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        <p><em>Soberania criativa! Livro projetado por <span>Lili&nbsp;Tedde&nbsp;</span>faz ca&ccedil;a ao tesouro ao redor dos pa&iacute;ses n&atilde;o desenvolvidos para analisar a gra&ccedil;a e a for&ccedil;a do que &eacute; produzido do lado de c&aacute; do planeta.</em></p>
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        <p style="text-align: justify;"><span>Se o s&eacute;culo 21 tem visto uma for&ccedil;a muito&nbsp;grande da criatividade produzida por pessoas que vivem fora dos grandes centros&nbsp;desenvolvidos, tudo pode ser resumido &agrave;&nbsp;bossa de sobreviv&ecirc;ncia de quem mora nos&nbsp;pa&iacute;ses do Sul &mdash; historicamente tratados&nbsp;como periferia do mundo, at&eacute; agora. Essa&nbsp;ideia de emancipa&ccedil;&atilde;o ganha pot&ecirc;ncia no&nbsp;rec&eacute;m-publicado </span><span>Proud South</span><span>. Com curadoria da&nbsp;</span><span>forecaster </span><span>Lidewij Edelkoort, o&nbsp;livro &eacute;pico re&uacute;ne, em 424 p&aacute;ginas, um resumo precioso do que tem acontecido no&nbsp;lado de c&aacute; do globo &mdash; incluindo, claro,&nbsp;o Brasil. Fruto do trabalho gigante de Lili&nbsp;Tedde, criadora do projeto e respons&aacute;vel pela&nbsp;edi&ccedil;&atilde;o do material; que partiu de uma sele&ccedil;&atilde;o de&nbsp;mais de 6 mil imagens para refletir sobre os aspectos que s&atilde;o &uacute;nicos entre essas mentes. Lili falou com </span><span>L&rsquo;OFFICIEL </span><span>sobre o processo de feitura e de como o Sul tem tudo para conquistar o mundo</span></p>
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        <p style="text-align: justify;"><span><strong>De onde surgiu a ideia de falar sobre essa movimenta&ccedil;&atilde;o criativa sulista, como chamam no livro?</strong><br /></span><span>Foi justamente por conta do trabalho com a </span><span>Bloom</span><span>, quando come&ccedil;amos a falar dessa emancipa&ccedil;&atilde;o do Hemisf&eacute;rio Sul. Em seguida, tiramos a palavra &ldquo;hemisf&eacute;rio&rdquo;, pois tratamos tamb&eacute;m sobre &Iacute;ndia, Marrocos e outros; come&ccedil;amos a chamar Pa&iacute;ses do Sul. Separamos do que s&atilde;o os desenvolvidos &mdash; Europa, EUA, Jap&atilde;o &mdash; que est&atilde;o cansados e precisando de uma inspira&ccedil;&atilde;o muito mais forte, cheia de ancestralidade, f&eacute; e fantasia, que acontece em diversos pa&iacute;ses sulistas. Principalmente a &Aacute;frica do Sul, que tem um movimento bastante forte, assim como no Brasil. Mas falamos sobre o M&eacute;xico, outros pa&iacute;ses da Am&eacute;rica Latina, e tamb&eacute;m Filipinas, &Iacute;ndia. A&iacute; surgiu o discurso de que ra&iacute;zes e ancestralidades s&atilde;o supermarcantes na nossa moda. O segundo cap&iacute;tulo, por exemplo, &eacute; dedicado &agrave; devo&ccedil;&atilde;o, &agrave; religi&atilde;o. Falamos dessas cren&ccedil;as que temos e s&atilde;o t&atilde;o bem usadas por n&oacute;s. N&atilde;o &eacute; apenas que acreditamos nisso que faz parte da nossa vida, mas fazemos esse mix, misturamos candombl&eacute; com catolicismo, com tudo. Gostamos dessa miscel&acirc;nea, somos multirreligiosos, naturalmente multifacetados. Assim constru&iacute;mos o livro, fazendo algumas homenagens e mostrando essas pot&ecirc;ncias todas.</span></p>
        <p style="text-align: justify;"><span></span></p>
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              <div class="column"><strong> </strong>
                <p style="text-align: justify;"><strong>Voc&ecirc; acha que essa n&atilde;o compartimentaliza&ccedil;&atilde;o das coisas, a mistura dos conceitos, que temos muito nessa cultura sulista, &eacute; o que d&aacute; gra&ccedil;a para essa criatividade toda?<br /></strong><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">S&atilde;o v&aacute;rios aspectos que d&atilde;o essa gra&ccedil;a. O primeiro &eacute; que a maioria desses pa&iacute;ses s&atilde;o muito sofridos. Temos que nos virar na vida, ent&atilde;o fazemos essa miscel&acirc;nea de informa&ccedil;&otilde;es. Segundo, h&aacute; essa mistura de imigra&ccedil;&otilde;es. O Brasil &eacute; assim, por isso a moda aqui &eacute; mais divertida e inte&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">ressante do que na Argentina. Olhando para os pa&iacute;ses do Sul, as cores s&atilde;o mais fortes, as informa&ccedil;&otilde;es, mais potentes. Mesmo as vegeta&ccedil;&otilde;es, as folhagens s&atilde;o muito maiores. Temos uma for&ccedil;a grande nesse sentido, uma exuber&acirc;ncia &mdash; inclusive por conta do sol. Tudo isso gera essa vibra&ccedil;&atilde;o forte. E h&aacute; o fato de termos povos nativos, fazendo com que as ra&iacute;zes sirvam de inspira&ccedil;&atilde;o. Quando voc&ecirc; v&ecirc; o trabalho do Maxhosa, na &Aacute;frica do Sul, que ficou famoso justamente por usar as estampas nativas, tirar proveito do que a &Aacute;frica tem de maravilhoso e trazer para algo contempor&acirc;neo. Quem tem no&ccedil;&atilde;o das ra&iacute;zes e consegue dar valor a elas de uma maneira legal,&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">se destaca nesses pa&iacute;ses sulistas &mdash; e dali, para o mundo.</span></p>
                <p style="text-align: justify;"><span><br /></span><strong>Esse assunto da criatividade do Sul global est&aacute; pairando no ar h&aacute; algum tempo. Qual foi o gatilho para decidir que este era o momento para mostrar essa hist&oacute;ria toda?<br /></strong><span>Est&aacute; no ar de fato, mas em t&oacute;picos. Quisemos fazer essa colet&acirc;nea para mostrar a for&ccedil;a imensa que existe quando se coloca todos esses talentos juntos. Tanto que o livro tem essa cara de b&iacute;blia, com dourado na lateral. Li fez quest&atilde;o de devolver para esses talentos em forma de b&iacute;blia, dizendo &ldquo;olha o tesouro que h&aacute; aqui&rdquo;. &Eacute; sobre marcar esse ponto de reuni&atilde;o. O grande gatilho para ela parte da foto que abre o livro, da designer Lukhanyo Mdingi. Elas se encontraram em Johannesburgo e Li entendeu que aquela mulher sul-africana fazia as vestimentas inspiradas nos ancestrais e perambulava pelo espa&ccedil;o com essas roupas, acreditando nelas. Foi algo que chamou muito a sua aten&ccedil;&atilde;o, funcionou como um </span><span>wake up call</span><span>. Ela j&aacute; queria falar sobre isso h&aacute; alguns anos. Para mim, o gatilho foi fazer as tr&ecirc;s edi&ccedil;&otilde;es da </span><span>Bloom</span><span>, quando discut&iacute;amos muito sobre essa emancipa&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o &eacute; um assunto novo, como voc&ecirc; disse, mas se torna um movimento mais&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">potente quando unimos todos e mostramos que isso pode ter uma for&ccedil;a maior. Uma marca aqui, outra acol&aacute;, &eacute; dif&iacute;cil gerar um movimento de for&ccedil;a. Na maioria desses pa&iacute;ses h&aacute; v&aacute;rias marcas e criativos, v&aacute;rios fot&oacute;grafos produzindo de forma diferente do que no Hemisf&eacute;rio Norte. Em muitas imagens se v&ecirc; a linha do horizonte, por exemplo; faz-se quest&atilde;o de mostrar a grandeza desses lugares, essas paisagens incr&iacute;veis.</span></p>
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Imagens de Adèle Dejak (Quênia)

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      <p style="text-align: justify;"><strong>Houve uma grande surpresa nesse processo de cria&ccedil;&atilde;o?<br /></strong><span>O que mais nos surpreendeu, enquanto cri&aacute;vamos o </span><span>flow </span><span>do livro, foi ver a for&ccedil;a incr&iacute;vel que existe quando se une. E entender a import&acirc;ncia de alguns fot&oacute;grafos no processo. Como Namsa Leuba, que &eacute; europeia mas recebeu refer&ecirc;ncias inspiracionais da m&atilde;e, que &eacute; da Nova Guin&eacute;. Ou mesmo Jack Nickerson, que foi se inspirar na &Aacute;frica e criou imagens que se tornaram refer&ecirc;ncia de moda. Ou o trabalho lindo do Omar Victor Diop, que elabora autorretratos usando imagens de quadros antigos, fazendo uma gra&ccedil;a com a cultura do futebol. Tudo fez entender a hist&oacute;ria e a exist&ecirc;ncia de tantas inspira&ccedil;&otilde;es, ainda mais quando se coloca um ao lado do outro. Uma coisa &eacute; ver um trabalho isolado, outra &eacute; ver Hassan Hajjaj, Thandiwe Muriu e Isaac Silva no mesmo cap&iacute;tulo. Gera uma for&ccedil;a essencial.<br /><br /></span></p>
      <p style="text-align: justify;"><strong>No pref&aacute;cio do livro, Li escreve que &ldquo;o Sul est&aacute; acordando e aproveitando as oportunidades globais&rdquo;. Compreendo que estamos entendendo essas potencialidades, mas, em paralelo, h&aacute; um olhar do Norte que se volta muito para c&aacute;, n&atilde;o?<br /></strong><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">Sem d&uacute;vida, o Norte precisa da gente para se inspirar. Isso d&aacute; uma for&ccedil;a e um est&iacute;mulo. Outro fato &eacute; que o Sul est&aacute; se interessando em mostrar essa for&ccedil;a no Norte. &Eacute; sobre entender que h&aacute; esse diferencial, que gera uma necessidade de manter o seu DNA, algo muito importante. Vemos algumas marcas preocupadas com isso, o que faz com que se entenda que a emancipa&ccedil;&atilde;o delas est&aacute; adiantada. No Brasil &eacute; mais f&aacute;cil ver isso acontecendo &mdash; se for para alguns pa&iacute;ses vizinhos, n&atilde;o &eacute; t&atilde;o simples. &Eacute; preciso uma ajuda maior.</span></p>
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      <p style="text-align: justify;"><strong>Com esse olhar do Norte, como essa for&ccedil;a criativa do Sul deve se cuidar para n&atilde;o deixar que os seus trabalhos sejam vampirizados pelo &ldquo;colonizador&rdquo;?<br /></strong><span>N&atilde;o diria que h&aacute; o risco de sermos colonizados, nesse sentido. Isso aconteceria se fornec&ecirc;ssemos mat&eacute;ria-prima para que produzissem, como fizemos a vida toda. Mas o potencial do momento &eacute; diferente. &Eacute; preciso que exista um respeito absurdo &mdash; e n&atilde;o s&oacute; no movimento do Norte olhando para c&aacute;, mas mesmo em parcerias com povos nativos ou comunidades. &Eacute; necess&aacute;rio um cuidado em conseguir fazer uma parceria que n&atilde;o mude radicalmente a forma de trabalho daquela comunidade: voc&ecirc; simplesmente d&aacute; uma lapidada e, principalmente, n&atilde;o os abandona a ver navios depois de uma cole&ccedil;&atilde;o. Esse cuidado precisa existir sempre, independentemente se falamos do Norte vir fazer alguma interfer&ecirc;ncia ou de designers sulistas trabalhando com comunidades locais. &Eacute; respeito b&aacute;sico, entender onde voc&ecirc; est&aacute; pisando antes de entrar. Esse tema deve ser tratado. Mas quando isso &eacute; feito com cuidado e educa&ccedil;&atilde;o, coisas boas podem ser geradas: um reconhecimento daquele trabalho, chamar aten&ccedil;&atilde;o para algo que precisa ser mais enobrecido.</span></p>
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Lili Tedde em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil

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