Juliana Paes desvenda nova personagem para a L’Officiel Brasil
Em nova fase de carreira, com duas séries no streaming, Juliana Paes reflete sobre as demandas profissionais e as mudanças da indústria
Há décadas que Juliana Paes é uma das maiores referências da televisão brasileira. No entanto, os últimos dois meses a consolidaram em um novo patamar. Mal passou o barulho da série Pedaço de Mim da Netflix e ela já está de volta às nossas televisões em Vidas Bandidas, na Disney+. Na nova produção, a atriz vive a intrigante Bruna, uma líder de quadrilha que é norteada em busca de vingança e justiça pela morte de sua irmã mais nova.
“Ela é dessas personagens com que você se identifica, sem querer se identificar. Quando você se percebe torcendo pelo vilão porque entende ele, ou porque alguma faceta dele interessa ou toca você de alguma maneira”, comenta a atriz na nossa entrevista por telefone poucos dias antes da estreia. Neste novo momento de carreira, ela busca encontrar “esses papéis que mexem com o cotidiano das pessoas. Quando de alguma maneira o arco dramático do personagem pode inspirar a vida de alguém. Tem que ficar alguma reflexão. Isso é o que me instiga a contar uma história. Não importa se a personagem tem muito ou pouco a ver comigo”, reflete. “Não existe nada mais interessante para o artista do que provocar uma emoção ou um pensamento.”
Apesar da moral “meio torta” da personagem, Juliana encontrou no sentimento protetor pela irmã mais nova um ponto de identificação. Mas o que a instigou de verdade a tocar o projeto foi o fato de Bruna ter na trama um papel que geralmente é de personagens masculinos. “A chefe. A que manda. A que organiza. Tem uma coisa empoderada em ser a mulher que comanda todo aquele esquema. E achei que podia ser algo desafiador e divertido”, comenta. “Ela não herdou aquele cargo. Ela criou esse império ou gangue. E isso tinha um quê de novo para mim.”
Bastam alguns instantes de conversa para perceber que Juliana é uma pessoa sem rodeios. Franca e bem-humorada, transita com naturalidade do vocabulário mais sofisticado às gírias cariocas. Ela não esconde que é apaixonada pela sua arte, o que a ajuda a encarar os desafios das rápidas mudanças no mercado audiovisual. Por um lado, há mais mulheres por trás das câmeras e personagens femininas mais interessantes; porém, o ritmo de trabalho é outro, no streaming tudo é mais dinâmico. “Todas as cenas têm fio de tensão e de grande importância para contar a história.”
A relação com a personagem em cada um dos formatos também é diferente na novela. “Quando se chega a 150 capítulos, meu Deus, a personagem está muito na sua mão.” Mas, por ser uma obra aberta, deve-se estar preparada para diversas possibilidades. “Já no streaming existe uma acuidade de desenho de arco emocional, que é mais interessante se de fazer. É sempre gostoso saber como vai ser o fim. Porque consigo, de trás para a frente, fazer um desenho, na minha escaleta de emoção. Na minha escaleta do corpo do personagem.” Trabalhar sabendo tudo o que vai acontecer permite a ela ser ainda mais criativa e ousada na sua atuação.
E por mais que Juliana sempre vista a camisa dos projetos em que atua, estar quase que diariamente na sala de casa dos brasileiros em novelas, séries e filmes é também, de certa forma, estar exposta a críticas e polêmicas. “Faz parte do jogo, do showbiz. Faz parte do jogo democrático todo mundo poder opinar e falar o que quiser. E a gente tem que aprender a lidar com isso. Fazemos terapia para isso”, ri. “Eu sempre acreditei que o ator precisa ter uma dose de mistério, mas não pode ser uma figura inacessível. As pessoas precisam achar que quando a encontrarem em algum lugar podem falar com você. A sensação de que você não é um ser intocável. Pelo menos, para mim. Eu nunca gostei de parecer essa pessoa.”
Esse contato é ainda maior, hoje com o papel das redes sociais na sua profissão. Foi uma certa confusão até Juliana encontrar a forma ideal para expor aspectos de sua vida, sem perder a sua privacidade ou autenticidade e postar um “pão com manteiga” na falta do que postar. “Hoje sou norteada pelos meus desejos, pelo o que eu estou a fim. Tem fases que eu estou mais introspectiva”, reflete. “Eu estou me respeitando. Estes ciclos são parte de quem eu sou.” Esse equilíbrio, ela atribui à maturidade: “A gente vai aprendendo a se respeitar mais e não se atropelar pelas demandas. Porque elas vão ser sempre mais. E aí você se vê atropelada, por ‘precisa’, ‘que deve’, ‘que tem quê’. E hoje em dia eu não ‘tem que’ nada”, brinca.
Atualmente, Juliana tem a tranquilidade de poder ter mais escolha em seus projetos e viver sem certas obrigações impostas. “Claro que mesmo após três décadas de carreira, ainda há tanta coisa que eu acho que ainda quero conquistar, por mais madura e realizada que esteja. Mas hoje em dia, de verdade, estou vivendo uma fase com filhos adolescentes. Tenho dois meninos. Então, estou muito na batalha de educar bons homens. Isso é uma conquista íntima para mim. Quero poder lá na frente falar: ‘Caramba. Coloquei dois homens maneiros no mundo’. Esse é o objetivo maior que está no meu horizonte agora.”
Texto: Miriam Spritzer
Fotos: PUPIN+DELEU
Stylist: Alberth Franconaid
Make: Markito Costa
Hair: Simone Fontes
Produção de Moda: Lucas Elídio e Ronaldo José
