<p><em>Astro futurista!&nbsp;<span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">O jovem pianista Jonathan Ferr &eacute; precursor do urban jazz no Brasil, g&ecirc;nero musical que mistura pop, elementos do hip-hop, R&amp;B e m&uacute;sica eletr&ocirc;nica.</span></em><span></span></p>

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        <p style="text-align: justify;"><span>Quando se pensa em nomes potentes da atual gera&ccedil;&atilde;o da m&uacute;sica brasileira, logo vem &agrave; cabe&ccedil;a gente como <strong><a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/anitta-recebe-primeira-indicacao-ao-grammy">Anitta</a></strong>, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/pabllo-vittar-e-vitao-batem-um-papo-exclusivo-sobre-novo-remix"><strong>Pabllo</strong></a> e <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/premio-multishow-2022-veja-as-celebridades-que-compareceram"><strong>Gloria Groove</strong></a>, representantes do neofunk, ou do cantor Silva, que trouxe um ar moderno para as melodias que falam sobre o amor, numa vibe com cara de poesia cantada, como &ldquo;Voc&ecirc;, 8o&rdquo;, m&uacute;sica do &aacute;lbum Cinco, lan&ccedil;ado em 2020. Ainda nesse contexto, vale citar a cantora perform&aacute;tica Let&iacute;cia Novaes, que apostou as fichas no disco &ldquo;Letrux em Noite de Clim&atilde;o&rdquo;, com apresenta&ccedil;&otilde;es recheadas de reflex&otilde;es sobre as desilus&otilde;es amorosas em um mundo indie, e Tiago Iorc, autor do single &ldquo;Masculinidade&rdquo;, cuja proposta &eacute; desconstruir as atitudes e os anseios que a palavra significa para o homem.&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">Se no suingue genuinamente brasuca a set list bomba sem muito crit&eacute;rio, na vertente do elegante jazz &ndash; ritmo que, em solo nacional, ganhou a sonoridade da bossa-nova cinquentista de Jo&atilde;o Gilberto, Zimbo Trio, Luiz E&ccedil;a, H&eacute;lio Delmiro, Victor Assis Brasil, Raul de Souza e Hermeto Pascoal &ndash;, vez ou outra surge algu&eacute;m bacana para ser ouvido. &Eacute; o caso de <strong>Jonathan Ferr</strong>, pianista, cantor, compositor e artista multim&iacute;dia, que realiza um trabalho autoral paginado por uma est&eacute;tica atemporal.&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">Jonathan traz em sua identidade o afrofuturismo, um movimento que mescla tradi&ccedil;&otilde;es africanas com fic&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica e fantasia para&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">rever o passado negro e criar novas narrativas. &ldquo;&Eacute; como imaginar o futuro a partir de uma perspectiva negra. Uma tecnologia de sobreviv&ecirc;ncia preta&rdquo;, diz Ferr, que defende a import&acirc;ncia de trazer quest&otilde;es sociais e pol&iacute;ticas para o seu line-up.</span></p>
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        <p style="text-align: justify;"><span>Nascido no sub&uacute;rbio do Rio de Janeiro, em Madureira, filho de pai metal&uacute;rgico e de m&atilde;e vendedora, aos 9 anos ele j&aacute; colocava para tocar os discos de vinil e dedilhava o teclado de brinquedo. Teclado que, mais tarde, virou instrumento de estudo e desdobrou-se em aulas de piano que rolavam numa escola do bairro. Mas o sonho n&atilde;o durou muito. Na primeira crise financeira, o rapaz teve que abandonar o curso para ajudar nas contas da casa. Foi quando ele passou a vender produtos de limpeza e jornais nas ruas cariocas. Mas nem pense que ele desistiu. Jonathan foi atr&aacute;s de uma bolsa de estudos e conheceu mentores importantes da cena musical. Aos 18 anos, mergulhou no jazz escutando e investigando artistas como John e Alice Coltrane, Sun Ra e Miles Davis, fazendo do estilo o seu objeto de pesquisa e de constru&ccedil;&atilde;o de identidade. Hoje, aos 34 anos, Ferr &eacute; considerado o precursor do &ldquo;urban jazz&rdquo; no Brasil, g&ecirc;nero que linka o pop aos elementos do <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/50-cent-nova-producao-power-book-iii-raising-kanan">hip-hop</a>, do R&amp;B e da m&uacute;sica eletr&ocirc;nica, trazendo uma atmosfera l&uacute;dica alinhada ao figurino colorido que desafia as classifica&ccedil;&otilde;es de g&ecirc;nero e de est&eacute;tica.</span></p>
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              <div class="column">
                <p style="text-align: justify;"><span>Para a L&rsquo;Officiel Hommes, o artista falou com exclusividade sobre a carreira e os projetos que v&ecirc;m por a&iacute;.</span></p>
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        <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFFICIEL HOMMES:&nbsp;</span><span>Como tudo começou?<br /></span><span>JONATHAN FERR:&nbsp;</span><span>Antes de tudo, lembro-me dos meus pais reunidos na sala para assistir ao programa &ldquo;Pianíssimo&rdquo;, apresentado aos sábados, na Rede Viva, pelo pianista e solista Pedro Mattar, na década de 1990. Os meus cinco irmãos dormiam mais cedo e eu ficava com os meus pais apreciando aquele momento musical. O formato do programa atendia aos pedidos do público que, ge- ralmente, pedia músicas populares do jazz como Frank Sinatra, Tom Jobim, Duke Ellington. De maneira silenciosa e inconsciente, acredito que isso foi uma forma de mostrar o caminho que eu poderia percorrer dentro da música &ndash; e, graças aos gênios da área aos quais tive acesso e à minha empresária e produtora, Tânia Artur, pude construir uma carreira que me permite exibir repertórios diversos e autorais. É muito emocionante trazer esta memória à tona, pois ela foi, inclusive, suprimida da terapia.</span></p>
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                <p><span></span></p>
                <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFF:&nbsp;</span><span>Dentro da reflexão do texto, encontramos na nova MPB nomes relevantes como Anitta, Tiago Iorc e Letrux. Por que temos dificuldade em listar nomes da cena do jazz, principalmente na ala mais contemporânea?<br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">JF:&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">O jazz tem um conjunto de estigmas alegóricos empregados que, no Brasil, foi apresentado com distanciamento do imaginário popular. Essa tônica deixou o jazz em uma posição menos acessível. Muita gente enxerga o estilo como uma música complexa e segmentada, para uma elite específica da sociedade bra</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">sileira. Para entender o jazz, o cara precisa ter mil vinis em casa, com o mínimo de pesquisa, trazendo uma pseudossofisticação que não existe para o segmento. Como bandeira do meu trabalho, procuro democratizar a minha música e o jazz, pois tem o perfil de mexer com a subjetividade do ouvinte em qualquer lugar e situação. A música atinge cada um de uma maneira diferente. A música instrumental acessa a sua história, a sua subjetividade. O álbum &ldquo;Cura&rdquo;, por exemplo, tem pegada sensível, que traz histórias e componentes de maneira lúdica. Quero provocar o ouvinte a vivenciar as possibilidades com as minhas canções. Tenho como objetivo conectar e não entreter. O entretenimento é vazio, mas a conexão é fixa, forte e constante, levando esta experiência para a vida e para o dia a dia.</span></p>
                <p style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;"></span></p>
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              <div class="column">
                <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFF:&nbsp;</span><span>Você acha que o mercado da música brasileira é democrático? <br /></span><span>JF:&nbsp;</span><span>Acho que depende do ponto de vista. O fenômeno que aconteceu no Brasil e que ajudou a democratizar a música foi o midstream. O &ldquo;mercado do meio&rdquo; gerou possibilidades mais populares para divulgar o trabalho com qualidade, budget menor e por meio de uma campanha com distribuição/acesso em diferentes&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">plataformas. Este fato já existia na Europa e agora ganhou força por aqui. Antigamente, um artista para ter algum destaque pre- cisava investir em uma estratégia muito bem definida e mesmo assim não era garantia de sucesso. Sou um artista que não tem os números da Anitta, mas tenho relevância no mercado. Tenho uma gravadora como a Som Livre e estou fazendo shows para um público bacana. Percebo em meus shows um espectador que não é do jazz e acho isto muito interessante. Houve em uma das minhas apresentações a abordagem de uma molecada de 18 anos, que estava ali curtindo o som. Portanto, houve conexão. Cada pessoa recebe de uma maneira a música e isso vai muito de acordo com as vivências, momento, alma e espírito. O meu objetivo é atingir diferentes públicos com uma conexão, reflexão! A música é recebida de outra forma quando falamos de um público mais velho, por exemplo, que também frequenta os shows. São gerações diferentes e é um desafio proporcionar esse engajamento com diferentes pessoas.</span></p>
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        <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFF:&nbsp;</span><span>Qual é a sua relação com a moda em sua música e construção? <br /></span><span>JF:&nbsp;</span><span>Eu amo a moda! A moda comunica, ela possui vários signos. Portanto, trago isso com muita consciência para os shows. A maioria dos artistas que observo dentro do jazz tem como preocupação tocar bem. Se esquecem da estética como parte do processo. Quando o público vai ao espetáculo ele quer, claro, escutar uma boa música, mas o visual é o primeiro impacto. É o primeiro contato! Apenas tocar bem não é o suficiente. O artista precisa chamar a atenção de alguma forma e precisa fazer essa comunicação por meio do figurino também. Trago uma moda sempre com influências do afrofuturismo. O que é masculino ou feminino? Roupa de homem ou roupa de mulher? Gosto de buscar esse lugar sem gênero. Acredito que o não gênero é uma tendência. É um lugar futurista. A minha relação com a moda é tão forte que estou desenvolvendo uma linha de joias pra lançar ainda este ano em parceria com o designer Gil Haguenauer.</span></p>
        <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFF:&nbsp;</span><span>Você acredita que o movimento do afrofuturismo surgiu como a Tropicália, que veio para dar liberdade de expressão diante da instabilidade política e social daquela época?<br /></span><span>JF:&nbsp;</span><span>Acredito que sim! O movimento já está acontecendo e agora vai explodir. Já existem artistas como o escritor Fábio Cabral, que traz uma literatura focada nessa temática, além de artistas plásticos que pintam com uma perspectiva afrofuturista. Cinema, música e dança também trazem cada vez mais esse conceito. O movimento vai ser mais representativo daqui para frente. Outro ponto que o conceito traz é a questão espiritual e ancestral carregando história e comportamentos. O afrofuturismo é uma tecnologia de sobrevivência preta.</span></p>
        <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFF:&nbsp;</span><span>Existe a improvisação como uma das características do jazz em seu som e arranjos?<br /></span><span>JF:&nbsp;</span><span>O improviso acontece sempre. Acho que é a base do jazz, principalmente quando você toca com artistas que conhecem o timing. Essa liberdade que o jazz oferece é muito potente e enriquecedora. Há shows em que invisto em muita improvisação. Gosto de tocar e brincar com liberdade e alegria.</span></p>
        <p style="text-align: justify;"><span>L&rsquo;OFF:&nbsp;</span><span>Cura, lançado em 2021, recebeu prêmios e foi considerado um dos 50 melhores álbuns nacionais pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Como é receber uma honraria por um trabalho produzido em plena pandemia?<br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">JF:&nbsp;</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">O meu trabalho sempre está conectado às experiências pessoais. Angústias, medos, anseios... São sentimentos que colocamos para fora. Este álbum foi intenso porque foi no auge da pandemia em que a ansiedade estava à flor da pele. Não saber o dia de amanhã, pessoas queridas e próximas falecendo por conta de uma doença sem muito conhecimento. Foi desesperador e ao mesmo tempo enriquecedor, pois mergulhei em mim mesmo. Foi o processo que ajudou a me conhecer. Durante a pandemia encerrei um relacionamento, alguns trabalhos foram interrompidos, toda a turnê já programada foi cancelada; rolou medo da morte, medo da família em perigo, medo de perder os amigos... Realmente, foi um período de ansiedade, com bastante tempo para visitar os quartos escuros. Medo, anseio e aflições ressignificados de alguma forma. Portanto, &ldquo;Cura&rdquo; &ndash; como o próprio nome diz &ndash; veio para curar, como um processo medicinal. Foi um álbum de imersão. Engraçado receber este prêmio porque no final fiquei com muito receio de publicar o trabalho porque me senti exposto. Existe uma música chama- da &ldquo;Choro&rdquo;, que representa o meu choro, a minha tristeza. Brinco que este é um álbum noturno, porque é na penumbra da noite que sofremos. A música &ldquo;Caminho&rdquo; fecha o álbum, trazendo sons de pássaros, como se isso representasse o nascer de um novo ser humano, com uma nova perspectiva por meio da reflexão. Este álbum é ritual, algo como &ldquo;música-medicina&rdquo;. Fez-me aprender que a cura não é instantânea. Tudo precisa de um processo. A cura é a beleza que vemos em nosso olhar.</span></p>
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<p style="text-align: center;"><em><strong>Cr&eacute;ditos:<br /><br /></strong>Foto: R</em><span><em>enan Oliveira </em><br /><em>Assistentes de fotografia: Felippe Costa e Bia Novaes </em><br /><em>Stylist: Lucas Magnof</em><br /><em>Assistente de moda e stylist: Faby Pernambuco </em><br /><em>Beleza: Laura Peres, Tania Artur</em><br /></span><span></span><strong></strong></p>

Jonathan Ferr em entrevista exclusiva para a L'Officiel Hommes

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