<p>Cantora estrela espet&aacute;culo que exalta o legado de um &iacute;cone musical para a cultura brasileira</p>

<p style="text-align: justify;">Uma das maiores int&eacute;rpretes da m&uacute;sica nacional &eacute; trazida aos palcos de hoje para falar sobre liberdade art&iacute;stica em meio &agrave; brasilidade. <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/cultura-confira-agenda-teatral-repleta-de-musicas-humor-e-emocao"><strong>Vanessa da Mata</strong></a> estrela <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/ama-musicais-la-la-land-vai-ser-exibido-com-trilha-sonora-ao-vivo"><strong><em>Clara Nunes, A Tal Guerreira</em></strong></a>, musical que celebra a trajet&oacute;ria e a sensibilidade de uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos.</p>
<p style="text-align: justify;">Em cartaz no Teatro Renault, em S&atilde;o Paulo, o espet&aacute;culo, com dire&ccedil;&atilde;o e adapta&ccedil;&atilde;o de Jorge Farjalla, faz uma viagem pela trajet&oacute;ria da artista que marcou a hist&oacute;ria da M&uacute;sica Popular Brasileira. No enredo, a cantora &eacute; guiada pela amiga e diretora Bibi Ferreira e por seus Orix&aacute;s. Clara Nunes ainda est&aacute; arraigada no plano f&iacute;sico e precisa entender a transi&ccedil;&atilde;o entre dois mundos em uma mistura instigante e curiosa.</p>

Vanessa da Mata | Foto: Divulgação

<p style="text-align: justify;">Entre momentos marcantes da carreira, um barrac&atilde;o de escola de samba &eacute; onde as personagens de sua trajet&oacute;ria se destacam em peda&ccedil;os de carros aleg&oacute;ricos refletidos na realidade da cantora. Para contar a hist&oacute;ria de Clara Nunes, futuro, presente e mem&oacute;ria no barrac&atilde;o da vida se entrela&ccedil;am para viverem esse grande carnaval chamado eternidade.</p>
<p style="text-align: justify;">Em <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/claudia-raia-e-jarbas-em-entrevista-exclusiva-a-l-officiel-brasil"><strong>entrevista exclusiva</strong></a> &agrave; L&rsquo;Officiel Brasil, a cantora Vanessa da Mata falou sobre os desafios de viver um dos &iacute;cones da m&uacute;sica no teatro, a influ&ecirc;ncia de Clara Nunes na cultura brasileira e as li&ccedil;&otilde;es que aprendeu no palco ao viver uma das artistas mulheres mais consagradas de todos os tempos. Confira!</p>

<h3 style="text-align: justify;">Quando surgiu a ideia de interpretar Clara Nunes no teatro?</h3>

<p style="text-align: justify;">Na verdade, a interpreta&ccedil;&atilde;o da personagem de Clara n&atilde;o foi imediata na minha cabe&ccedil;a. Nas minhas ideias, eu queria traz&ecirc;-la ao mercado de volta, ao p&uacute;blico porque achava que ela n&atilde;o tinha alcan&ccedil;ado o lugar que sempre mereceu. Ent&atilde;o, comecei a planejar fazer alguma coisa para que a mem&oacute;ria dela voltasse. E, com os anos, eu fui entendendo o que poderia ser, para contar a hist&oacute;ria dela, que eu admirava muito, e era uma menina extremamente sofrida, e uma sobrevivente mesmo dos seus dramas. Ela era uma &oacute;rf&atilde; de pai e m&atilde;e cujo irm&atilde;o mais velho era arrimo de fam&iacute;lia e matou o namorado quando ela [Clara Nunes] tinha 13 anos. Porque o namorado espalhou para a cidade inteira que tinha desonrado. Na &eacute;poca, existia essa coisa de lavar a honra, matar a pessoa, enfim, e fugiu, quer dizer, Clara perdeu os quatro primeiros amores da sua vida.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Como foi a prepara&ccedil;&atilde;o para encarar a rotina nos palcos? O que foi mais desafiador nesse processo?</h3>

<p style="text-align: justify;">A prepara&ccedil;&atilde;o foi muito intensa e dolorosa at&eacute; demais para mim. Mas pela aten&ccedil;&atilde;o, pela auto cobran&ccedil;a. Acho que os textos tamb&eacute;m, por serem bem grandes, que &eacute; uma coisa que eu n&atilde;o lidava antes e n&atilde;o sabia como lidar, a tal profiss&atilde;o nova como atriz, al&eacute;m de cantar com uma roupagem meio anos 50, 60, vinda de Dolores Duran e dessa galera de Carmem [Miranda] tamb&eacute;m. Tudo com mais vibrato, uma maneira da Clara de cantar com mais escurid&atilde;o na voz e com mais espa&ccedil;o. Isso era o mais f&aacute;cil. Acredito que, para mim, o mais dif&iacute;cil foi a interpreta&ccedil;&atilde;o dos textos. Gravar os textos era um desafio enorme.</p>

Vanessa da Mata | Foto: Priscila Prade

<h3 style="text-align: justify;">Clara Nunes sempre foi uma refer&ecirc;ncia musical para voc&ecirc;? No que mais ela te inspira?</h3>

<p style="text-align: justify;">Minha m&atilde;e ouvia muito Clara. Ent&atilde;o, nos meus primeiros anos, eu acho que tive uma influ&ecirc;ncia enorme, mesmo estando em um lugar de alta presen&ccedil;a musical. Eu n&atilde;o tinha mem&oacute;ria do rosto da Clara, nem dos cabelos. Fui perceb&ecirc;-la muito depois porque ela morreu. Eu era muito pequena. Mas acho que as refer&ecirc;ncias e essa simbologia do sagrado, essa intelig&ecirc;ncia emocional de trazer um Brasil muito democr&aacute;tico, de cantar o Brasil num lugar t&atilde;o culto, das tr&ecirc;s ra&ccedil;as etc. Para mim, era uma coisa muito forte, de alta qualidade mesmo.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Al&eacute;m da apar&ecirc;ncia f&iacute;sica, o que mais te aproxima de Clara Nunes?&nbsp;</h3>

<p style="text-align: justify;">Eu nunca me achei parecida com a Clara. Acho que &eacute; muito mais uma serenidade, uma maneira de falar mais calma e tranquila do que a apar&ecirc;ncia f&iacute;sica. A Clara tinha os cabelos muito lisos e era muito branca. Ela fez permanente nos cabelos [t&eacute;cnica capilar para criar cachos ou ondas] depois de muito tempo, j&aacute; trazendo essa nova identidade dela do samba. Mas eu acho que, por causa dos cabelos, as pessoas come&ccedil;aram a falar, mas muita gente n&atilde;o sabe que ela tinha os cabelos com permanente.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Clara Nunes foi um marco na cultura pelo pioneirismo na luta contra a intoler&acirc;ncia religiosa e o racismo ao trazer as religi&otilde;es de matriz africana em suas apresenta&ccedil;&otilde;es, al&eacute;m de quebrar tabus, sendo a primeira mulher com o maior n&uacute;mero de discos vendidos no Brasil. Para voc&ecirc;, qual caracter&iacute;stica da cantora a tornou pioneira em seu tempo?</h3>

<p style="text-align: justify;">Acho que tudo isso &eacute; uma imagem que traz tudo isso: a luta, a representa&ccedil;&atilde;o das religi&otilde;es afro-brasileiras, essa coisa do usar branco que vem das matrizes afro-brasileiras que j&aacute; n&atilde;o era uma coisa t&atilde;o ligada &agrave; Carmen Miranda, j&aacute; que foi a grande influ&ecirc;ncia dela para assumir esse outro lado dos sambas e dos ritmos de rua que eu os chamo de originais brasileiros.</p>
<p style="text-align: justify;">Acho que, para mim, o que mais era lindo era a extens&atilde;o vocal dela, o timbre de voz e os ritmos que ela trazia. Ela [Clara Nunes] era um tipo de music&oacute;loga. Ela cantava e as pessoas n&atilde;o sabiam muito bem que ritmos eram aqueles, ent&atilde;o ficava numa onda um pouco meio estrangeira de dizer que era tudo samba. Mas a Clara cantava tudo, de folia de reis a caboclinho, forr&oacute;, v&aacute;rios tipos de samba e podia cantar qualquer coisa. Isso era uma destreza muito forte e um poder muito grande para uma cantora: transitar nesses ritmos todos e trazendo isso para o pop brasileiro. Ela era o pop brasileiro da &eacute;poca; o pop no sentido de popular.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Em se tratando de figurino, as pe&ccedil;as que caracterizam Clara Nunes trazem &agrave; tona a sua religiosidade afro-brasileira com rendas, adere&ccedil;os de cabe&ccedil;a, flores, p&eacute;rolas e elementos mar&iacute;timos. Para voc&ecirc;, o que mais caracteriza Clara Nunes no palco nesse aspecto? Existe algum figurino favorito?</h3>

<p style="text-align: justify;">Os figurinos s&atilde;o copiados de Clara. Todos eles existiram. Ent&atilde;o, at&eacute; o figurino final, que foi o &uacute;ltimo usado no desfile da [escola de samba] Portela e cantou, s&atilde;o c&oacute;pias dos originais. Aquilo tudo &eacute; muito Clara Nunes. N&atilde;o tem como negar.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Se voc&ecirc; fizesse uma retrospectiva da sua carreira, assim como ocorreu com Clara Nunes no espet&aacute;culo, qual epis&oacute;dio voc&ecirc; destacaria?</h3>

<p style="text-align: justify;">Acho que n&oacute;s temos algumas coisas em comum. Eu venho do interior, sa&iacute; com 14 anos. Ela saiu com 15 anos. Tenho uma casa de shows &ndash; sou uma das donas da Casa Natura Musical - e Clara tinha um teatro. Acho que eu canto na mesma regi&atilde;o que Clara, apesar de n&atilde;o a ver cantando as minhas m&uacute;sicas. Nossa diferen&ccedil;a acho que &eacute; de tempo mesmo. Eu sou uma mulher do final do s&eacute;culo para esse s&eacute;culo e tenho minhas composi&ccedil;&otilde;es, produzo os meus discos e as diferen&ccedil;as s&atilde;o enormes, mas acho que o que mais nos aproxima &eacute; essa coisa do interior, a tranquilidade no nosso semblante. &Eacute; a proximidade de um Brasil profundo, do Centro-Oeste. E o contato com as m&uacute;sicas regionais, que eu chamo de originais. Eu com a folia de reis, ela com a congada ou congado, dependendo de quem chama, pois isso &eacute; regional tamb&eacute;m.</p>

<h3 style="text-align: justify;">O que Clara Nunes falaria para o Brasil de hoje?</h3>

<p style="text-align: justify;">N&atilde;o tenho a menor ideia. Na verdade, acho que, se Clara estivesse viva, assim como Elis [Regina], Gonzaguinha, Jo&atilde;o Nogueira, Roberto Ribeiro, a m&uacute;sica seria completamente diferente hoje porque eles eram muito fortes. O mercado traria menos m&uacute;sicas f&aacute;ceis para o povo, teria mais respeito com o povo. Seria bastante diferente.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Esta foi a sua primeira vez em turn&ecirc; com espet&aacute;culo. Qual li&ccedil;&atilde;o voc&ecirc; leva dos palcos para a vida?</h3>

<p style="text-align: justify;">Tenho muitas li&ccedil;&otilde;es que eu levo desse espet&aacute;culo para a vida. Atuar me fez muito bem. Acho que me deu um gostinho de estar de f&eacute;rias de mim mesma. Cada vez que fa&ccedil;o um show meu, eu venho com muito mais g&aacute;s, vontade e for&ccedil;a. Poder interpretar uma mulher deste gabarito, t&atilde;o grandiosa &eacute; tamb&eacute;m poder entrar naquela &eacute;poca, naquela qualidade musical, na mulher t&atilde;o merecedora de cantar uma alegria para o Brasil, mesmo tendo uma hist&oacute;ria t&atilde;o dram&aacute;tica, dr&aacute;stica, penosa, dolorida. Essas experi&ecirc;ncias [no teatro] s&atilde;o sempre muito fortalecedoras e tranquilizantes, no final das contas. Elas transmitem uma viv&ecirc;ncia, uma sabedoria, uma segunda possibilidade de vida - digamos assim. Acho que todo mundo, inclusive as escolas prim&aacute;rias, deveriam ensinar o teatro porque isso livra as crian&ccedil;as de muitas viol&ecirc;ncias dom&eacute;sticas e de problemas. Elas conseguem sair de si mesmas e de suas pr&oacute;prias press&otilde;es e encararem a vida de maneira diferente, sem precisar de qualquer coisa; s&oacute; de brincar o teatro.</p>

<h3 style="text-align: justify;">Pretende continuar a experi&ecirc;ncia como atriz? O que podemos esperar de Vanessa da Mata para 2025?</h3>

<p style="text-align: justify;">Eu adoraria continuar essa experi&ecirc;ncia, sim, mas tudo depende do meu tempo, dos meus lan&ccedil;amentos de disco e dos projetos que eu tenho naquele momento. Tudo tem que ser visto com muita antecipa&ccedil;&atilde;o para que haja dedica&ccedil;&atilde;o porque vou ter que me dedicar a vera, de verdade.</p>

Vanessa da Mata vive Clara Nunes no teatro

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