Manuela Bordasch em entrevista exclusiva para a L'Officiel
Visão além do alcance! CEO e fundadora do Steal the Look, Manuela Bordasch analisa o cenário da moda para vislumbrar o futuro.
Manuela Bordasch é uma gaúcha de 1,85 metro de altura. Ela já foi modelo, morou em vários lugares fora e dentro do Brasil, e se formou em relações internacionais. Aliás, foi graças a esse curso e ao seu TCC que Manu acabou criando a maior plataforma de conteúdo comprável de moda e beleza do Brasil – o site Steal the Look. O tema era a inserção do modelo fast-fashion na cultura brasileira. Ela se matriculou em cursos para entender mais sobre o assunto e começou a se familiarizar com o universo dos blogs, que vivia seu grande boom no Brasil na época. “Me lembro de ter começado a olhar muitos deles e não entender por que nenhuma das meninas linkava os produtos que estavam usando para que as leitoras pudessem comprá-los online. Pesquisei muito, pois achei que alguém já fizesse isso e, por mais óbvio que hoje possa parecer, na época absolutamente ninguém fazia. No mesmo instante pensei: já que ninguém faz, eu vou fazer!” Mas ela queria desenvolver algo que pudesse ir além do estilo e da vida de uma única pessoa, algo que inspirasse todas as mulheres com imagens de várias pessoas diferentes. Então, teve a ideia de criar um site que reunisse imagens de gente estilosa ao redor do mundo, linkando para produtos acessíveis iguais ou similares aos que elas estavam usando. “Trabalhar com moda foi acontecendo por acaso. Saí de casa aos 14 anos para ser modelo e minha carreira durou até os 19, quando decidi parar para retomar os estudos. Durante os quase seis anos de carreira, morei em Nova York, Tóquio, Londres e Cidade do México. Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Acho que viajar sem dúvida é uma das bagagens mais valiosas que uma pessoa pode ter, e tudo o que aprendi em todos esses anos não tem escola que ensine.” Foi a hora de voltar para Porto Alegre, fazer faculdade. “O
que eu queria era empreender. O fato de ter sido moda foi uma feliz coincidência por eu ter encontrado uma oportunidade que achava que fazia sentido naquele momento.” Com sua pegada firme e determinada (bem ao jeito escorpiano de ser), ela nunca perde o estilo – e ainda fundou o PUSH, uma frente de compartilhamento de experiências de temas relacionados à carreira e ao empreendedorismo como propósito. A seguir, Manu fala um pouco da sua trajetória e do que vislumbra para a moda em 2023.
Como começou a sua história com o mundo fashion? De onde veio a ideia de ir além – e estudar relações internacionais?
Meus pais sempre tiveram loja, então desde muito cedo eu vivia dentro de um estoque ou ajudando a vender. Depois disso fui modelo dos 14 aos 19 anos, nessa época pude ter mais contato com os bastidores do mundo da moda. Apesar de tudo, eu ainda tinha dúvidas sobre trabalhar com moda em si, pois na época em que escolhi meu curso não existia nenhum como existe hoje, são vários e mais focados em negócios da moda. Ter feito outro curso foi muito positivo, porque me deu uma visão ampla de mercado e por mais que voltar pra moda tenha sido natural, minha paixão é comunicação. E, para mim, moda é isso. Moda é comunicação.
Você é fã de um bom look básico, prático e descomplicado. Quais as peças-chave para este estilo? Este é um outro caminho que indica que menos é mais?
Sou fã de peças descomplicadas e confortáveis acima de tudo. No meu guarda-roupa as peças que não vivo sem são: jeans, camiseta, jaqueta de couro, coturno, Vans e All Star.
De onde acha que vem esse fascínio geral por “roubar” o look?
Do fascínio de dar acesso a todos. O roubar é apenas uma brincadeira que usamos para mostrar que todos podem ter acesso à moda. Nosso foco é democratizar a moda e a informação.
Qual você considera ter sido a sua grande sacada ao fundar o STL? A plataforma une a era do boom das influenciadoras + o boom das redes sociais + o boom das compras digitais?
Acredito que seja um trabalho constante. Difícil dizer um único marco que tenha sido a grande sacada. Mas um dos fatores sem dúvida foi unir tudo em um só lugar. Informação (sempre em uma via de mão dupla, ouvindo muito nossas leitoras) e a possibilidade de que toda a ação seja tomada dentro de uma mesma plataforma.
Todo mundo quer tudo – e agora. Comprar o look com um clique faz parte desse sonho moderno?
Sem dúvida a praticidade faz parte de um mundo cada vez mais atual em que é preciso respeitar a jornada individual de cada consumidor. Acredito que a palavra-chave seja conveniência, e para determinado consumidor essa conveniência significa comprar em um clique, já para outro significa comprar por WhatsApp ou ter mais atenção de um vendedor. Conveniência é respeitar cada consumidor com sua própria jorna- da, e precisamos estar lá para atendê-lo.
Hoje, como a moda afeta você e como você afeta a moda?
Eu acredito que as pessoas devam usar a moda a seu favor. Não o inverso. Se moda é comunicação, podemos brincar com isso e, através das roupas, passar a mensagem que gostaríamos de transmitir para o mundo.
E as redes sociais: ainda influenciam o jeito da gente se vestir?
Na minha visão todo mundo é influenciador e também é influenciado em certa medida. E, sem dúvida, as mídias sociais são protagonistas nesse quesito hoje.
Ao mesmo tempo que a moda expressa comportamentos, também os influencia. Qual foi o último fenômeno fashion que impressionou você?
Um fenômeno que acredito ser muito positivo é o mercado de segunda mão, no qual a moda tem crescido cada vez mais. O movimento de resgate a peças vintage já acontecia e vem ganhando protagonismo até mesmo em red carpets, mas ainda era muito nichado. Mas o mercado de e-commerce do segmento vem ajudando muito na conscientização do tema. Recentemente, o grupo Inditex anunciou sua entrada no segmento, que com certeza trará ainda mais protagonismo ao tema.
Moda e feminismo se encontram?
Totalmente. Basta olharmos para a história e ver que a moda acompanha os movimentos feministas em diversos aspectos. Moda é expressão. E muitas vezes os movimentos feministas se expressam através da moda.
Você antevê uma moda que não segue padrões de beleza de altura ideal, corpo ideal, peso ideal?
Os padrões mudam e evoluem o tempo todo e a moda sempre será um reflexo disso e, muitas vezes, acaba sendo quem puxa esses próprios padrões. Por isso mesmo que a moda tem e sempre terá um papel tão importante na sociedade.
Qualidade X quantidade: qual o equilíbrio perfeito, falando de guarda-roupa?
Para mim a resposta seria qualidade, mas não acredito que exista uma resposta perfeita, pois isso vai também ao encontro do estilo e das necessidades de cada um.
Moda acessível e democrática é a tendência em tempos de dar foco na proteção ao meio ambiente?
É um tema muito complexo e importante. Acredito que a conscientização individual seja o principal ponto para que possamos começar a evoluir nesse sentido. Não podemos terceirizar esse tema para que as empresas resolvam nossos problemas. Individualmente, temos um poder gigantesco com os nossos atos e a maneira que consumimos. Mas acredito que a moda possa sim ser acessível e democrática e ainda assim respeitar o meio ambiente. Cada vez mais marcas estão preocupadas com essa causa. Umas mais engajadas e outras menos, por isso acredito que em breve isso vai se tornar uma pauta obrigatória. Todo mundo vai ter de ter suas responsabilidades ambientais, ou não será possível sobreviver nesse mercado em que o consumidor é muito mais seletivo e consciente.
Fale um pouco sobre o PUSH – ajudar outras mulheres a empreender é um propósito?
Totalmente. Quando falo de dar acesso, isso vai muito além da moda, e no caso do PUSH se expande para o universo da carreira. Meu propósito com o PUSH é ajudar as mulheres a tirarem suas ideias do papel, empreender e intraempreender para que possam crescer cada vez mais no mercado de trabalho.
Na vida de empreendedora, quanto é glamour e quanto é esforço?
Noventa e nove por cento de esforço para 1% de glamour.