Cultura

Mônica Martelli em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil

Mônica Martelli vive os dilemas e as angústias de Fernanda em Minha Vida em Marte, peça teatral que reestreia em São Paulo

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Mônica Martelli | Foto: Julia Mataruna

Mônica Martelli é uma das grandes vozes da dramaturgia nacional hoje. Com humor inteligente, a atriz carioca volta aos palcos de São Paulo para viver na pele de Fernanda, personagem da peça de teatro Minha Vida em Marte, que se depara com uma crise em seu relacionamento de oito anos.

Lutando contra as intolerâncias diárias na rotina da relação, as sessões de terapia serão o pano de fundo para que o público conheça as angústias e os medos de uma personagem que já é conhecida no teatro, na televisão e, mais recentemente, no cinema. Em 2018, a peça resultou em uma adaptação cinematográfica cujo elenco contou com o ator Paulo Gustavo e se tornou um grande sucesso com mais de 5 milhões de espectadores - uma das maiores bilheterias do cinema nacional que marcou a última atuação de Mônica Martelli com o ator falecido em 2021.

Minha vida em Marte fica em cartaz no Teatro Renault, em São Paulo, em curta temporada a partir de 2 de agosto, e tem texto assinado pela atriz e direção de sua irmã Susana Garcia.

Em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil, Mônica Martelli conta sobre os bastidores criativos, inspirações, novos projetos profissionais e ainda revela como tem enfrentado a falta do ator e amigo Paulo Gustavo em seu cotidiano pessoal e profissional. Confira!

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Mônica Martelli | Foto: Júlia Mataruna

Você vive a personagem Fernanda de Minha Vida em Marte há décadas, tanto no teatro, no cinema e na televisão. Como é interpretar uma personalidade por tanto tempo?

Cada vez que eu faço a Fernanda, eu aprendo com ela e descubro novas nuances. A Fernanda na peça diz muita coisa que eu vivi e que vivo no momento. Eu vou curando algumas dores através dela. Enquanto eu estiver viva, vai existir a Fernanda e muitas histórias para contar.

Qual foi a principal inspiração para conceber a personagem?

A principal inspiração sou eu mesma, é a minha vulnerabilidade, a minha vida, as minhas dores, as minhas alegrias, as minhas dúvidas, as minhas angústias, os meus medos, a minha coragem de ir em frente mesmo com medo. E também em experiências compartilhadas por outras pessoas, ouvindo. Queria falar sobre os problemas femininos, especialmente nos relacionamentos. Tinham muitas questões e ideias dentro de mim. Escrever foi a forma de dar clareza às minhas indagações, de enxergar melhor o universo dos conflitos amorosos e dialogar com as pessoas.

 

Como é a recepção do público feminino sobre os conflitos e as angústias amorosas de Fernanda no palco?

É o público feminino que se identifica com a personagem e com o espetáculo do início ao fim. Vai direto ao coração da mulher porque ali eu coloco para fora todas as nossas questões, os nossos medos e conflitos. Isso tudo de forma bem-humorada. Então, você ri daquilo com o que você se identifica, e do que acontece com você. Ali, entende que todo mundo passa e sente isso. É uma catarse coletiva! Fernanda é uma mulher real, vivendo situações reais. As pessoas se reconhecem nela e nas situações que ela vive. Elas me procuram para dizer que viveram situações como as dela.

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Mônica Martelli | Foto: Camila Cara

Em se tratando de relacionamentos e família, o que você tem em comum com a Fernanda?

Fernanda é uma mulher que não tem medo do amor e se joga nas relações. Relacionamento é o melhor lugar para a gente evoluir e se conhecer. A gente precisa do outro para se reconhecer. Então, o que eu mais tenho em comum com a Fernanda é não ter medo do amor, de me envolver, de me jogar nesse abismo que são os relacionamentos e que a gente não sabe onde vai dar e nem quanto tempo vai durar essa viagem. A Fernanda vai em frente e se joga. Ela também não aguenta tudo em nome de uma relação, pois ela se questiona, toma decisões, tem muitos medos, mas ela rompe se não está feliz. Ela vai em frente e é isso com o que me identifico muito com ela.

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Mônica Martelli | Foto: Camila Cara

Diante de todos os temas abordados pelo espetáculo - sexo, casamento, maturidade, filhos etc -, você acredita que falar sobre problemas femininos ainda é um tabu na sociedade?

Avançamos em vários aspectos. Costumes e valores se modificam, mas ainda temos muito o que avançar. Ainda existem temas que permanecem, para uma grande maioria, tabus, como a sexualidade feminina, menopausa e o desconhecimento do próprio corpo. Ainda vejo mulheres que acham que não ter orgasmo, por exemplo, é normal. Ainda temos muita desinformação e retrocessos. Temos que estar sempre atentas para proteger nossas conquistas.

Minha vida em Marte, em sua versão para o cinema, é um dos dez filmes mais vistos na Netflix em sua semana de estreia com Paulo Gustavo no elenco. O que o ator representa na sua trajetória?

Paulo Gustavo me potencializou. Ele me achava uma mulher inteligente e isso foi muito importante para minha autoestima e para a minha segurança. A nossa parceria fluía. Tinha uma troca entre a gente que parecia uma magia. Em cena, a gente se entendia num olhar, numa respiração. Tínhamos uma cumplicidade muito grande que levamos para as telas, para o cinema e tínhamos isso na vida. A gente se falava todos os dias, muitas vezes, e a nossa intimidade evoluiu muito. Ele foi - e continua sendo - uma pessoa fundamental na minha vida. Digo porque, mesmo quando a pessoa se vai, acredito que a relação continua, especialmente quando é tão forte. Ele está presente me inspirando. Penso no que ele diria sobre determinados assuntos, e como me faria rir em várias situações.

 

Em post comemorativo do aniversário de Paulo Gustavo, em 30 de outubro, no seu perfil no Instagram, você afirmou que a saudade do amigo “não passa nunca” e que “a gente só aprende a viver com essa saudade”. Como tem sido lidar com esse sentimento hoje?

A vida vai te colocando em algumas situações com as quais você terá que lidar. As perdas como essas são muito profundas que marcam a vida; vira o antes e o depois. Você aprende a lidar, a viver com esse buraco, com essa falta, com essa dor, com a saudade e vai buscando alternativas para voltar a rir, a ser feliz buscando pessoas que te provocam esse tipo de alegria... Igual ao Paulo Gustavo não vai ter nunca; isso é impossível. Eu nunca mais rio com ninguém como ria com Paulo Gustavo - é uma coisa que marcou. Aprendi a viver com a saudade, agradecendo a todos os bons momentos que vivemos juntos, ao privilégio de termos sido amigos. Acredito que vou ressignificando as lembranças e retirando o sofrimento aos poucos, fortalecendo as memórias felizes. Às vezes, bate uma tristeza forte e uma saudade gigante. Em tudo, eu penso: o que Paulo Gustavo estaria pensando sobre isso?

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Mônica Martelli | Foto: Júlia Mataruna

Você esteve no sofá do Saia Justa, do canal GNT, por nove anos. Quais são as principais lições que você leva desta experiência para a sua carreira?

O Saia Justa foi um marco antes e depois da minha carreira porque ali é um aprendizado da escuta e de viver com o diferente. Conviver com pessoas que pensam diferente e que vieram de outros contextos sociais é muito rico. Vi e vivi muitas transformações ao longo desses nove anos. Vi a ampliação e o empoderamento das lutas femininas e a questão do racismo ganhou mais visibilidade. Vivemos os avanços tecnológicos. A forma como a gente se relaciona mudou com as redes sociais. Vivi toda essa transformação sentada no sofá do Saia Justa.

O que podemos esperar de Mônica Martelli para 2024? Fernanda vai viver novas experiências nos palcos e no cinema?

Fernanda continua rodando pelo país com o espetáculo Minha vida em Marte. Vou fazer turnê na região Nordeste do país e, no ano que vem, em Portugal.

 

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