Em exposi&ccedil;&atilde;o retrospectiva de 40 anos de carreira, a figurinista Sandy Powell revisita suas inspira&ccedil;&otilde;es e obras que marcaram o cinema

Voc&ecirc; nem deve imaginar, mas Sandy Powell &eacute; uma das estilistas mais presentes na sua vida. Seus looks n&atilde;o apareceram na sua frente nas revistas, nos desfiles nem nos blogs de moda. Na verdade, ca&iacute;ram no seu colo quando menos esperava ou mal prestava aten&ccedil;&atilde;o e, mesmo assim, roubaram suspiros e at&eacute; foram refer&ecirc;ncias para os seus looks. Essa &eacute; a magia da arte de Sandy Powell, uma das maiores e mais influentes <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/os-figurinos-de-cinema-mais-iconicos-de-pierre-balmain">figurinistas</a> de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/cinema-estes-sao-os-filmes-mais-aguardados-de-2025">cinema</a> da atualidade. Parceira regular de diretores como Martin Scorsese e Todd Haynes, a brit&acirc;nica &eacute; aclamada por sua contribui&ccedil;&atilde;o inigual&aacute;vel na s&eacute;tima arte. Leva consigo tr&ecirc;s estatuetas de 15 indica&ccedil;&otilde;es ao <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/oscar-descubra-3-historias-inacreditaveis-da-premiacao">Oscar</a> por Shakespeare Apaixonado, O Aviador e A Jovem Rainha Vit&oacute;ria, filme que tamb&eacute;m lhe rendeu um dos tr&ecirc;s pr&ecirc;mios das suas 16 indica&ccedil;&otilde;es ao Bafta, al&eacute;m de Velvet Goldmine e A Favorita.

O reconhecimento dessas institui&ccedil;&otilde;es de cinema n&atilde;o &eacute; surpresa nenhuma quando deparamos com o conjunto da obra desses mais de 40 anos de carreira que est&atilde;o agora sendo celebrados na exposi&ccedil;&atilde;o Sandy Powell&rsquo;s Dressing the Part: Costume Design for Film, no museu da Scad Fash Museum of Fashion + Film, em Atlanta, onde tivemos a oportunidade de conversar com exclusividade com Sandy Powell.&nbsp;
Mais do que uma retrospectiva, essa tamb&eacute;m &eacute; a primeira vez que a figurinista tem a sua obra exposta em um museu. &ldquo;&Eacute; como ver a minha vida passando na minha frente. Cada filme traz mem&oacute;rias, de onde eu estava no mundo, o que estava fazendo, o que acontecia em v&aacute;rios momentos&rdquo;, comenta Sandy. Ela n&atilde;o poderia ser mais aut&ecirc;ntica, com seus cabelos vermelhos e &oacute;culos azuis e vestindo um terninho listrado p&amp;b propositalmente manchado de tinta preta em contraste com uma camisa amarela e um len&ccedil;o preto com petit po&aacute; para finalizar o look. Isso tudo completado com o sorriso, a rapidez de pensamento e o senso de humor brit&acirc;nico caracter&iacute;stico.

Com a curadoria do diretor criativo brasileiro Rafael Gomes, a exposi&ccedil;&atilde;o conta com quase 125 pe&ccedil;as de roupas e acess&oacute;rios expostas de uma forma bastante cinematogr&aacute;fica, separadas por filme, em caixas retangulares iluminadas, que remetem &agrave; ideia de uma tela de cinema. Enquanto muitas das pe&ccedil;as vieram do acervo pessoal da figurinista, outras foram resultado de um grande trabalho de busca at&eacute; lojas de aluguel de figurino e usadas para os mais variados eventos. Outras que foram trazidas diretamente dos est&uacute;dios vieram com algumas surpresas, como o terno usado por Leonardo DiCaprio em O Aviador, que tinha no bolso um isqueiro e uma c&oacute;pia da folha de chamada da grava&ccedil;&atilde;o.
Caminhando pelos corredores, o visitante passa por figurinos que deixaram a sua marca na hist&oacute;ria do cinema, como o vestido de Cinderela usado por Lily James, o casaco de pele usado por Cate Blanchett em Carol e o vestido azul usado por Kirsten Dunst em Entrevista com o Vampiro. Sandy conta que h&aacute; algo inexplic&aacute;vel que acontece no trabalho do figurinista com o ator na constru&ccedil;&atilde;o de um personagem. &ldquo;A gente chama de momento eureka. Voc&ecirc; vai testando um monte de coisas diferentes e de repente d&aacute; um estalo. Funciona. Vai soar extremamente piegas, mas &eacute; nessa hora que o personagem aparece ali na sua frente. A&iacute; est&aacute; ela ou ele. Todo mundo na volta percebe que isso aconteceu.&rdquo;

Para os atores, o figurino &eacute; o &uacute;ltimo passo para se conectarem aos seus personagens, uma vez que, al&eacute;m do pr&oacute;prio visual, as roupas, os sapatos e os acess&oacute;rios impactam a postura e os movimentos. &ldquo;Por isso, a coisa mais importante que voc&ecirc; deve fazer ao trabalhar com atores &eacute; criar um ambiente em que eles confiem em voc&ecirc; logo de cara. Voc&ecirc; deve fazer o seu melhor em comunicar que est&aacute; ali para ajud&aacute;-los a chegar aonde querem com os seus personagens, n&atilde;o apenas por uma quest&atilde;o est&eacute;tica&rdquo;, reflete. Ao contr&aacute;rio do ator, que pensa no seu personagem isoladamente, Sandy explica que sua vis&atilde;o sobre a cena &eacute; muito mais ampla, pois deve levar em considera&ccedil;&atilde;o n&atilde;o s&oacute; o que todos est&atilde;o vestindo, mas tamb&eacute;m a paleta de cores decidida pelo diretor, a cenografia. &ldquo;Ent&atilde;o, preciso tamb&eacute;m ter um bom poder de persuas&atilde;o para convenc&ecirc;-los que algo vai funcionar, porque h&aacute; esses diversos elementos &agrave; volta.&rdquo;
&Eacute; imposs&iacute;vel prever quanto tempo demora at&eacute; chegar &agrave; escolha certa para cada personagem. &Agrave;s vezes &eacute; uma batalha longa, na qual se testa de tudo um pouco. &ldquo;Por&eacute;m, se voc&ecirc; tem sorte, pode at&eacute; acontecer na primeira prova com o ator. E, quando &eacute; assim, a dificuldade na verdade &eacute; de realmente saber e confiar que esse &eacute; o look certo e n&atilde;o cair na tenta&ccedil;&atilde;o de &lsquo;e se&rsquo;&rdquo;, explica. Saber a hora de parar foi talvez uma das grandes li&ccedil;&otilde;es que aprendeu no decorrer de sua vida. &ldquo;Entender quando o figurino est&aacute; pronto e que n&atilde;o precisamos mais testar outras coisas.&rdquo;

A eterna busca pela perfei&ccedil;&atilde;o &eacute; um dos grandes males de quem trabalha com cinema, e Sandy n&atilde;o foge &agrave; regra. Na ind&uacute;stria, h&aacute; uma piada recorrente que as produ&ccedil;&otilde;es s&atilde;o finalizadas por falta de tempo ou dinheiro e n&atilde;o porque o trabalho est&aacute; pronto. No entanto, em vez de faz&ecirc;-la refletir sobre o que poderia fazer diferente, revisitar grande parte de sua obra a deixou bastante impressionada. Se tem algo que ela quer fazer melhor, acredita que a oportunidade sempre se apresenta em novos projetos e destaca ainda uma coisa que sempre fala aos seus colegas. &ldquo;A gente agoniza pensando que poderia ter feito isso ou aquilo. Mas a verdade &eacute; que ningu&eacute;m sabe qual era a outra op&ccedil;&atilde;o. Ningu&eacute;m tem ideia, voc&ecirc; &eacute; a &uacute;nica pessoa que sabe. Ent&atilde;o voc&ecirc; tem que deixar estar. Pare, encerre. Let it be.&rdquo;

A verdade &eacute; que fazer um filme &eacute; uma tarefa t&atilde;o monumental que j&aacute; considera uma conquista conseguir completar o projeto. &ldquo;Este &eacute; o maior desafio: finalizar a tarefa. Get the job done [cumprir o servi&ccedil;o].&rdquo; Sandy explica o cinema como um quebra-cabe&ccedil;a complicado, e os grandes filmes s&atilde;o aqueles nos quais os elementos, as pe&ccedil;as, se encaixam perfeitamente. O figurino faz parte de um todo, por isso ela considera que o verdadeiro resultado do seu trabalho &eacute; o que fica gravado em cena e com movimento.

Com isso em mente, a exposi&ccedil;&atilde;o destinou &aacute;reas para proje&ccedil;&otilde;es de clipes de filmes, bem como as ilustra&ccedil;&otilde;es dos figurinos expostos ali, permitindo o contraponto entre os detalhes das pr&oacute;prias pe&ccedil;as, o efeito que esse trabalho teve na imagem e o conceito criado pela figurinista. Contudo, Sandy confessa: &ldquo;Eu sempre fa&ccedil;o as ilustra&ccedil;&otilde;es depois que o look j&aacute; foi decidido&rdquo;. O motivo &eacute; lidar com as expectativas.&nbsp;

&ldquo;&Eacute; IMPORTANTE sujar AS M&Atilde;OS E entender COMO AS COISAS S&Atilde;O constru&iacute;das. VOC&Ecirc; N&Atilde;O TEM QUE SER O MELHOR costureiro. MAS TEM QUE entender COMO FUNCIONAM OS TECIDOS, A constru&ccedil;&atilde;o das roupas, AS COSTURAS, PARA QUE ISSO FA&Ccedil;A COM QUE VOC&Ecirc; SEJA O melhor em desenvolver O SEU FIGURINO.&rdquo; SANDY POWELL

&ldquo;Dificilmente voc&ecirc; vai conseguir reproduzir exatamente o que a pessoa interpreta do desenho.&rdquo; Mesmo que esboce algumas refer&ecirc;ncias em pap&eacute;is que est&atilde;o a sua volta como guardanapos, a ilustra&ccedil;&atilde;o do figurino final s&oacute; &eacute; feita e apresentada depois que est&aacute; praticamente pronta.
Durante sua vida, Sandy sempre gostou do &ldquo;mundo de contar hist&oacute;rias&rdquo;, mas seu amor pela moda a fez buscar algo em que pudesse fazer os dois. E a exposi&ccedil;&atilde;o mostra que, para cada filme e personagem que passou por ela, o vestu&aacute;rio tamb&eacute;m tinha a sua narrativa. Das roupas pintadas &agrave; m&atilde;o dando o efeito de desenho animado em Mary Poppins &ndash; O Retorno, os enfeites de tecido colados para parecer um bordado caro de A Favorita, ao trabalho em metal da roupa de Elizabeth I em Shakespeare Apaixonado, &eacute; vis&iacute;vel o seu compromisso em encontrar as mais variadas solu&ccedil;&otilde;es para a necessidade de cada personagem ou cena.

A retrospectiva de sua carreira tamb&eacute;m a faz refletir sobre como se apaixonou pelo cinema. E &eacute; dif&iacute;cil apontar exatamente se foi Mary Poppins, o primeiro filme que assistiu aos 4 anos, ou se foi Morte em Veneza, de Luchino Visconti, a produ&ccedil;&atilde;o pela qual ela se apaixonou aos 14 anos e a que assistiu sete vezes. &ldquo;Mas eu n&atilde;o pensava nessa &eacute;poca que eu iria trabalhar com figurinos. Eu apenas amava o cinema.&rdquo; De fato, a s&eacute;tima arte n&atilde;o era a &uacute;nica coisa que fazia seu olho brilhar. A moda tamb&eacute;m esteve presente. Desde a sua inf&acirc;ncia, passava horas fazendo as pr&oacute;prias roupas ou criando looks para as suas bonecas.

A brincadeira acabou evoluindo para uma curiosidade de entender como os tecidos e as costuras funcionavam, e por consequ&ecirc;ncia a preparando com habilidades que usa at&eacute; hoje. &ldquo;A maior parte desses figurinos eu posso dizer o que eu fiz com as minhas m&atilde;os. Eu fiz esse bordado, ou costurei tal parte de um casaco. Acho que &eacute; importante sujar as m&atilde;os e entender como as coisas s&atilde;o constru&iacute;das. Voc&ecirc; n&atilde;o tem que ser o melhor costureiro. Mas tem que entender como funcionam os tecidos, a constru&ccedil;&atilde;o das roupas, as costuras, para que isso fa&ccedil;a com que voc&ecirc; seja o melhor em desenvolver o seu figurino.&rdquo;
Sobre os pr&oacute;ximos passos, a lend&aacute;ria figurinista deixa claro que est&aacute; pronta para trabalhar com Wes Anderson, o dia que a amiga e colega Milena Canonero quiser uma folga, mas que tamb&eacute;m n&atilde;o gostaria de recriar o que j&aacute; foi feito. &ldquo;Me anima pensar nessas novas pessoas que est&atilde;o entrando na ind&uacute;stria. Se algum desses jovens estiver aberto, adorarei trabalhar com ele.&rdquo; A exposi&ccedil;&atilde;o Sandy Powell&rsquo;s Dressing the Part: Costume Design for Film est&aacute; aberta at&eacute; 16 de mar&ccedil;o de 2025.

Sandy Powell revisita suas inspirações e obras que marcaram o cinema

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