Fernanda Motta sobre carreira após os 30: “Novas possibilidades”
Bela como nunca, Fernanda Motta usa jóias Bvlgari em ensaio com looks de volumes fluidos e vaporosos
Fernanda Motta foi descoberta por acaso – um agente a viu na praia, em Guarapari (ES), aos 16 anos. Nessa idade, ela queria ser arquiteta, desenhava desde pequena e até concluiu um curso técnico de edificações. “Não segui a profissão, mas meu olhar continua curioso para arquitetura, para o paisagismo. Continuo curiosa por aquilo que me interessa, não deixar de apreciar arte, arquitetura, design”, conta ela. E lá se vão quase 30 anos de carreira. De lá para cá, ela foi considerada uma das mulheres mais sexy do mundo, viajou o planeta, descobriu a paixão pela comunicação, se aventurou nos negócios gastronômicos. E ainda revela que muito da sua força vem da família linda que construiu e da fé, que a ajudou a vencer um câncer de mama. A seguir, ela fala do poder feminino, do legado da profissão de modelo e do mundo que quer deixar para sua filha, Chloe:
L’OFFICIEL Como a profissão de modelo moldou sua autoestima e autoconfiança?
FERNANDA MOTTA Foi um processo. Levou tempo para eu ter mais autoconfiança e entender que todos os “não” recebidos se tornam depois importantes para seu próprio crescimento. Comecei muito nova, aos 16 anos, então logicamente não foi fácil e simples lidar com a dinâmica da profissão. Ao mesmo tempo, sempre fui muito encorajada pela minha família. O apoio dos pais e de pessoas próximas que são confiáveis nesse processo é fundamental.
L’O Quem eram suas musas?
FM No começo da minha carreira, me lembro muito do termo Big Six (criado para nomear as modelos que mais se destacavam naquela época, nos anos 1990), sendo oficialmente reconhecidas como supermodels: Cindy Crawford, Christy Turlington, Claudia Schiffer, Kate Moss, Linda Evangelista e Naomi Campbell. Elas estavam em ascensão, paravam o mundo, e, claro, eram inspiração para nós, modelos.
L’O Quais os três maiores ensinamentos da profissão de modelo que traz com você até hoje? Tem amigas dessa fase? Quem são?
FM São muitos! Autoconfiança, persistência, resiliência são atributos para qualquer profissão, se você parar para pensar. As conexões também são importantes. Até hoje convivo com modelos que se tornaram amigas da vida: Alessandra Ambrósio, Ana Beatriz Barros, Isabeli Fontana, e todas nós continuamos em nossas profissões, nos encontrando na vida pessoal e no trabalho.
L’O Há alguns anos, ser modelo acabava aos 30. Você acha que hoje isso não acontece mais?
FM Os tempos são outros, tudo mudou, são novas possibilidades. As redes sociais trouxeram novos formatos de trabalho. A idade não é mais uma barreira tanto para começar como para encerrar, a profissão vai além da passarela, da capa de revista, da campanha publicitária. E cada vez mais é necessária mais diversidade nas passarelas. Mas é importante frisar que não, ainda não chegamos lá. O caminho ainda é grande, estamos a passos lentos, e isso levanta uma discussão interessante para ver novos rostos, corpos e gêneros, uma verdadeira e significativa diversidade nas passarelas.
L’O Apresentadora e empresária: essas profissões vieram como uma evolução natural da experiência nas passarelas e fotos?
FM Sim, se tornaram complementares. Em 2007, recebi um convite irrecusável da Sony: apresentar o reality show Brazil’s Next Top Model, versão brasileira de America’s Next Top Model. Foram várias temporadas ao lado de uma turma incrível: Erika Palomino, Alexandre Herchcovitch e Paulo Borges. A partir dessa experiência, me descobri comunicadora, e hoje é o que mais amo fazer. Conheci muitas pessoas fundamentais, uma delas foi o Faustão. Ele foi o meu padrinho para outro desafio como apresentadora, me deixou apresentar o quadro “Dança da Galera” no Domingão do Faustão, em 2013. Nos negócios, por incentivo do meu marido [o empresário Roger Rodrigues], comecei a acompanhá-lo em reuniões e ajudar com palpites e decisões em seus empreendimentos [hoje os maiores são os restaurantes Ma- koto, Caviar Kaspia, L’Avenue e Kotchi]. Eu gosto muito, me interesso bastante e dou palpite em tudo: na decoração, na iluminação, no cardápio, dou muitas ideias.
L’O Gosta de cozinhar? O que a levou a se aventurar no campo da gastronomia?
FM Cozinho pouco, sei fazer o básico para sobrevivência da casa (rs). Por trabalhar com empreendimentos de gastronomia, deveria saber cozinhar mais, mas sou melhor em gerenciar mesmo (rs).
L’O Você se casou cedo… A vida a dois foi um impulso para crescer profissionalmente também? E ser mãe, mudou sua visão de mundo?
FM Sou casada há 24 anos [com o empresário Roger Rodrigues]. Nossa história é linda, nos conhecemos muito novos, praticamente adolescentes, e crescemos juntos em nossas profissões. Ele é o meu maior incentivador, orgulhoso da minha carreira. E, graças a ele, pude chegar até aqui, por sempre ser um marido presente, companheiro. A nossa vida mudou a partir do nascimento da Chloe. Nasce um f ilho, nasce uma mãe, nasceu um pai de verdade. É difícil imaginar a nossa vida sem a nossa f ilha. Chloe é muito companheira também, gosta da nossa companhia. A maternidade me transforma todos os dias, ela muda minha vida todos os dias, me ensina, me coloca no eixo, é um amor imensurável. Graças a ela descobri o que é ser feliz.
L’O Qual considera ter sido o maior desafio da sua vida?
FM Todos nós temos momentos desafiadores na carreira e na vida. Passei por um diagnóstico de câncer e me curei, um processo doloroso, e consegui seguir e me manter firme para passar por tudo…
L’O Como você encarou o diagnóstico e o tratamento de câncer de mama? Qual foi sua estratégia para vencer essa fase?
FM Em um domingo de agosto em 2019, antes do banho, enquanto me preparava para almoçar fora, notei um caroço diferente na minha mama esquerda durante um exame de toque rotineiro. Observar o meu corpo é um hábito que eu mantenho há muito tempo. Sempre me cuidei e, mesmo durante os 13 anos em que morei em Nova York, fazia check-ups regulares quando retornava ao Brasil.
Prática e precavida que sou, fui fazer uma avaliação já na segunda-feira e, assim que recebi o diagnóstico de câncer de mama, agendei o início do tratamento. Em dez dias, eu já estava fazendo a primeira sessão de quimioterapia. Foram 14 no total, mais quatro meses de químio oral e, depois, a mastectomia. Em todo o processo, são vários momentos delicados, difíceis, de incertezas, mas nunca deixei que a doença me tomasse completamente, nunca passou pela minha cabeça que seria o fim da linha. Foi o mesmo com a minha autoestima. Além do tratamento, a cirurgia de retirada da mama me deixou mais fragilizada. A cirurgia abala, claro, e se você deixar se torna um f luxo muito delicado de pensamentos e baixa autoestima. Tentei seguir sendo a mulher que já era, com minhas vaidades e desejos. Depois que anunciei o meu tratamento, no início de 2020, recebi inúmeras mensagens de apoio ou relatos de mulheres que se identificaram com a situação. Estou sempre aberta e receptiva para falar a respeito, para desmistificar a palavra câncer e falar mais sobre a importância do autoexame e de se manter positiva. A cabeça manda no corpo também. A fé é muito importante, ela ajuda muito na cura. É preciso tentar se manter firme e ter um grande desejo de vencer. Se Deus quiser, isso vai acontecer.
L’O E depois, como essa experiência mudou você?
FM Digo que eu tive uma segunda chance, e hoje levo a vida de forma diferente. Acredito que tudo aconteceu comigo porque Deus me deu essa ferramenta, uma coisa que eu já usava sem saber: minha imagem, minha vida. Logo eu, que trabalho com beleza e pessoas jovens, apareci com a doença e vivi da melhor maneira possível dentro do meu quadro. Independentemente da sua crença, ter fé é muito importante.
L’O Quais bandeiras você levanta? Que mundo gostaria de deixar para a Chloe?
FM Como mulher e mãe, é muito importante a gente ter consciência do nosso valor e poder perante o mundo. E o nosso poder só aumenta com mais conhecimento. Nós, mulheres, somos inspiração para nós mesmas. Precisamos dialogar, aprender umas com as outras e estender a mão. E essa força feminina precisa vir de casa, mais cedo, estimulada nas escolas. Quero que a minha f ilha seja uma mulher forte, livre, feliz, entendendo a importância desses valores desde sempre.
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