No restaurante CODA, em Berlim, a alta gastronomia ganha uma nova linguagem, onde o doce e o salgado se dissolvem em um menu que desafia conven&ccedil;&otilde;es.

Fui a <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/rodrigo-santoro-representa-o-brasil-no-festival-de-berlim-2025">Berlim</a> com um objetivo claro: experimentar a cozinha de Ren&eacute; Frank no restaurante CODA. Ao acessar o perfil do restaurante no <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/meghan-markle-retorna-ao-instagram-apos-7-anos-afastada-das-redes">Instagram</a>, me deparei com a descri&ccedil;&atilde;o "progressive dessert" e fiquei intrigado. O que isso realmente significava? Foi conversando com o chef que compreendi seu conceito de cozinha "n&atilde;o bin&aacute;ria", algo que reflete perfeitamente a ess&ecirc;ncia de Berlim. O nome CODA remete &agrave; m&uacute;sica, indicando um encerramento marcante. Mas no restaurante, ele n&atilde;o significa apenas um fim, e sim uma transforma&ccedil;&atilde;o cont&iacute;nua, uma experi&ecirc;ncia culin&aacute;ria que transcende fronteiras. O CODA &eacute; um espa&ccedil;o onde os pratos s&atilde;o inspirados na confeitaria, mas v&atilde;o al&eacute;m das sobremesas, explorando sabores de maneira ousada e inesperada.

O chef René Frank (Foto: Claudia Goedke)

Ao chegar, n&atilde;o h&aacute; sinais evidentes de que ali funciona um restaurante duplamente estrelado. Sem placas do Michelin ou 50 Best na fachada, o espa&ccedil;o preserva um ar de discri&ccedil;&atilde;o. Tocamos a campainha, como se f&ocirc;ssemos convidados para um segredo bem guardado. E, de certa forma, &eacute; isso que o CODA representa: um segredo compartilhado entre aqueles que est&atilde;o dispostos a explorar o desconhecido. Aqui Ren&eacute; Frank brinca com a estrutura, texturas e ingredientes cl&aacute;ssicos da p&acirc;tisserie para criar algo novo. N&atilde;o h&aacute; distin&ccedil;&atilde;o entre pratos salgados e doces, apenas uma jornada gustativa sem barreiras, uma dan&ccedil;a entre umami, acidez, do&ccedil;ura e textura. Berlim &eacute; uma cidade de vanguardas, de contradi&ccedil;&otilde;es, de experimenta&ccedil;&atilde;o. Ren&eacute; Frank desafia a l&oacute;gica tradicional da alta gastronomia com uma postura destemida, quase subversiva, mas sem jamais perder o refinamento.

O ambiente do CODA em Berlim (Foto: Divulgação)

Minha experi&ecirc;ncia come&ccedil;a com uma bala de beterraba, uma explos&atilde;o de sabor. Em seguida, um "beefcake" preparado com tutano e batata-doce, onde a aus&ecirc;ncia de do&ccedil;ura ressalta a profundidade dos ingredientes. O brioche com Gouda revela o apre&ccedil;o do chef por queijos, um elemento recorrente ao longo do menu. O "Carrot &amp; Green" traz gengibre e iogurte desidratado, contrastando texturas. Logo depois, a berinjela aparece em uma vers&atilde;o inesperada, combinada com noz-pec&atilde; e bals&acirc;mico de ma&ccedil;&atilde;, um prato de complexidade fascinante.

A alface explosiva acompanhada de picles de pepino e cream cheese (Foto: Divulgação)

A sequ&ecirc;ncia continua com uma alface explosiva acompanhada de picles de pepino e cream cheese, genial. O waffle de raclette transporta o chef para mem&oacute;rias de inf&acirc;ncia, trazendo conforto e nostalgia. Em seguida, o picol&eacute; de caviar com alcachofra e noz-pec&atilde;, uma assinatura do CODA, sintetiza a sofistica&ccedil;&atilde;o do restaurante. Tomates deliciosos com macad&acirc;mia e sobrasada adicionam camadas de sabor inesperadas. Depois, o queijo Mimolette encontra a salinidade da alga Wakame e a do&ccedil;ura sutil do damasco, criando um jogo de contrastes marcante.

O picolé de caviar, uma assinatura do CODA (Foto: Divulgação)

A sequ&ecirc;ncia segue com um grissini desconstru&iacute;do, que na verdade n&atilde;o &eacute; um grissini, e sim um experimento com pele de porco que desafia a percep&ccedil;&atilde;o do que conhecemos. O chocolate crocante, feito com cacau do Equador, tem um acabamento impec&aacute;vel e nos leva at&eacute; a cozinha para testemunhar sua execu&ccedil;&atilde;o meticulosa. A experi&ecirc;ncia se encaminha para o final com um prato de raiz de salsa, que talvez tenha sido o momento menos impactante do menu.

Tomates com macadâmia e sobrasada (Foto: Divulgação)

Uma outra particularidade do CODA &eacute; sua abordagem em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s bebidas. Os drinks n&atilde;o s&atilde;o apenas acompanhamentos, mas sim extens&otilde;es do pr&oacute;prio prato. As doses s&atilde;o pequenas, geralmente 20 ml, equilibrando cada prato sem sobrecarregar o paladar. H&aacute; um momento no menu chamado "wine break", uma pausa onde os vinhos entram em cena para fazer a transi&ccedil;&atilde;o entre os pratos e real&ccedil;ar novas camadas de sabor.&nbsp;

O que me impressionou em Ren&eacute; Frank, al&eacute;m da sua obsess&atilde;o pela precis&atilde;o, foi sua postura. H&aacute; algo quase an&aacute;rquico em sua abordagem: ele desafia r&oacute;tulos, questiona tradi&ccedil;&otilde;es e prop&otilde;e um novo jeito de pensar. Ele &eacute; um criador inquieto, que constr&oacute;i e desconstr&oacute;i conceitos com precis&atilde;o matem&aacute;tica. A experi&ecirc;ncia no CODA &eacute; um convite para aqueles que querem ser surpreendidos. &Eacute; um lugar onde o inesperado &eacute; a &uacute;nica certeza, onde o sabor guia e a criatividade reina. E, nesse contexto, Ren&eacute; Frank se consolida como um pensador gastron&ocirc;mico, algu&eacute;m que, em cada prato, nos faz questionar o que realmente entendemos sobre comida.

A cozinha não binária de René Frank

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