Na noite mais esperada do ano, o Maido &eacute; coroado o melhor restaurante do mundo, Lasai &eacute; o &uacute;nico brasileiro da lista, a chef Pam brilha e a cena global se encontra em um Piemonte que traduz a beleza de comer bem.

A nata da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/gastronomia/alta-gastronomia-flores-sao-as-protagonistas-da-vez">gastronomia</a> mundial vestiu seu melhor smoking e seus vestidos mais discretamente extravagantes para comparecer ao que se convencionou chamar de &ldquo;Oscar da gastronomia&rdquo;. E eu, como em todos os &uacute;ltimos anos, estava ali, entre chefs e sommeliers, agentes, cr&iacute;ticos, diretores de marketing e cozinheiros em nervosa contempla&ccedil;&atilde;o, diante do palco onde se revelaria o nome do melhor restaurante do mundo em 2025. O rumor mais quente era o de que Asador Etxebarri, na regi&atilde;o basca da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/viagem/o-pedaco-da-espanha-que-conquistou-ritmo-proprio-no-mediterraneo">Espanha</a>, finalmente levaria o topo. Mas havia quem apostasse no Maido, de Lima - e estavam certos. O restaurante nikkei de Mitsuharu &lsquo;Micha&rsquo; Tsumura foi anunciado como o novo n&uacute;mero 1 do mundo, numa noite celebrada em Turim, no Piemonte, diante de uma plateia em suspenso e um audit&oacute;rio em festa.

Mitsuharu ‘Micha’ Tsumura | Divulgação

Foi uma consagra&ccedil;&atilde;o t&atilde;o merecida quanto carregada de simbolismo: Maido representa a fus&atilde;o precisa entre duas culturas culin&aacute;rias profundas, a japonesa e a peruana. Sua cozinha &eacute; t&eacute;cnica, sim, mas tamb&eacute;m generosa, emotiva, viva.Toda equipe do Maido traduz um verdadeiro e sincero esp&iacute;rito de acolhimento. O p&oacute;dio se completou com o Asador Etxebarri (n&ordm; 2), do lend&aacute;rio Bittor Arguinzoniz, e o Quintonil, da Cidade do M&eacute;xico (n&ordm; 3), mostrando que, mais do que nunca, os sabores da Am&eacute;rica Latina ocupam o centro do palco global.

Bittor Arguinzoniz | Divulgação

Lima, ali&aacute;s, foi a grande capital gastron&ocirc;mica da noite, com Kjolle (n&ordm; 9), da chef P&iacute;a Le&oacute;n, Mayta (n&ordm; 39) e o ascendente M&eacute;rito (n&ordm; 26) tamb&eacute;m figurando entre os 50 primeiros. E, em tempos em que a comunica&ccedil;&atilde;o, &agrave;s vezes, parece falar mais alto do que a panela, chama aten&ccedil;&atilde;o que todos os quatro representantes de Lima sigam trajet&oacute;rias pautadas por identidade.

Pía León | Divulgação

O Brasil teve uma &uacute;nica estrela na lista: o carioca Lasai, do chef Rafa Costa e Silva, que estreou diretamente na 28&ordf; coloca&ccedil;&atilde;o. Um feito not&aacute;vel, sobretudo por se tratar de um restaurante que n&atilde;o investe em ag&ecirc;ncia de rela&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas. Ao contr&aacute;rio de alguns outros nomes da lista, o Lasai aposta na coer&ecirc;ncia, na discri&ccedil;&atilde;o e na agricultura pr&oacute;pria - e mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, chegou l&aacute;.

Rafa Costa Silva | Divulgação

Na Am&eacute;rica do Sul, a lista ainda inclui o sempre presente Don Julio, de Buenos Aires (n&ordm; 10), e o Borag&oacute;, de Santiago (n&ordm; 23), que mant&eacute;m seu compromisso radical com os ingredientes nativos do Chile. Rosetta, da chef Elena Reygadas, apareceu em 46&ordm;, reafirmando o lugar da Cidade do M&eacute;xico entre as grandes capitais gastron&ocirc;micas do mundo.

Pablo Rivero e sua equipe do Don Julio | Divulgação

Entre as belas novidades, o colombiano Celele (n&ordm; 48), em Cartagena, n&atilde;o apenas entrou na lista, como tamb&eacute;m recebeu o Sustainable Restaurant Award, por seu compromisso com a biodiversidade e a preserva&ccedil;&atilde;o da culin&aacute;ria caribenha. O restaurante, comandado com delicadeza Jaime Rodr&iacute;guez, aposta em ingredientes locais - mais de 90% dos insumos v&ecirc;m de produtores da regi&atilde;o, t&eacute;cnicas ancestrais e uma rela&ccedil;&atilde;o profunda com o territ&oacute;rio e suas comunidades. Me lembro nitidamente da primeira vez em que estive l&aacute;, pouco tempo ap&oacute;s a abertura: j&aacute; era promissor, ousado, encantador. Hoje, &eacute; uma refer&ecirc;ncia incontorn&aacute;vel da nova gastronomia colombiana.

Jaime Rodríguez | Divulgação

E se 2025 &eacute; o ano de Micha Tsumura, tamb&eacute;m &eacute;, sem d&uacute;vida, o ano de Pichaya &lsquo;Pam&rsquo; Soontornyanakij. A chef tailandesa &agrave; frente do Potong, em Bangkok (13&ordm; lugar na lista Asia&rsquo;s 50 Best Restaurants), foi consagrada como The World&rsquo;s Best Female Chef 2025, reconhecimento que consolida sua ascens&atilde;o como uma das vozes mais criativas e ousadas da gastronomia contempor&acirc;nea. Recebeu o pr&ecirc;mio das m&atilde;os de ningu&eacute;m menos que Alain Ducasse, monumento vivo da cozinha francesa - cuja presen&ccedil;a em Turim foi notada, embora nenhuma de suas casas figure, por enquanto, na lista. Um detalhe curioso, j&aacute; que o Louis XV, em M&ocirc;naco, continua sendo uma das grandes experi&ecirc;ncias da alta gastronomia europeia. Quem sabe nos pr&oacute;ximos anos? Pam, por sua vez, representa uma gera&ccedil;&atilde;o que n&atilde;o pede licen&ccedil;a: mistura t&eacute;cnica, cultura e identidade pessoal com uma clareza rara. Sua cozinha &eacute; visceral, pol&iacute;tica, progressiva - Bangkok me chama, penso eu, enquanto ou&ccedil;o seus agradecimentos em ingl&ecirc;s impec&aacute;vel, com emo&ccedil;&atilde;o contida e postura de estrela.

Pichaya ‘Pam’ Soontornyanakij | Divulgação

Outro reencontro feliz com o ranking foi o de Massimiliano Alajmo, do Le Calandre, restaurante italiano com hist&oacute;ria, mem&oacute;ria e densidade. Voltou com for&ccedil;a ao 31&ordm; lugar, lembrando a todos por que &eacute; um dos grandes mestres da cozinha italiana moderna. E n&atilde;o posso deixar de mencionar Maxime Fr&eacute;d&eacute;ric, o novo Melhor Chef P&acirc;tissier do Mundo, cuja eleg&acirc;ncia se estende para muito al&eacute;m da confeitaria. Presente em projetos como o Cheval Blanc Paris e o Pl&eacute;nitude (n&ordm; 14), ele &eacute; o tipo de criador que transforma a&ccedil;&uacute;car em arquitetura e poesia - e cuja influ&ecirc;ncia parece apenas come&ccedil;ar.

Maxime Frédéric | Divulgação

O argelino Mohamed Benabdallah, sommelier do Asador Etxebarri, levou o t&iacute;tulo de Melhor Sommelier do Mundo, reconhecimento merecido por seu trabalho sens&iacute;vel e inteligente com os vinhos que acompanham uma das cozinhas mais puristas da atualidade. Uma men&ccedil;&atilde;o especial tamb&eacute;m &agrave; jovem Ang&eacute;lica Ortiz, vencedora da Bolsa 50 Best Restaurants, criada para apoiar talentos em in&iacute;cio de carreira. A colombiana ter&aacute; a chance de estagiar tanto no El Celler de Can Roca quanto no Single Thread, vivendo o que promete ser uma imers&atilde;o &uacute;nica entre Girona e a Calif&oacute;rnia.

Mohamed Benabdallah | Divulgação

A noite ainda teve espa&ccedil;o para celebrar figuras que mudaram a gastronomia global nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas. Albert Adri&agrave;, do Enigma (n&ordm; 34), foi homenageado com o Chefs&rsquo; Choice Award. J&aacute; Massimo Bottura e Lara Gilmore receberam o Woodford Reserve Icon Award, por sua atua&ccedil;&atilde;o transformadora tanto no restaurante quanto fora dele, com projetos sociais como o Food for Soul.

Entre ta&ccedil;as de espumante piemont&ecirc;s e abra&ccedil;os de reencontro, encontrei ali jornalistas, cozinheiros e criativos de v&aacute;rios pa&iacute;ses, todos tomados por um mesmo sentimento: o de que, apesar da competi&ccedil;&atilde;o, a gastronomia ainda &eacute;, no fim das contas, um terreno de emo&ccedil;&atilde;o partilhada. Em tempos de tanto ru&iacute;do, ver gente se comover diante da celebra&ccedil;&atilde;o de talento e dedica&ccedil;&atilde;o ainda &eacute; um alento. Diante de tanta celebra&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o se pode esquecer que, mais do que um ranking, a lista dos 50 Best &eacute; um retrato do nosso tempo - suas tend&ecirc;ncias, suas press&otilde;es, suas aus&ecirc;ncias. Que haja apenas um restaurante brasileiro entre os 50, por exemplo, deveria provocar alguma reflex&atilde;o: sobre crit&eacute;rios, visibilidade, mas tamb&eacute;m sobre estrat&eacute;gias e prioridades do nosso setor gastron&ocirc;mico.

Massimo Bottura e Lara Gilmore | Divulgação

Desde 2002, The World&rsquo;s 50 Best Restaurants reflete a diversidade do panorama culin&aacute;rio global. Mais do que um ranking, &eacute; um retrato anual das experi&ecirc;ncias mais significativas da gastronomia mundial, uma plataforma que sinaliza tend&ecirc;ncias, celebra talento e conecta diferentes culturas atrav&eacute;s da comida. A lista &eacute; votada de forma an&ocirc;nima por 1.120 especialistas internacionais, entre chefs, jornalistas, sommeliers e viajantes gastron&ocirc;micos, divididos em 28 regi&otilde;es e com paridade de g&ecirc;nero. A auditoria &eacute; feita pela consultoria independente Deloitte, que garante a integridade e a transpar&ecirc;ncia do processo. O ranking faz parte de uma fam&iacute;lia maior de eventos e plataformas, como o Asia&rsquo;s 50 Best, Latin America&rsquo;s 50 Best, The World&rsquo;s 50 Best Hotels, Bars e a s&eacute;rie de debates #50BestTalks.

The World’s 50 Best Restaurants em Turin | 50 Best

O objetivo do 50 Best vai al&eacute;m da celebra&ccedil;&atilde;o dos melhores: &eacute; promover a colabora&ccedil;&atilde;o, a inclus&atilde;o e a descoberta, ajudando a impulsionar mudan&ccedil;as positivas no setor da hospitalidade. Escolher o Piemonte como sede da edi&ccedil;&atilde;o de 2025 n&atilde;o foi acaso. A regi&atilde;o no noroeste da It&aacute;lia &eacute; ber&ccedil;o de tradi&ccedil;&atilde;o, inova&ccedil;&atilde;o e produtos que moldaram o paladar europeu: das trufas brancas de Alba aos queijos artesanais, dos vinhos &agrave;s pequenas trattorias familiares. Turim, sua capital, mistura passado industrial com efervesc&ecirc;ncia criativa, sendo reconhecida como Cidade Criativa do Design pela UNESCO desde 2014. Com lagos, montanhas e paisagens rurais, o Piemonte &eacute; destino para o ano todo - e para qualquer apetite.

A região do Piemonte  | Divulgação

Enquanto os holofotes se voltam para Lima, Bangkok ou Atxondo, &eacute; em Turim que a gastronomia se reuniu para brindar n&atilde;o apenas ao que &eacute; melhor, mas ao que &eacute; significativo. E que o Maido, agora no topo do mundo, simboliza justamente isso: uma cozinha que honra a tradi&ccedil;&atilde;o sem deixar de mirar o futuro.

Os melhores restaurantes do mundo em 2025: uma noite em Turim com a nata da gastronomia

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