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Montblanc: Juliana Pereira fala sobre sua trajetória até a marca

Juliana Pereira, managing director da Montblanc no Brasil – e primeira brasileira a ocupar esse cargo – em entrevista exclusiva a L’Officiel Brasil

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Juliana Pereira - Foto: Igor Kalinouski.

Juliana Pereira, managing director da Montblanc no Brasil – e primeira brasileira a ocupar esse cargo – fala sobre sua trajetória no mercado de luxo e da importância de contar histórias. Confira!

Se há 20 anos você perguntasse a Juliana Pereira se ela imaginava que seria a brasileira no posto de managing director da Montblanc no Brasil, ela provavelmente diria não. “Minha ideia não era atuar no mercado de luxo… O plano inicial era trabalhar com letras, com palavras, ser escritora”, conta ela, que se formou em Letras, na USP, e começou a fazer traduções para se manter. “Esse era o meu plano infalível, aos 17 anos. E aí a vida foi acontecendo.” Juliana dava aulas de inglês para crianças e adolescentes, tinha facilidade com línguas. E foi o que a levou a trabalhar no universo de alimentos e vinhos importados. “Entrei no departamento de compras e importação da Expand e tinha contato direto com os fornecedores de alimentos premium do Empório Santa Maria”, conta ela. Nascia ali uma paixão pela gastronomia e pela enocultura. Juliana então abandonou a segunda faculdade, de Tradução, e se manteve só em Letras. “O plano ainda era escrever, mas fui me apaixonando demais por vinho e passei a estudar. A Expand na época tinha um programa chamado Wine Education. A ideia era democratizar o vinho – e deu supercerto”, lembra. Em dez anos de casa, além dos cursos internos de aperfeiçoamento, fazia degustações verticais com os produtores e os acompanhava nas viagens que eles faziam ao Brasil. “E, assim, fui para um lado que era menos técnico, de compra, e mais de relacionamento, de gestão de produto. Tive a oportunidade de crescer nessa área, muito ligada no Velho Mundo. Na época, a comunidade europeia estava muito focada nos Brics, e o Brasil estava no auge.” Surgiu uma oportunidade de ir para a Itália, a fim de desenvolver projetos de fomento das marcas europeias de vinho para o Brasil, e em um mês ela estava morando lá. “Foram quase três anos e meio. Eu morava em um vilarejo de 5 mil habitantes chamado Montebello Vicentino, perto de Verona. O escritório era em um prédio de três andares – e eu morava no primeiro andar. Para quem saiu de São Paulo, essa pausa foi um abre-olhos: havia outra forma de existir, em outro ritmo. Essa época na Itália me ensinou muito isso: o ócio criativo é necessário. Você precisa de pausas para poder ser mais ativo, mais criativo. Nessa época eu estava bem focada em vinho, um produto que tem muito a ver com prazer, com socialização, com celebração. Aqui nas Américas, ele é uma bebida alcoólica, enquanto na Europa é um alimento. É um produto apaixonante, não à toa se tornou meu hobby.”

 

Morando lá, fez ótimos amigos. Mas resolveu voltar, ainda a convite da Expand, para assumir o marketing, a comunicação e a gerência de produtos. “Eu saí de casa cedo, aos 18 anos. Meu pai é de Pernambuco e a família da minha mãe é do interior de São Paulo. Já tinha uma experiência em Nova York para estudar. Eu queria voltar e fazer a minha história no Brasil.”

Depois de dez anos no segmento de vinhos, Juliana decidiu sair da zona de conforto. “Sou uma pessoa de ciclos longos. Mas era hora de mudar. E, então, fui chamada por um ex-colega de Expand para uma vaga na Montblanc. Mas ela era muito ligada a planejamento, compras e supply. Aí eu pensei bem: é essa a marca, esse, o segmento, mas essa não é a posição. Disse não, e em uns seis meses, até menos, surgiu uma vaga de marketing.” Isso foi há 13 anos. A seguir, ela conta mais sobre a história que vem escrevendo na Montblanc, hoje como CEO da marca no Brasil.

 

L’OFFICIEL: Você disse ser uma pessoa de ciclos longos. Como analisa sua trajetória na Montblanc? 

JULIANA PEREIRA Desde a minha entrada até a compra da subsidiária, de dois em dois anos, eu tive uma grande mudança dentro da mesma empresa. Não senti esse tempo passar. Em 2017, inquieta, me dediquei a fazer o e-commerce da Montblanc no Brasil. Foi um ótimo timing, a gente não sabia da pandemia, mas… Foi o primeiro e-com da Richemont no Brasil. O grupo toma muito cuidado ao entrar em projetos novos, principalmente de tecnologia. E aí foi! Veio a pandemia, e conseguimos ser bem resilientes, ter um método de venda remoto, não ficamos um dia na verdade sem faturar. E nossos vendedores da loja conseguiam fazer venda assistida pelo site. Então eles também não ficaram sem trabalhar e sem faturar. Depois, outras marcas do grupo fizeram também. Eu tenho orgulho disso, porque, se o grupo cresce, nosso negócio cresce. E, de verdade, a Montblanc se reinventou nos últimos 15 anos. Ela era uma marca de instrumentos de escrita e se tornou uma marca de estilo de vida, de lifestyle. E não só com discurso, storytelling, mas com produtos, com uma entrega de valor. Não só diversificando a forma que a gente se relaciona com o cliente – seja em ter um e-commerce e ferramentas de omnichannel para facilitar o dia a dia e tudo, mas também com as escolhas que a marca tem feito.

 

L’O Os instrumentos da escrita de novo na sua vida… 

JP Sim! Temos levantado muito a bandeira da cultura da escrita, de quanto isso é parte da história da humanidade, quanto a nossa evolução como seres humanos, como comunidade, como humanidade, passa pela escrita. Muita gente ainda não sabe, mas a Montblanc é alemã. E a Montblanc Haus fica em Hamburgo, na frente da nossa sede. São 4 mil metros quadrados de experiência interativa e de homenagem à escrita, à palavra, em todas as suas formas. É uma atração turística aberta ao público, porque a gente também tem essa missão de inspirar a escrita. Tanto que o nosso tagline é Inspire Writing. É mais do que ter um produto para isso. É inspirar para que as pessoas façam isso, para que as pessoas continuem escrevendo à mão e colocando um pedaço de si naquele papel. Porque hoje em dia a gente está sempre com pressa, correndo, manda uma mensagem, manda um áudio. A hora que você para, pega uma caneta, um papel, escreve, que seja uma frase, uma palavra, tem um pedaço seu ali.

 

L’O Você é a quinta mulher a assumir a direção da marca em um país. Quais os desafios?

JP É uma área muito competitiva. Mas quando você demonstra que pode ser competitiva, mas com uma delicadeza ou com uma gentileza mesmo, isso pode incomodar ou passar certa fragilidade. Então, em alguns momentos eu tenho que deixar um pouco de lado a Juliana gentil que eu sou no meu dia a dia e ser mais assertiva, mais clara, mais direta. Eu acho que também tem um ponto do ser latino-americano e de lidar com o europeu. Eles também são muito diretos, principalmente no mundo dos negócios. Aprendi a separar: aqui é trabalho, eu vou ser direta, clara, e vou entregar o que é esperado, mas sem perder a minha essência, essa coisa da latinidade que é o nosso diferencial. Hoje, o serviço das nossas lojas, o atendimento do nosso público, a gente tem a avaliação mais alta do global. Tem essa coisa da pessoa, do humano, do trato. A dor e a delícia de ser latino-americana. E a mulher, no mundo corporativo, tem que se provar mais.

 

L’O Como é que você lida com o tempo e com o passar dele? 

JP Quanto mais experiente, mas eu lido melhor com o meu tempo, eu acho. Porque quando mais jovem eu lembro de estar sempre correndo, achando que eu não tinha tempo para nada. De um tempo para cá, tenho tido mais calma para fazer as coisas. Parei de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Tenho meus momentos sem tela… E essa sabedoria veio para a carreira também. Descobri que a gente não faz nada sozinha. Reconhecer isso e estar de bem com isso, pedir ajuda, ter aliados, é maravilhoso. É dividir um pouco esse peso. Você precisa de aliados, de amigos, de amigas, da família, da parceria. Ter sua equipe e poder contar com as pessoas. Uma das coisas que me fizeram aceitar esse cargo rapidamente foi conhecer a equipe que eu teria. Isso me deixou muito mais segura. E voltando para o tempo: tem muito essa cultura do faça na hora, resolva na hora e tal. Eu não sou a favor de procrastinar, mas eu não gosto de fazer as coisas muito no impulso. Gosto de ter o meu tempo para analisar a situação, mesmo que sejam cinco minutos. Olhar de outro ângulo, pedir a opinião de uma outra pessoa, sair para tomar um copo de água, um café e depois mandar um e-mail. Eu acho que isso já me ajudou a tomar boas decisões. Acho que o tempo, se a gente souber usar, pode ser nosso parceiro.

 

L’O E o que gosta de fazer no seu tempo livre? 

JP Um hobby meu, desde sempre, desde bem novinha, é fazer trilha. Estar no meio da natureza me tira dessa loucura do dia a dia. Já viajei o Brasil quase todo: Pantanal, Amazônia, todas as Chapadas. O Brasil tem uma diversidade de pássaros que é incrível. E tem uma comunidade de birdwatching que é uma coisa, assim, bem de geek. As cores incríveis, o canto, a liberdade de poder voar me dá uma paz, me tira da rotina do dia a dia. Sou uma birdwatcher amadora. Tenho até binóculo.

L’O Um pouco birdwatching, um pouco mercado de luxo? 

JP Acho que os opostos se equilibram e me põem centrada. Eu sou uma profissional no mercado de luxo, mas não sou cliente-alvo. Eu acho que isso é muito importante para me manter no centro. Ele é uma parte da minha vida, mas não é a minha vida toda.

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Juliana Pereira - Foto: Igor Kalinouski.

L’O E para a gente fechar: quando você ganhou seu primeiro relógio e a sua primeira caneta importante? 

JP O relógio eu ganhei dos meus pais. Foi de formatura. Um Orient, de mostrador azulzinho, tenho até hoje. Depois teve um superimportante para mim, que ganhei dos meus amigos da Itália, um Tissot. E, claro, o meu Montblanc Bohème, que me dei de presente e marca essa década na empresa. E canetas? Quando fui para os Estados Unidos estudar, a gente não tinha WhatsApp. Tinha que escrever cartas para os meus pais, para os meus amigos. No dia em que eu cheguei lá, fui a uma Newark e tinha um quiosque de coisinha stationery – comprei uma caneta lá. De tinta roxa. Naquele ano, eu escrevi até acabar a tinta daquela caneta. E, óbvio, a minha primeira Montblanc: escolhi uma que tinha um diamante, em comemoração aos 100 anos da marca, lançada em 2006, com a lapidação do nosso emblema da estrela em forma de diamante. Comprei quando completei dez anos de carreira na Montblanc.

FOTOS: IGOR KALINOUSKI.

TEXTO: KARINA HOLLO.

STYLIST: MARCIO VICENTINI.

ASSISTENTE DE STYLIST: FLAMINIO VICENTINI.

MAKE: RAUL DE MELO.

ASSISTENTE DE MAKE: ELDER BERGAMO BOTTEON.

ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: VICTORIA CAVALCANTE.

PRODUÇÃO EXECUTIVA: ALESSANDRA DELLA ROCCA.

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