O rec&eacute;m-inaugurado restaurante FZN do chef sueco Bj&ouml;rn Frantz&eacute;n apresenta uma experi&ecirc;ncia imersiva que o coloca como um dos melhores fine dining da cidade.

<a href="https://www.revistalofficiel.com.br/viagem/dubai-guia-de-viagem-por-fernando-bento">Dubai</a> &eacute; uma cidade onde tudo parece querer ser o maior, o mais caro, o mais vistoso. Mas h&aacute; experi&ecirc;ncias que impactam justamente pelo oposto: pelo sil&ecirc;ncio, pela precis&atilde;o, pelo dom&iacute;nio absoluto do tempo e da t&eacute;cnica. Foi exatamente isso que vivi no FZN, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/gastronomia/temple-chapon-um-jantar-entre-paris-e-nova-iorque">restaurante</a> rec&eacute;m-inaugurado no impressionante hotel Atlantis, The Palm, mas que j&aacute; &eacute;, sem exagero, o melhor fine dining da cidade. Trata-se do novo projeto do chef sueco Bj&ouml;rn Frantz&eacute;n, um dos nomes mais respeitados da gastronomia contempor&acirc;nea. Criador do restaurante triplamente estrelado Frantz&eacute;n, em Estocolmo, e do Z&eacute;n, em Singapura (tamb&eacute;m tr&ecirc;s estrelas), Frantz&eacute;n &eacute; hoje sin&ocirc;nimo de uma culin&aacute;ria ultra-refinada que mescla a base t&eacute;cnica francesa, ingredientes e sabores n&oacute;rdicos, e influ&ecirc;ncias asi&aacute;ticas.

O salão do primeiro andar do FZN | Divulgação

O FZN, seu primeiro restaurante de alta gastronomia no Oriente M&eacute;dio, d&aacute; sequ&ecirc;ncia a esse legado, ao mesmo tempo que apresenta uma nova camada de complexidade: o di&aacute;logo com os ingredientes e a cultura da regi&atilde;o. A experi&ecirc;ncia no FZN n&atilde;o come&ccedil;a com um prato, mas com um gesto. O cliente &eacute; recebido em uma sala de estar elegante, onde canap&eacute;s delicados s&atilde;o servidos como prel&uacute;dio. O ambiente lembra uma casa escandinava com toques japoneses: madeira clara, ilumina&ccedil;&atilde;o suave, arte sutil. Em seguida, um tour guiado apresenta os espa&ccedil;os, como se o cliente fosse um convidado pessoal do chef. S&oacute; ent&atilde;o come&ccedil;a o jantar, servido na sala principal com a cozinha aberta acontecendo.

Lagostim sobre arroz koshihikari | Divulgação

O menu degusta&ccedil;&atilde;o &eacute; uma sequ&ecirc;ncia po&eacute;tica e calculada. H&aacute; t&eacute;cnica, beleza e emo&ccedil;&atilde;o em cada prato. E um detalhe faz toda a diferen&ccedil;a: o servi&ccedil;o &eacute; feito pelos pr&oacute;prios cozinheiros. Quem executa o prato &eacute; quem o apresenta. Isso cria uma conex&atilde;o direta com a cria&ccedil;&atilde;o e refor&ccedil;a o senso de ritual e cuidado. Cada etapa do jantar &eacute; um microcosmo de texturas e sabores. O taco de crust&aacute;ceo com aipo-r&aacute;bano e laranja &eacute; uma explos&atilde;o c&iacute;trica e cremosa. O crudo de toro com nabo japon&ecirc;s, morango fermentado e &oacute;leo de caf&eacute; &eacute;, talvez, o prato mais ousado da noite, equilibrando dul&ccedil;or, acidez, gordura e um toque tostado. A lagostim sobre arroz koshihikari com gengibre oferece conforto e densidade. O chawanmushi com caldo de carne defumado e caviar da casa &eacute; um abra&ccedil;o quente com final salino. Ainda v&ecirc;m o monkfish com beurre blanc de a&ccedil;afr&atilde;o, espinheiro-mar&iacute;timo e ikura, a french toast com trufa, queijo e bals&acirc;mico envelhecido, e sobremesas como o marshmallow gelado de lim&atilde;o com coco e capim-lim&atilde;o, a tarte tatin com ma&ccedil;&atilde;, louro e ch&aacute;, e os petit fours, incluindo madeleines de miss&ocirc;.

Taco de crustáceo | Divulgação

A carta de vinhos &eacute; monumental: s&atilde;o mais de 1.300 r&oacute;tulos de 15 pa&iacute;ses, incluindo vinhos raros, pequenos produtores e estreias em Dubai. A op&ccedil;&atilde;o n&atilde;o alco&oacute;lica &eacute; um espet&aacute;culo &agrave; parte: traz composi&ccedil;&otilde;es como melancia com manjeric&atilde;o tailand&ecirc;s e pimenta verde, pera oxidada com sobacha e ch&aacute; dong ding, infus&atilde;o de cogumelo porcini com uva-passa e manteiga dourada. Tudo pensado para ser t&atilde;o complexo quanto o menu.

O ambiente do restaurante | Divulgação

O design do restaurante compartilha o mesmo DNA de suas casas irm&atilde;s em Estocolmo e Singapura: formas org&acirc;nicas, luz controlada, uma beleza quase meditativa. A playlist, com 300 m&uacute;sicas escolhidas pelo pr&oacute;prio Bj&ouml;rn, cria uma atmosfera &iacute;ntima, sofisticada e levemente melanc&oacute;lica. Bj&ouml;rn Frantz&eacute;n &eacute; um arquiteto de atmosferas. Ex-jogador de futebol, autodidata, ele abriu o Frantz&eacute;n em 2008 e logo conquistou sua primeira estrela Michelin. Em 2020, abriu a brasserie Astoria em Estocolmo. Neste ano, inaugura tamb&eacute;m a Brasserie Astoria em Marbella. Seu imp&eacute;rio cresce com consist&ecirc;ncia, sem perder a ess&ecirc;ncia.

O chef Björn Frantzen | Divulgação

"Dubai evoluiu rapidamente como um polo gastron&ocirc;mico global. A energia criativa daqui me lembra da explos&atilde;o da cena n&oacute;rdica h&aacute; 15 anos, uma &eacute;poca de inova&ccedil;&atilde;o, criatividade e gastronomia que rompia fronteiras", me contou Frantz&eacute;n. "Vi a mesma energia e enxerguei a oportunidade de fazer parte desse crescimento vibrante." O chef, que visita Dubai h&aacute; mais de uma d&eacute;cada com a fam&iacute;lia, diz que esse era o momento certo para trazer algo realmente especial para a cidade. E refor&ccedil;a: "H&aacute; muita coisa acontecendo em toda a regi&atilde;o. &Eacute; um momento emocionante."

A entrada do restaurante | Divulgação

Ao perguntar como o FZN se diferencia do restaurante original em Estocolmo, ele responde: "&Eacute; como receber o cliente em casa&mdash;come&ccedil;a com canap&eacute;s, segue com um tour, depois o jantar na sala de refei&ccedil;&otilde;es e drinks no terra&ccedil;o, com vista para o skyline de Dubai." Segundo Frantz&eacute;n, o menu est&aacute; em transforma&ccedil;&atilde;o. "Quando abrimos em Singapura, a comida era mais europeia. Mas com o tempo, trabalhando com fornecedores locais, passou a ter alma asi&aacute;tica. Vejo um caminho semelhante aqui. Aos poucos, vamos incorporar mais influ&ecirc;ncias do Oriente M&eacute;dio."

Sobre os desafios de adaptar seu conceito a Dubai, ele destaca o p&uacute;blico internacional da cidade: "Foi dif&iacute;cil equilibrar o DNA do Frantz&eacute;n com as expectativas de uma clientela t&atilde;o diversa." Outro obst&aacute;culo foi encontrar ingredientes locais que atendessem aos altos padr&otilde;es do grupo. "Levou tempo at&eacute; identificarmos os fornecedores ideais. Mas Dubai tem uma produ&ccedil;&atilde;o local excelente, e vejo isso evoluindo a cada dia." Importar ingredientes n&oacute;rdicos ainda &eacute; um processo complexo, segundo ele. "Envolve regulamenta&ccedil;&otilde;es rigorosas, custos altos e log&iacute;stica espec&iacute;fica. Mas vale a pena: s&atilde;o ingredientes essenciais para nossa cozinha. Com o tempo, firmamos parcerias com fornecedores confi&aacute;veis."

Tarte Tatin | Divulgação

Dubai tem muitos restaurantes caros. Mas poucos verdadeiramente memor&aacute;veis. O FZN &eacute; um divisor de &aacute;guas: n&atilde;o &eacute; apenas um dos melhores fine dining da cidade, &eacute; um dos mais promissores do mundo. Sua combina&ccedil;&atilde;o de t&eacute;cnica, precis&atilde;o, beleza e alma o coloca em outro patamar. &Eacute; uma casa feita para vencer pr&ecirc;mios, sim, mas, mais que isso, feita para deixar uma marca. Ao sair do FZN, tive a n&iacute;tida sensa&ccedil;&atilde;o de ter vivido algo raro. Um jantar que come&ccedil;a com um gesto e termina com uma mem&oacute;ria gravada na pele.

Um jantar memorável em Dubai

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