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<p><em>Há algumas temporadas observamos a volta de modelos muito magras nos desfiles. Na paralela, Ozempic e a nostalgia dos anos 2000 trouxeram a hashtag #SlavicDoll com força <span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">ao </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">Tik Tok, </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">junto com distúrbios alimentares. Alerta de retrocesso?</span></em></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>No começo do milênio, sucedendo a tendência Heroin Chic e rivalizando com a Brazilian Bombshell na moda, veio a Slavic Doll. Essa trend trazia modelos altas, muito magras, loiras, de cabelos lisos e com atitude indiferente, a maioria do leste europeu e russa. Nos anos 2010, comemoramos uma presença maior de diversidade de corpos na passarela, com o Body Positive, a modelo Ashley Graham... Mas estamos observando a volta de modelos magérrimas nos desfiles.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>&ldquo;Esse retorno reflete uma mudança na estética da moda, mas também um realinhamento com a indústria do <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/arte/arte-que-transforma-do-bem-estar-a-inovacao-social">bem-estar</a> medicalizado&rdquo;, observa Vanessa Hikichi, especialista em tendências na WGSN, líder em previsão de tendência e com- portamento. Segundo o bureau, a ascensão de medicamentos como o Ozempic está transformando a relação do consumidor com a imagem corporal, impactando setores como alimenta- ção, beleza e fitness. &ldquo;O mercado de perda de peso baseado em GLP-1 (como <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/kelly-clarkson-se-envolve-em-polemica-com-ozempic-entenda">Ozempic</a> e Wegovy) deve crescer para 125 bilhões de dólares até 2033, alterando hábitos alimentares e a percepção da magreza&rdquo;, continua ela.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Nas passarelas, se antes a diversidade corporal parecia uma conquista irreversível, o que vemos agora é um ajuste estratégico das marcas, refletindo a estética do novo consumidor. &ldquo;Não se trata de um simples retrocesso&rdquo;, analisa Mirian Goldenberg, antropóloga e autora de </span><span>O Corpo como Capital </span><span>(Estação das Letras e Cores) e do recente </span><span>Memórias de uma Antropóloga Mal Comportada </span><span>(Record) entre outros livros. &ldquo;Historicamente, o corpo é um capital no Brasil e nos Estados Unidos, diferentemente de na Suécia, na Alemanha ou na Espanha. Um corpo magro, jovem, sensual. Acontece que esse ideal de beleza nunca ficou para trás. O desejo da magreza excessiva sempre existiu e continua existindo. As mulheres que entrevisto têm pânico de duas coisas: engordar e emagrecer. Esse modelo, esse desejo, não deixou de existir mesmo com tanta luta e conquistas de mais liberdade&rdquo;, fala Mirian. Ela ainda observa que na década do politicamente correto era impensável dizer as barbaridades abertamente, como vem acontecendo hoje &ndash; o que inclui a moda da mulher dona de casa (e ressalta que brasileiras e &ldquo;slavics&rdquo; ou russas vivem um ideal feminino dentro da lógica da dominação masculina), e a crítica à diversidade e à inclusão (caindo por terra nas empresas estadunidenses). &ldquo;O mundo está polarizado, é uma guerra de valores. Os discursos mudam, os valores não. Levam anos para se transformar, séculos. E esses estão impressos no nosso DNA cultural, estão introjetados em nós.&rdquo;</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>&ldquo;Isso se encaixa no conceito da WGSN de &lsquo;polarização do consumo&rsquo;: ao mesmo tempo que marcas adotam representatividade, outras reforçam um ideal de magreza em resposta ao desejo do consumidor por padrões mais medicalizados&rdquo;, fala Vanessa. Fato é que o saudosismo em relação aos anos 1990/2000 trouxe as hashtags #slavicdoll e #SlavicDollThin com força ao Tik Tok </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">(segundo o Pinterest, o termo teve um aumento de 200% em comparação com o ano passado &ndash; dados internos de pesquisas de fevereiro a março de 2025 em comparação com fevereiro a março de 2024), como tendência estética, junto inclusive com uma sugestão de dieta para magreza e correlações com distúrbios alimentares como bulimia e anorexia. &ldquo;Esse movimento nostálgico reflete um ciclo na cultura pop e na moda, em que a nostalgia reinterpreta padrões antigos, mas também pode reacender dinâmicas tóxicas&rdquo;, diz a expert. Puxando a história, Mirian lembra que depois da Segunda Guerra Mundial os filmes de Hollywood tiveram grande influência no Brasil. &ldquo;Mas, antes disso, a moda era ditada pelas francesas &ndash; altas, brancas e magras. A francesa come para ser magra&rdquo;, analisa a antropóloga.</span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>Além disso, o emagrecimento radical de celebridades como Kim Kardashian (que perdeu 16 quilos para usar um vestido de Marilyn Monroe no MET Gala e disse que se submeteria a qualquer tratamento que a impedisse de envelhecer) e a popularização do Ozempic refletem e reforçam a obsessão pela magreza. Com a diminuição da influência das celebridades tradicionais e a ascensão das influenciadoras digitais, a estética da magreza ganhou novos canais de promoção. Isso impulsiona a economia da medicalização da beleza &ndash; de produtos capilares para &ldquo;Ozempic Hair&rdquo; a preenchimentos faciais para &ldquo;Ozempic Face&rdquo;. &ldquo;Para ter uma ideia, o mercado de beleza já está se adaptando. Produtos para combater os efeitos colaterais do Ozempic, como queda de cabelo e flacidez da pele, cresceram 63% nas buscas do Google em 2024&rdquo;, conta Vanessa. Trata-se de um gatilho psicológico e comercial: estudos mostram que 31% da geração Z e 32% dos millennials se sentem pressionados a perder peso apenas por saberem da existência do Ozempic. &ldquo;A magreza extrema está sendo redefinida não só como um ideal de moda, mas como um &lsquo;life upgrade&rsquo; via tecnologia e medicina.&rdquo;</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Embora a moda historicamente tenha reforçado padrões de magreza, há um esforço recente para se alinhar com valores mais inclusivos, especialmente entre as gerações Z e alpha. &ldquo;A WGSN antecipa uma polarização crescente no consumo: de um lado, o desejo por padrões de beleza cada vez mais customizados e medicalizados; de outro, um movimento de resistência contra a toxicidade da cultura da dieta. Tecnologias antienvelhecimento (como preenchimentos e estimuladores de colágeno) devem crescer. O mercado de preenchedores faciais já está sendo impulsionado pelo efeito Ozempic. E há luz no fim do túnel: enquanto parte do mercado adota a estética da magreza extrema, há um movimento paralelo de rejeição da medicalização, impulsionando conceitos como &ldquo;comer intuitivo&rdquo;, &ldquo;saúde metabólica&rdquo; e &ldquo;vida sem obsessão com o corpo&rdquo;. &ldquo;Acredito, sim, que precisamos encarar um cenário de diversidade não como uma tendência, mas como uma luta&rdquo;, diz Mirian. Uma queda de braço de peso.</span></p>
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#SlavicDoll: O retorno da magreza extrema e a guerra dos corpos

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