Uniformes dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e suas expressões
Os uniformes brasileiros desenhados para a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e suas expressões com a moda
Moda é identidade cultural – e é a partir desta afirmação que as sociedades constroem as próprias narrativas. Yuppies, punks, hippies, vintages, nerds, esportistas, geeks e tantos outros movimentos encontram nas vestimentas os seus lugares de fala. Neste sentido, moda também é pertencimento. Mas se o viés fashion é tão importante, qual seria a razão para que algumas pessoas simplesmente não o levem a sério? Existem dezenas de respostas para esta questão, porém, a que mais se encaixa é o fato de a moda ainda ser considerada monopólio feminino. Ou seja, a mulher comanda o circuito – e do lado oposto desta equação, sentimentos sexistas minimizam a relevância do vestir. Quer um exemplo prático? Os uniformes desenhados para a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 expressam o desleixo e o desrespeito com o segmento.
Desde que os modelitos foram apresentados, as críticas têm sido constantes. “Conservadores”, “evangês”, “cafonas”, “simplórios” e “mal acabados” são alguns dos adjetivos que estampam as análises de populares que pipocam pelas redes sociais. No TikTok e no Instagram, as peças nacionais são comparadas com aquelas criadas para delegações de países como Mongólia, Haiti, Estados Unidos, Libéria, Canadá e Coreia do Sul. Em comum, a grande maioria dos participantes das Olimpíadas investe milhares de dólares na produção que é vista por cerca de 1,5 bilhão de espectadores.
Por aqui, celeiro de criativos do quilate de Dener, Mirian Etz, Zuzu Angel, Clodovil, Ocimar Versolato, Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga, Lino Villaventura, Francisco Costa e tantos outros nomes poderosos, o Comitê Olímpico Brasileiro, comandado por Paulo Wanderley Teixeira (ex-judoca), optou pela Riachuelo para cumprir a missão. Nada contra uma fast fashion à frente da tarefa. Vale lembrar que no evento realizado no Brasil, em 2016, a C&A fez collab com Lenny Niemeyer – e foi um baita sucesso.
Entretanto, desta vez, a pisada na bola foi escancarada. O conjunto é composto por camiseta listrada (amarela ou verde), saia mídi branca para as atletas e calça comprida na mesma cor para os homens, chinelos Havaianas e jaqueta jeans com bordado nas costas assinado pelas bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte (as mesmas que deram conta do vestido de noiva da primeira-dama, Janja Lula da Silva). É bom ressaltar que o detalhe é o único sopro de originalidade, embora caia na vala comum do velho padrão estereotipado – com onça, arara, tucano e floresta (o que só evidencia o óbvio: faltou direção criativa). Para Wanderley, está tudo dentro do esperado. “Não é a Paris Fashion Week, são os Jogos Olímpicos”, disse. O diretor de marketing da entidade, Gustavo Herbetta, endossou a fala e alertou que cada arremate foi chancelado pelo COB. “A gente participou de todo o processo de escolha desse uniforme, a gente aprovou com muito orgulho. Se precisasse, a gente aprovaria de novo.”
A cidade mais glamourosa do mapa – sede da principal semana de moda do calendário –, vai assistir o time de Taiwan a bordo do streetwear vanguardista de Justin Chou, da grife Just In XX, assim como as turmas da Mongólia em seus trajes customizados pela marca Michel & Amazonka, dos designers Michel Choigaalaa e Amazonka Choigaalaa, e do Haiti, que usam roupas da estilista Stella Jean com ilustrações de Philippe Dodard. A fim de silenciar as vozes contrárias à indumentária com pinta de “encontro de jovens pentecostais”, Wanderley Teixeira finaliza citando Platão: “A beleza está nos olhos de quem vê”. Ou não.
Convidamos Amir Slama (@amirslama), Dendezeiro (brand de Hisan Silva e Pedro Batalha/ @dendezeiro) e Leandro Castro (@leandrocastrum) para darem as suas versões do uniforme brasileiro. Confira!