Mago dos Contrastes: entrevista exclusiva com Gherardo Felloni
Para fashionistas de “memória afetiva” apurada, o slide de pelúcia e pérola apresentado no inverno 2016 da Miu Miu é uma referência e tanto de desejo. E, não à toa, um dos nomes por trás desse verdadeiro hit – que agora é item permanente nas butiques da marca – é Gherardo Felloni, especialista no quesito “seja cool e muito chique ao mesmo tempo”. O italiano, que já esteve sob o mesmo teto que Miuccia Prada e trabalhou no comando do ateliê de calçados da Dior durante as eras John Galliano e Raf Simons, aposta na estética que destaca perfumes boudoir, vintage e aquela certa referência de luxo aristocrático. Nada careta e com um resgate forte de feminilidade e modernidade, sempre na medida perfeita para tornar cada item, seja bolsa ou sapato, um verdadeiro tesouro. Hoje, como diretor criativo da Roger Vivier, após o legado de 16 anos de Bruno Frisoni, o designer investe suas fichas em coleções que carreguem inspirações artísticas, inspiradas na ópera – ele é tenor também! – ou no cinema, com musas que dão sequência aos olhares do próprio monsieur Vivier, que elegeu Inès de La Fressange como ícone de estilo para representar o lifestyle da label.
Em entrevista exclusiva, Gherardo conta sobre suas experiências e sua relação com o design e o décor. Afinal, ele é do tipo que, da mesma forma que consegue criar um calçado de deixar qualquer shoeholic suspirando, é capaz de decorar uma casa com uma mistura de influências sem limite.
L’OFFICIEL Você se lembra exatamente quando começou a ser atraído pelo design e por que decidiu trabalhar com sapatos?
GHERARDO FELLONI Foi natural para mim. Eu venho da Toscana, de uma pequena cidade onde minha família é dona de um ateliê de sapatos de luxo. Lá, aprendi todos os detalhes e o conhecimento técnico em design de calçados com meu pai e meu tio.
L’OFFICIEL Quando fez seu primeiro par de sapatos?
GF Não me lembro exatamente quando, mas sei que era um par de sapatos brilhantes com salto coberto de cristais Swarovski.
L’OFFICIEL Que linhas estéticas são suas favoritas?
GF Adoro cores, contraste e detalhes que tornam algo extraordinário.
L’OFFICIEL Qual é a memória mais interessante sobre seu relacionamento com a moda? Tem alguma história para contar?
GF Uma lembrança interessante é quando Catherine Deneuve me ofereceu um cigarro enquanto filmamos o filme de Natal de Roger Vivier no ano passado, Duo des Chats.
L’OFFICIEL Você é um italiano na França. Quais são as raízes italianas que você traz durante o trabalho?
GF Meu bom senso de humor e minha capacidade de resolver problemas de maneira mais flexível, o que eu acho que é uma característica muito italiana.
L’OFFICIEL Se você pudesse viver em uma década diferente, qual escolheria?
GF Eu amo épocas diferentes, mas, se tivesse que escolher uma, seria a década de 1960.
L’OFFICIEL Eu sei que você é muito talentoso quando falamos de decoração. Gosta de aplicar sua visão de design de diferentes maneiras?
GF Eu acho que um bom designer alcança o equilíbrio entre a criatividade e a realidade, atento ao mundo ao seu redor. Quando se trata da minha paixão pelo design e pela arquitetura de interiores, são estas inspiram a forma e as proporções dos meus projetos.
L’OFFICIEL Gostaria de saber mais sobre sua colaboração com Ines de la Fressange. Como ela o inspira?
GF Temos um relacionamento incrível e muito amigável. Ela é um ícone da moda, embaixadora da maison e uma boa conselheira por causa de seu conhecimento de Roger Vivier e moda.
L’OFFICIEL Conte mais sobre o seu primeiro dia como o novo diretor de criação da Roger Vivier!
GF Foi muito emocionante, como todos os primeiros dias de trabalho em uma nova maison. Também fiquei muito empolgado e surpreso ao descobrir os arquivos. Eles eram mais vastos do que eu imaginava!
L’OFFICIEL Que características você tem em comum com o senhor Vivier?
GF Nosso senso de humor, nosso amor pela diversidade e nossa paixão pelas artes.
L’OFFICIEL E esse novo momento da marca? O que você acha que mudou desde que começou?
GF Há mais atenção agora à nova geração e à atração de novos públicos. É por isso que os projetos de mídia social são importantes e recebem muita ênfase. Estou bem animado por poder tornar a maison contemporânea e ajudar a continuar seu legado na moda. É uma grande honra!
L’OFFICIEL Quais são os achados que você encontrou nos arquivos da marca?
GF Os arquivos são sempre uma fonte de inspiração, mas não há apenas uma referência. Por exemplo, no meu primeiro tênis de corrida, me inspirei no calcanhar Choc, criado em 1959. Na última temporada, foi o salto Polichinelle, criado em 1960, que inspirou meus sapatos Courbette. E, para a nova coleção primavera/ verão 2020, foi a coroação: sapatos criados para a rainha Elizabeth II, em 1953, que inspiraram minhas novas sandálias Vivier Queen.
L’OFFICIEL Eu estava no Hotel Vivier há um ano e foi uma experiência incrível. Amei um espaço com um cantor de ópera. Como você se relaciona com esse tipo de música? Tem alguma experiência como cantor?
GF Sim, sou tenor e meu amor por ópera e teatro sempre serve de inspiração.
L’OFFICIEL Antes de Roger Vivier, quais experiências profissionais foram importantes para você?
GF O meu tempo na Miu Miu e na Dior. Monsieur Vivier também colaborou com Christian Dior e isso é outra coisa que compartilhamos.
L’OFFICIEL Em termos de sapatos e bolsas, o que você acha que toda mulher precisa e quer em seu guarda-roupa?
GF Os guarda-roupas das mulheres, para mim, devem ser uma mistura eclética de estilos opostos. Dessa forma, eles podem resultar em coisas diferentes, como um par de sapatos muito esportivos com um vestido de alta-costura.