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<p><em>A beleza da ironia! O pernambucano Mozart Guerra, radicado em Paris, vale-se de um certo humor cáustico e dos dramas atuais para tecer esculturas que instigam a reflexão</em></p>
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<p style="text-align: justify;"><span>Apesar da ironia e de um certo bom humor presente nas esculturas e nos objetos de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/l-officiel-hommes-35-a-arte-acima-de-tudo">Mozart Guerra</a>, é um clin d&rsquo;oeil, uma piscadela para a tragédia e para a ameaça que o artista pretende enfatizar. Nascido em Pernambuco há 62 anos e radicado em <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/moda-a-mostra-emposicoes-em-paris">Paris</a> há pouco mais de três décadas, Mozart bebe na cultura popular e nos dramas contemporâneos para construir os animais e as cabeças que o transformaram em espécie de referência pop na arte contemporânea internacional. Construídas com cordas náuticas ou de alpinismo manualmente alfinetadas sobre um molde de espuma expandida, as peças do pernambucano carregam uma estética particular, um colorido típico e uma postura que, muitas vezes, passa ao largo da alegria transmitida em um primeiro e desavisado olhar. Arquiteto de formação, Mozart começou a trajetória na arte pelo teatro. Fazia acessórios e cenografia, uma prática que o ajudou a desenvolver a criatividade para os materiais e a rapidez para idealizar soluções. &ldquo;Isso foi uma superescola para mim e até hoje me ajuda&rdquo;, conta. O barro foi um dos primeiros elementos utilizados, mas logo ele cederia espaço à espuma. &ldquo;A modelagem do barro, que é uma coisa bem nordestina, desenvolvi sozinho. Fui praticando cada vez mais no barro, que é quase sempre a origem das formas que faço. Dessas configurações, tiro o material definitivo com espuma expansiva, porque preciso recobrir o trabalho.&rdquo; Quando ele fala em &ldquo;recobrir o trabalho&rdquo;, se refere a um processo manual de aplicar as cordas sobre a espuma com alfinetes, tarefa para a qual conta com amigos e assistentes. &ldquo;Porque é muito lento e é uma coisa meio mântrica, a respiração muda, o gesto fica repetitivo e vai-se criando uma segunda pele, que é o que me interessa no final.&rdquo;</span></p>
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Fotos: Divulgação

<p style="text-align: justify;"><span>O realismo é a base para a sua produção, mas quando ele decidiu seguir por essa vertente, tinha consciência de que não era novidade. &ldquo;Esse universo é bem explorado e eu não traria nada de novo fazendo esculturas perfeitas em barro. A novidade é essa nova pele. Para mim, a força do trabalho está na junção do que é real e o que é a fantasia das cores que utilizo. É o meu partido estético. E com isso tenho a base para fazer outras coisas&rdquo;, explica. Para ele, o realismo não está apenas na forma, mas também na dimensão, por isso as peças são construídas em escalas de 1:1, ou seja, em tamanho natural. &ldquo;É como se aprisionasse aquela forma dentro das cordas&rdquo;, </span><span style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-caps: inherit; letter-spacing: 0px;">compara o artista, que gosta de se referir aos desenhos rupestres dos homens das cavernas para justificar o próprio portfólio. &ldquo;Eles desenhavam animais para se apropriar da força, para evocar, como num ritual xamânico. E hoje, embora a gente conteste a caça e a questão de se aproximar dos animais, tocar ainda é muito presente. E quando esculpo, percebo que tem essa coisa de se apropriar.&rdquo; Duas noções são importantes e recorrentes na compreensão artística de Guerra. Uma delas é a presença de animais. Eles não são aleatórios e emprestam a forma para a linguagem crítica que o artista faz questão de exercitar. Os animais estão em extinção e, por isso, entra a segunda noção &ndash; todos são revestidos com cordas coloridas dispostas em formato de alvo. Está aí o tal clin d&rsquo;oeil, uma chama- dinha para o espectador perceber a ameaça, a mesma que o levou a incluir formas humanas entre as esculturas. &ldquo;A ameaça está em toda a natureza, até nós humanos, não só nos animais ameaçados. E com humanos, comecei a trabalhar com indígenas, que também estão ameaçados. Essa é um pouco da proposta do trabalho em termos de reflexão. A técnica é o suporte para me deixar à vontade para a ponderação&rdquo;, avisa.</span></p>

<p style="text-align: justify;"><span>Mozart conta que sempre apreciou o universo e a estética dos povos originários, mas deixa claro que não quer apropriar-se desses elementos e, sim, incorporá-los de forma crítica. &ldquo;Não tenho a intenção de colocar o meu discurso em termos panfletários. Gosto de ironizar uma coisa séria, mesmo se o episódio é sério.&rdquo; De imediato, ele admite, surge o prazer de observar. &ldquo;Como tenho uma coisa muito técnica, o trabalho atrai imediatamente por conta dos riscos, da cor, da textura. E em seguida, as pessoas vão vendo a ironia, a reflexão. Basicamente, é isso que desenvolvo em cima desse universo.&rdquo;</span></p>

Mozart Guerra transforma cordas em crítica e poesia visual

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