<p><em>Muito al&eacute;m das passarelas, a moda ocupa um espa&ccedil;o de di&aacute;logo com a arte, a ci&ecirc;ncia e a cultura, revelando-se como um campo multidisciplinar em constante transforma&ccedil;&atilde;o.</em></p>

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<p style="text-align: justify;"><span>Moda é uma área do conhecimento que, mesmo tendo vida própria, não é autorreferente. <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/valentina-herszage-fala-de-liberdade-cinema-e-moda-durante-ensaio">Moda</a> dialoga com diversas outras áreas dos saberes. Ao analisarmos o comportamento da moda, há uma interface com a sociologia e a antropologia; ao entendermos suas técnicas próprias, há o diálogo com as ciências como a matemática na modelagem e com a química no tingimento e estamparia; ao observarmos fiação e tecelagem, há a ligação com as tecnologias; ao apreciarmos volumes e tridimensionalidades, podemos associá-la à <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/maison/arquitetura-design-e-decoracao-estao-mais-inovadores-e-sustentaveis">arquitetura</a>; ao pesquisarmos suas referências pretéritas, associamo-la à história; ao compreendermos os regionalismos, há o diálogo com questões geográficas; ao ser produzida em série, a entendemos como design; se é feita sob medida e valorizando o feito à mão, podemos interpretá-la como artesanato; se é uma forma de recato, podemos compreendê-la dialogando com a religião; se é uma forma de expressão, está associada à comunicação; se é uma forma de valorização das tradições, cria o diálogo com a cultura; e, não menos importante, se a observarmos pela ótica do processo criativo e a constante renovação, podemos entendê-la amalgamada às artes.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Desse modo, podemos perceber seu intenso intercâmbio com alguns movimentos artísticos. Dentro dos conceitos estéticos notamos que há uma grande aproximação aos valores que caracterizam determinados movimentos. Tomemos como exemplo as estéticas do barroco e do rococó, quando toda uma dramaticidade e um significativo excesso dominaram os fazeres sensíveis nas artes, na arquitetura, na música, no teatro, na literatura, entre outras expressões. Percebemos, então, que a moda se tornou intensa, redundante e opulenta, privilegiando exageros. Antagonicamente, no minimalismo, contextualizado no purismo das formas, ausência de ornamentação e limpeza visual, até mesmo sendo um elogio ao insípido, percebemos todo esse fundamento na arquitetura, nas artes, na música, no design de interiores, no design de produto, na dança, no teatro e também na moda em purismos visuais e uma significativa neutralidade de formas e cores, privilegiando o essencial.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Mais do que essas possíveis e breves leituras, há também outros momentos de grandes aproximações dessas duas áreas aparentemente distintas. Partindo do início do século 20, podemos citar o francês Paul Poiret sendo um arauto do diálogo moda-arte quando convidou o artista francês fauvista </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">Raoul Dufy para desenhar-lhe estampas. A artista ucraniana Sonia Delaunay criou suas estampas e seus &ldquo;vestidos simultâneos&rdquo; fundamentados no orfismo. O artista do futurismo italiano Giacomo Balla sugeriu a roupa masculina fora da neutralidade, explodindo em recortes e cores vibrantes. O casal do construtivismo russo Alexander Rodchenko e Varvara Stepanova criou roupas e estampas óptico-geométricas. O surrealismo de André Breton e outros artistas inspirou o trabalho da italiana Elsa Schiaparelli e, mais atualmente, o do americano Daniel Roseberry recapitulando o onírico de Schiaparelli. A pop art dos americanos Roy Lichtenstein e Andy Warhol, à época, foi direcionada às suas criações de roupas e quanto influenciou em cores e estampas a moda cotidiana. O trabalho do argelino Yves Saint Laurent, que fez uma série de vestidos inspirados no neoplasticismo do holandês Piet Mondrian. O movimento </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">wearable art </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">(arte vestível) desenvolvido via Estados Unidos preconizou a roupa como uma obra de arte para que o próprio corpo fosse o suporte expositivo. Os efeitos da falibilidade dos olhos da op art, do húngaro Victor Vasarely e da inglesa Bridget Riley, influenciaram diversos estilistas e popularizaram-se em estampas. O desconstrutivismo em diversas áreas da produção cultural esteve presente nas criações do belga Martin Margiela e, também, a desconstrução dos corpos em inusitados volumes da japonesa Rei Kawakubo. Cito também a arte conceitual, com a desmaterialização do processo artístico e o trabalho do brasileiro Jum Nakao em sua &ldquo;costura do invisível&rdquo;, questionando a moda ao rasgar suas roupas de papel em plena passarela. Eis alguns possíveis diálogos dos universos moda e arte caminhando paralelamente, além de grandes marcas que contratam artistas para criar coleções específicas de roupas e/ou acessórios, como foi o caso da Louis Vuitton com a artista japonesa Yayoi Kusama.</span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>É a moda ganhando repercussão e querendo se imortalizar adentrando nos museus e se fazendo cada vez mais presente em exposições nas galerias. Mais do que isso, nomes importantes da moda internacional, especialmente da francesa, abrindo os próprios museus e expondo o conteúdo de seus acervos/reservas técnicas em curadorias temáticas dos processos criativos dos seus respectivos profissionais. Eis um amálgama que coloca a moda no patamar do prestígio das artes.</span></p>
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Moda em diálogo: Entre a arte, a ciência e a cultura

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