relevantes de forma leve e descontraída. Você acredita que há algum tema difícil de abordar para o público?

Acho que abordar temas densos de forma simples, mas sem ser simplista, é sempre um desafio difícil. Eu dou o meu melhor nos meus muitos veículos — a TV, os livros, as redes sociais — e fico feliz que o público me enxergue como essa pessoa que facilita o entendimento e torna agradáveis conversas complexas, mas é claro que algumas pautas são mais desafiadoras. Todo tema que esbarra na política — gênero, racismo, feminismo — encontra alguma resistência. Diante disso, temos duas abordagens possíveis, silenciar ou enfrentar a resistência. E eu não sou a pessoa que vai silenciar.

 

Sua relação com os livros é bastante intensa e já gerou frutos, como o Clube do Livro, projeto em parceria com Leandro Karnal. Qual é o lugar que a leitura ocupa na sua vida hoje?

O Clube do Livro é um sonho realizado. A leitura me acolheu durante a vida toda e foi um grande diferencial na construção da minha trajetória. Fico feliz por continuar para que ela seja esse apoio na vida de tanta gente a partir do Clube. Recebo mensagens dizendo que o Clube foi um alento no enfrentamento da depressão, da solidão, do luto; que foi espaço de troca entre gerações numa família que tinha perdido o diálogo, que ajudou pessoas a se destacarem no trabalho, a passarem num concurso. Ter esse impacto na vida das pessoas é a melhor parte do meu trabalho. Além disso, para preparar o conteúdo do clube, eu hoje tenho uma rotina de estudos e leitura ainda mais engajada. Eu sou professora e aluna do Clube. Realmente, participo dessa leitura em grupo. 

Em se tratando de Literatura, com qual personagem você mais se identifica?

Impossível ser um só. Sou a narradora de A paixão segundo GH [obra de Clarice Lispector] com medo de perder a terceira perna, tenho o desassossego de Bernardo Soares, estrategista como Elizabeth Bennet de Orgulho e Preconceito e audaciosa como Capitu. Desejo a bondade do Bispo que acolheu Jean Valjean nos miseráveis, a liberdade de Sabina, da insustentável leveza do ser, a delicadeza diante da vida de Macabéa. Sou uma mistura pronta para adicionar mais ingredientes na minha receita. 

 

O que podemos esperar de Gabriela Prioli para o futuro?

Sendo honesta? Eu quero descansar um pouco mais. Emendei um trabalho no outro e tenho uma bebê para curtir. Quero direcionar minha produção de conteúdo para mulheres na construção de uma trajetória mais livre. E continuar falando, nos muitos espaços que eu construí, sobre aquilo que considero importante para nós nos apropriarmos de nós mesmos e, a partir de uma gentileza conosco e com os outros, construirmos juntos um mundo melhor para se viver.

 

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