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<p><em>Com premiação no ars viva 2025 na bagagem, Wisrah C.V. da R. Celestino negocia caminho próprio no espaço global da arte conceitual.</em></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>São oito <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/junya-watanabe-fw24-o-contraste-entre-roupas-e-esculturas">esculturas</a>, montadas a partir de ripas de peroba-rosa resgatadas de ambientes de demolição. As medidas seguem o padrão ABNT para construção de portas e batentes. Os veios das madeira, símbolo da construção de casarões coloniais, carregam marcas de um país colonizado que tem também suas próprias. Na sala ao lado, um termômetro mede a temperatura do ambiente &ndash; enquanto a porta principal segue fechada, guiando a audiência para a entrada secundária.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>O cenário é a primeira exposição individual em <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/maison/riccy-souza-aranha-apresenta-a-espacosa-casa-onde-vive-em-sao-paulo">São Paulo</a> de Wisrah C.V. da R. Celestino, artista do interior de Minas Gerais que ocupou o espaço da GDA, jovem galeria na Barra Funda, até meados de março. Apesar da carreira recente (sua primeira mostra coletiva foi em 2019), Wisrah já carrega um currículo que impressiona, com mostras e prêmios no Brasil e pelo cenário europeu. A última, para surpresa própria, foi o ars viva 2025, célebre premiação alemã iniciada na década de 1950 e que já foi entregue a nomes como Marina Abramović e Wolfgang Tillmans. Wisrah faz parte do trio reconhecido neste ano, ao lado da sul-africana Helena Uambembe e do belga Vincent Scheers.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Apesar do primeiro parágrafo, Celestino não tem grandes interesses em explicações miúdas ao público sobre o que está </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">acontecendo na sua obra &ndash; tanto que a mostra em São Paulo tem zero guia textual, nem título para dar uma pista. Não por empáfia ou ironia, mas por um interesse maior em deixar o caminho aberto a interpretações e em um exercício pessoal de abrir mão do controle da informação sobre o que expõe. Há uma carga de significado, mas ela segue em aberto.</span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>O conjunto de construções de madeira, que abre a visita, é uma nova modulação em seu repertório: quis experimentar a criação de objetos escultóricos que se resolvem em si, não reproduzíveis. Ou, como define, &ldquo;tentar algo que vai além da reprodução do que já existe&rdquo;. É uma evolução de pensamento que continua se comunicando com as propostas que têm feito o nome de Celestino brilhar no circuito de mostras dedicadas à arte conceitual nos últimos anos.</span></p>
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Peso, 2024, montada em Viena. A obra reúne contêineres de metal cheios de água equivalentes ao peso do corpo de Wisrah. (Foto: Maximilian Anelli-Monti)

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<p style="text-align: justify;"><span>O seu corpo de trabalho fala muito sobre posse e pro- priedade, sobre fluxo transacional de objetos e as problemáticas de um mundo ainda sob o jugo colonial &ndash; mas também discute muito sobre si, de maneira enviesada. A artista é nascida em Buritizeiro, no sertão mineiro, às margens do Rio São Francisco, e carrega muito o quintal da família tanto de maneira abstrata quanto nas montagens que propõe &ndash; muitas delas a partir de partituras que guiam a estrutura das obras, ora efêmeras e localizadas (como em </span><span>Chaves </span><span>(2021), que expõe uma cópia de cada chave do espaço expositivo em que é montada), ora extremamente específicas, criando uma espécie de teologia particular.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Rental/Father </span><span>(2023) é um exemplo certeiro desse último grupo: a obra consiste em um antigo portão de ferro pertencente ao pai, que seguia guardado na garagem da família há anos e que, para que seja exposto, necessita de um contrato formal de aluguel firmado entre o proprietário e a instituição, tendo Wisrah como intermediadora, pervertendo as relações institucionais. </span><span>Privacidade </span><span>(2023) reúne uma série de cortinas emprestadas das mulheres da família, preciosidades retiradas do fundo dos armários de uma ascen</span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">dência trivial do interior mineiro. O passado de marceneiro do pai também guia a criação das esculturas que estreiam agora em São Paulo.</span></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>Dentro das suas discussões internas e externas, Wisrah segue nesse processo que descreve como &ldquo;desenhar a vida&rdquo;, barganhando e negociando a existência das suas obras dentro dos espaços. Autobiográfica, ainda que não fetichista, sua obra resolve questões familiares e de pertencimento &ndash; como artista que, sem casa fixa, se nomadiza entre Alema- nha e Brasil e não faz mais sentido na Umbuzeiro natal, mesmo que visite com frequência e mantenha seus laços por meio da arte &ndash; enquanto transaciona caminhos como pessoa do Sul Global que tem o poder de pensar a arte conceitual, um espaço normalmente tão dominado por pessoas muito diferentes da sua existência.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span>Nessa diligência, Wisrah coloca sobre si cargas simbólicas, como faz com os objetos pinçados para expor por aí segundo as suas partituras (também em exposição na GDA), que descreve como &ldquo;a categorização é minha, mas a matéria é informada por condições preexistentes&rdquo;. Uma descrição que, talvez nem perceba, fala muito sobre a própria artista.</span></p>
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Arte conceitual: Wisrah C. V. da R. Celestino trilha seu próprio caminho

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