Dulce Mar&iacute;a &eacute; a nossa convidada especial para a entrevista de estreia do nosso segundo ano da nossa s&eacute;rie "Parle L&rsquo;Officiel". M&atilde;e de primeira viagem ao mesmo tempo que d&aacute; seus primeiros passos como artista independente, a cantora e atriz mexicana contou tudo sobre este novo momento de vida e carreira. E voc&ecirc; pode conferir a conversa aqui em texto e v&iacute;deo.

Na minha carreira como rep&oacute;rter, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/leticia-spiller-entrevista-parle-lofficiel">j&aacute; entrevistei</a> diversas grandes celebridades. Mas uma coisa que chama a aten&ccedil;&atilde;o sobre Dulce Mar&iacute;a &eacute; o carinho e a lealdade que seus f&atilde;s demonstram sempre. Qualquer men&ccedil;&atilde;o sobre ela na internet resulta em uma chuva de amor. E isso, claro, n&atilde;o &eacute; &agrave; toa. Na uma hora que passei com Dulce dentro e fora da grava&ccedil;&atilde;o, posso dizer que &eacute; uma das pessoas mais simp&aacute;ticas e verdadeiras que eu j&aacute; conheci.
Come&ccedil;ou sua carreira quando pequena, assim como as irm&atilde;s que volta e meia tamb&eacute;m faziam comerciais e novelas, sempre acompanhadas da m&atilde;e para os testes e trabalhos. &ldquo;N&atilde;o me dava conta que era de fato uma carreira, achava que era algo que estava fazendo e que eventualmente teria uma carreira &lsquo;normal&rsquo;. E a&iacute; percebi que n&atilde;o, que realmente poderia fazer disso a minha vida&rdquo;, lembra Dulce, &ldquo;foi realmente aos 15 anos, quando entrei no grupo Jeans, que entendi que eu estava me dedicando a isso, que era o que me dava acesso, dinheiro e trabalho. Era algo a ser levado a s&eacute;rio&rdquo;.

Dulce María

Conquistou sua fama internacional por interpretar Roberta Pardo Rey na <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/rebelde-2022-quem-sao-os-atores-da-nova-producao">novela Rebelde</a> que se tornou uma febre entre adolescentes no mundo todo em 2004. Na &eacute;poca, j&aacute; tinha quase 15 anos de carreira, o que a ajudou a lidar de uma forma saud&aacute;vel com a grande exposi&ccedil;&atilde;o que surgiu de um dia para o outro.&ldquo;Ningu&eacute;m me deu nada de presente. J&aacute; trabalhava desde os 5 anos, ent&atilde;o eu valorizava todas as coisas boas que aconteciam para mim. Cada concerto, cada conquista, todo este boom que surgiu com Rebelde, eu sei o valor que isso tem. Mas, claro, nunca &eacute; normal. N&atilde;o era f&aacute;cil assimilar o que se passava. Porque ao mesmo tempo, eu estava trabalhando todos os dias na novela e nos finais de semana com o grupo musical. N&atilde;o tinha tempo para processar nada. Est&aacute;vamos em in&eacute;rcia para seguir em frente. Acho que s&oacute; consegui digerir tudo que vivemos quando acabou&rdquo;, lembra.&nbsp;
Foi gra&ccedil;as ao sucesso da s&eacute;rie que pela primeira vez p&ocirc;de cruzar fronteiras com o seu trabalho, sendo o Brasil, foi o primeiro pa&iacute;s em que se apresentou onde o p&uacute;blico n&atilde;o falava espanhol, &ldquo;me apaixonei&rdquo;. De todas as experi&ecirc;ncias, ela destaca a visita a uma churrascaria em Porto-Alegre como uma de suas favoritas (o que deixo aqui destacado, pois &eacute; minha responsabilidade como gaucha). Mas de fato, o que realmente surpreendeu Dulce foi o carinho do p&uacute;blico que recebeu durante sua visita. &ldquo;Chegar a tantos pa&iacute;ses e ver que no final, todos se conectam com as mesmas emo&ccedil;&otilde;es, seja amor, desilus&atilde;o, solid&atilde;o, com a rebeldia ou com a ideia de lutar pelos sonhos. Sem importar com a cultura ou pa&iacute;s todos nos conectamos com isso. Para mim, isso foi algo muito bonito&rdquo;, reflete.
A rela&ccedil;&atilde;o com o p&uacute;blico &eacute; algo que sempre a motivou, &ldquo;porque voc&ecirc; consegue chegar em algu&eacute;m, tocar cora&ccedil;&otilde;es e de alguma forma ajudar e contribuir para a vida deles&rdquo;. Ela tamb&eacute;m se beneficia da troca &ldquo;h&aacute; anjos que chegaram em minha vida para mud&aacute;-la&hellip; sempre houveram pessoas que me marcaram na mente ou no cora&ccedil;&atilde;o pelas suas hist&oacute;rias que chegavam a mim&rdquo;. Quando Rebelde estava em seu auge, o contato com os f&atilde;s n&atilde;o era f&aacute;cil, Dulce recebia cartas e trocava hist&oacute;rias com seus admiradores quando os encontrava em shows. Com o passar dos anos, as redes sociais permitiram a ela &ldquo;reconectar com gente que sempre me apoiou muito. Que hoje tem profiss&otilde;es e trabalhos diferentes e vivem em diferentes partes do mundo. Mas que cresceram comigo e acompanharam minha carreira&rdquo;.

No entanto, h&aacute; desafios &uacute;nicos na rela&ccedil;&atilde;o com o p&uacute;blico durante a longa carreira. &ldquo;Obviamente, n&atilde;o sou a mesma pessoa de quando tinha 18 anos, agora que tenho 36. J&aacute; se passaram 18 anos. Eu mudei, evolui e essa &eacute; a ideia. H&aacute; pessoas que esperam que voc&ecirc; seja a mesma que era naquela &eacute;poca, o que seria terr&iacute;vel&rdquo;, explica. Da mesma forma que alguns f&atilde;s acompanharam suas mudan&ccedil;as e seguem com ela at&eacute; hoje, &ldquo;h&aacute; pessoas que a gente perde no caminho, como tamb&eacute;m acontece com as nossas amizades. A gente cresce e &agrave;s vezes os caminhos se separam. Pode ser que um dia voltamos a nos encontrar no caminho&rdquo;, reflete.
Uma das principais mudan&ccedil;as em sua carreira foi se desvincular de qualquer grande est&uacute;dio para lan&ccedil;ar o &aacute;lbum Origen de forma independente, o que lhe deu liberdade sair do estilo estabelecido por Rebelde e criar do seu jeito sem a press&atilde;o por resultados comerciais, &ldquo;levo na minha m&uacute;sica parte das minhas raizes e tradi&ccedil;&otilde;es, da minha cultura&rdquo;. Dulce Maria ainda tem dificuldade de se ver como uma representante do M&eacute;xico para o mundo. Por sorte, tem um forte exemplo dentro da pr&oacute;pria fam&iacute;lia, a artista Frida Kahlo &eacute; sua tia-av&oacute;. &ldquo;Ela simplesmente era. Sem se auto-rotular, era aut&ecirc;ntica. E isso &eacute; o que eu tento resgatar. O transformar a dor, os medos e os desafios em arte&rdquo;. &nbsp;
Kahlo se tornou um forte exemplo da cultura mexicana e tamb&eacute;m &eacute; um s&iacute;mbolo feminista. E Dulce Mar&iacute;a acaba levando as duas bandeiras tamb&eacute;m em uma vers&atilde;o mais pop e com suavidade. Para ela, &ldquo;N&oacute;s [mulheres] podemos ser qualquer coisa, ser livres e ser felizes. Mas isso sem um discurso de &oacute;dio, sem r&oacute;tulos e sem machucar ningu&eacute;m. A ideia &eacute; empoderar para que voc&ecirc; seja voc&ecirc; mesma. E tenha liberdade para fazer o que faz voc&ecirc; feliz&rdquo;.&nbsp;
Al&eacute;m de poder levar as suas mensagens e dar a sua cara ao projeto, a m&uacute;sica tamb&eacute;m permitiu que ela tenha mais controle do seu tempo, algo que se tornou muito importante no in&iacute;cio de 2020, quando descobriu que estava gr&aacute;vida &nbsp;da filha Maria Paula um m&ecirc;s ap&oacute;s o come&ccedil;o da pandemia, &ldquo;a minha vida mudou, pela pandemia e pela beb&ecirc;, porque foi tudo ao mesmo tempo&rdquo;, lembra, &ldquo;&eacute; uma experi&ecirc;ncia &uacute;nica. Vemos de fora como algo t&atilde;o normal, mas &eacute; uma conquista que nunca poderia ter no meu trabalho. N&atilde;o sei, &eacute; um amor imenso. Faz com que voc&ecirc; possa, n&atilde;o sei se mover montanhas, mas muda completamente as suas prioridades&rdquo;.

As grava&ccedil;&otilde;es em est&uacute;dio a permitiram estar mais em casa sem perder o espa&ccedil;o para criar e colaborar com outros artistas. Na nova fase, Dulce Mar&iacute;a participou de grava&ccedil;&otilde;es com Priscilla Alc&acirc;ntara, Rebecca e at&eacute; se aventurou no funk brasileiro junto a Kevin O Chris. Por&eacute;m, a que guarda com mais carinho &eacute; a participa&ccedil;&atilde;o de Mar&iacute;lia Mendon&ccedil;a em Origen. Na nossa entrevista em v&iacute;deo voc&ecirc; pode ouvir todas essas hist&oacute;rias.
Mesmo mantendo-se ativa, Dulce Mar&iacute;a, explica que sua gravidez foi um momento muito dif&iacute;cil, por isso aprendeu a n&atilde;o romantizar nem a gravidez nem a maternidade, &ldquo;cada mulher &eacute; diferente. &Eacute; muito duro julgar uma mulher gr&aacute;vida. Ou dar como fato: mas a fulana cantava at&eacute; uns oito meses de gravidez. Eu n&atilde;o conseguia fazer nada. Estava paralisada. Tinha medo pelo beb&ecirc;. Ser&aacute; que eu sobrevivo ao parto? Sem contar a pandemia. Eram muitas quest&otilde;es&rdquo;, destaca, &ldquo;mas aprendi que n&atilde;o podia fugir, porque mais importante que tudo isso &eacute; o ser que est&aacute; crescendo dentro de mim. Acho que a maternidade te d&aacute; um poder, uma for&ccedil;a. Mesmo que voc&ecirc; sinta que j&aacute; n&atilde;o consegue mais, voc&ecirc; pode, porque ali est&aacute; o seu beb&ecirc; que precisa de voc&ecirc;&rdquo;.
Este jeito p&eacute; no ch&atilde;o e humilde de Dulce s&atilde;o parte de sua ess&ecirc;ncia. Ela acredita que isso vem de sua base como a cria&ccedil;&atilde;o, os limites e valores que aprendeu com a fam&iacute;lia. No entanto tem uma parte espiritual bastante forte, sua conex&atilde;o com Deus &eacute; algo que lhe ajuda a entender que tudo &eacute; tempor&aacute;rio "&agrave;s vezes voc&ecirc; vai estar por cima e as vezes por baixo e tudo passa. Por isso &eacute; importante ser emp&aacute;tico, respeitoso, agradecido e educado como toda a humanidade e com todo mundo&rdquo;.
Das li&ccedil;&otilde;es que leva destes anos todos de carreira para a vida &eacute; &ldquo;n&atilde;o acreditar nas coisas muito boas que te dizem nem nas coisas muito ruins. Porque tamb&eacute;m tem gente que te insulta e te diz coisas que tamb&eacute;m podem afetar a sua vida&rdquo;. Tamb&eacute;m destaca &ldquo;ningu&eacute;m &eacute; perfeito. Eu tamb&eacute;m me irrito, tamb&eacute;m estou aprendendo a colocar limites. Porque &agrave;s vezes por ser buena onda &nbsp;(flex&iacute;vel) passam por cima de voc&ecirc;, o que n&atilde;o &eacute; legal. Voc&ecirc; tem que ter amor pr&oacute;prio, mas tamb&eacute;m ser humilde. Isso tudo, acho vem das pessoas que est&atilde;o a sua volta e dos seus valores, sua forma&ccedil;&atilde;o e de sua f&eacute;&rdquo;.

Dulce María: uma entrevista com a atriz buena-onda e sem rótulos

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