<p><em>Designer </em>de moda franc&ecirc;s fala de suas inspira&ccedil;&otilde;es, a paix&atilde;o pelo Brasil, o desejo de ver Maria Beth&acirc;nia com suas cria&ccedil;&otilde;es e no que acredita para o futuro da moda</p>

<p style="text-align: justify;">H&aacute; algum tempo, o trabalho de criativos de moda se restringiam ao cotidiano de seus ateli&ecirc;s e suas pr&oacute;prias inspira&ccedil;&otilde;es. Quebrando esse protocolo, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/os-vestidos-de-noiva-mais-incriveis-da-semana-de-moda-de-alta-costura-2020">Stephane Rolland</a> parece estar atento n&atilde;o apenas aos seus bastidores, mas tamb&eacute;m aos est&iacute;mulos que surgem a todo o momento.</p>
<p style="text-align: justify;">Desenhando croquis desde a inf&acirc;ncia, o designer possui uma carreira mete&oacute;rica no universo da moda. Depois de ter contato e seguido os conselhos de Pierre Berg&eacute;, figura lend&aacute;ria da moda parisiense, Stephane conseguiu uma entrevista na marca Balenciaga e se tornou, aos 21 anos, o mais jovem diretor criativo de Paris. Tr&ecirc;s anos depois, lan&ccedil;ou sua pr&oacute;pria linha e uma licen&ccedil;a exclusiva de uniformes de luxo com a marca de Pierre Balmain. Com 30 anos, tornou-se costureiro oficial ao assinar cole&ccedil;&otilde;es de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/alta-costura-luxo-extremo-e-busca-da-perfeicao-estetica">alta-costura</a> e <em>ready to wear</em> para a marca Jean Louis Scherrer, em Paris, por 10 anos. Stephane tamb&eacute;m foi parceiro oficial do Festival de Cinema de Cannes por 5 anos consecutivos. H&aacute; 16 anos, abriu sua marca apoiada pela Federa&ccedil;&atilde;o de Alta-costura e pelo Minist&eacute;rio da Ind&uacute;stria em Paris.</p>
<p style="text-align: justify;">Em entrevista &agrave; L&rsquo;Officiel Brasil, o designer franc&ecirc;s contou alguns detalhes de seus bastidores criativos, suas principais influ&ecirc;ncias, o encanto pela brasilidade e a vontade ver a cantora Maria Beth&acirc;nia com uma de suas cria&ccedil;&otilde;es. Confira!</p>

Criação de Stephane Rolland (Foto: Divulgação)

<h2 style="text-align: center;">Em que momento da vida voc&ecirc; descobriu o seu talento para a moda?</h2>

<p style="text-align: justify;">Fiz meu primeiro esbo&ccedil;o quando tinha 4 anos de idade. Era um vestido. Acredito que estava destinado a esta profiss&atilde;o de forma inconsciente. Como minha fam&iacute;lia &eacute; formada por artistas, certamente isso me influenciou geneticamente! Eu quis entrar neste mundo &nbsp;de uma forma muito r&aacute;pida. Eu me lembro da minha chegada a Paris, entrando na <em>&Eacute;cole de la Chambre Syndicale</em> [institui&ccedil;&atilde;o privada de Ensino Superior nas profiss&otilde;es criativas fundada em 1927]. Senti como se, pela primeira vez, estivesse respirando de verdade e me encontrei no meu universo com pessoas que entendiam o que eu sentia. Minha vida mudou naquele momento.</p>

<h2 style="text-align: center;">Voc&ecirc; foi o diretor criativo mais jovem de Paris ao assumir a centen&aacute;ria Balenciaga. Na &eacute;poca, como foi para um <em>designer</em> de uma nova gera&ccedil;&atilde;o dirigir uma marca t&atilde;o tradicional?</h2>

<p style="text-align: justify;">Eu estava obcecado com a ideia de ingressar em uma marca com um passado t&atilde;o m&iacute;tico, mas o meu objetivo era me juntar a Yves Saint Laurent. Pierre Berg&eacute; decidiu o contr&aacute;rio. Seguindo seu conselho, entrei na Balenciaga e descobrir todo o arquivo de Crist&oacute;bal Balenciaga foi m&aacute;gico e extremamente educativo. Posso ter sido imprudente, mas n&atilde;o fiquei t&atilde;o impressionado com a ideia de entrar em uma marca t&atilde;o grande porque estava psicologicamente preparado para isso. Esse era o meu objetivo. Acima de tudo, tinha a obsess&atilde;o de fazer o melhor trabalho, de aprender e de fazer com que as pessoas ficassem satisfeitas com o que eu fazia. Na &eacute;poca, queria assumir responsabilidades rapidamente. A chance que tive na Balenciaga foi ter uma gest&atilde;o que me ouviu e me confiou responsabilidades. Como a casa estava em plena reestrutura&ccedil;&atilde;o na &eacute;poca, posso ter tido mais oportunidades do que um jovem que entra hoje em uma marca de grande porte.</p>

<h2 style="text-align: center;">Em se tratando de alta-costura, &eacute; poss&iacute;vel haver inova&ccedil;&atilde;o na tradi&ccedil;&atilde;o?</h2>

<p style="text-align: justify;">Eu diria que &eacute; fundamental inovar se respeitarmos as tradi&ccedil;&otilde;es. Se n&atilde;o houver inova&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o h&aacute; progresso, e se n&atilde;o houver progresso, algo se torna desinteressante. Acho que o objetivo da vida &eacute; avan&ccedil;ar, criar e respirar o esp&iacute;rito da &eacute;poca. Adivinhar como ser&aacute; o futuro faz com que a moda esteja quase um passo &agrave; frente do seu tempo. Acredito que a alta-costura tamb&eacute;m &eacute; isso: nunca esquecer o passado para construir o futuro.</p>

<h2 style="text-align: center;">Sua trajet&oacute;ria foi marcada pelo contato com Pierre Berg&eacute;, cofundador de uma das maiores <em>maisons</em> do mundo, a Yves Saint Laurent, hoje, Saint Laurent. Qual &eacute; o legado do empres&aacute;rio para o seu olhar criativo?</h2>

<p style="text-align: justify;">Acredito que n&atilde;o h&aacute; nenhum legado na minha criatividade em rela&ccedil;&atilde;o a Yves Saint Laurent. Acho que todos n&oacute;s temos influ&ecirc;ncias. Os meus s&atilde;o de Oscar Niemeyer, trabalhando com pintores como Palazuelo e muitos outros; eles v&ecirc;m da m&uacute;sica e do cinema. Cada artista &eacute; como uma esponja, e a criatividade &eacute; um m&uacute;sculo que devemos sempre trabalhar para mant&ecirc;-lo f&eacute;rtil. &Eacute; verdade que Pierre Berg&eacute;, ao me encaminhar para a Balenciaga, inevitavelmente orientou minha vida e influenciou minha carreira. Talvez eu n&atilde;o tivesse ingressado na marca se n&atilde;o o tivesse conhecido naquela &eacute;poca.</p>

<h2 style="text-align: center;">Sua assinatura &eacute; conhecida pelas estruturas e o trabalho meticuloso com volumes e recortes de suas cria&ccedil;&otilde;es. Qual a rela&ccedil;&atilde;o entre a moda e a arquitetura no seu trabalho?</h2>

<p style="text-align: justify;">A arquitetura d&aacute; base, for&ccedil;a e uma certa din&acirc;mica que traz um aspecto talvez mais art&iacute;stico e ousado &agrave; moda que &eacute; algo geral e gen&eacute;rico. Arquitetura e arte trazem aud&aacute;cia. Para dar for&ccedil;a a uma pe&ccedil;a &eacute; preciso sempre buscar volume e movimento. A arte cin&eacute;tica ajuda muito no movimento. A arquitetura dar&aacute; a estrutura e o encanto necess&aacute;rios.</p>

<h2 style="text-align: center;">Neste ano, voc&ecirc; concebeu uma cole&ccedil;&atilde;o em homenagem &agrave; brasilidade, especialmente por se inspirar na simbologia do pa&iacute;s, como na arquitetura de Oscar Niemeyer e o manto de Nossa Senhora. Em se tratando de moda, o que mais representa o Brasil?</h2>

<p style="text-align: justify;">Espontaneamente, quero dizer que &eacute; o seu povo quem representa o Brasil. S&atilde;o as diferentes misturas que fazem a for&ccedil;a e a identidade deste pa&iacute;s. As igrejas da Bahia, a arquitetura de Niemeyer s&atilde;o importantes. A cultura das florestas amaz&ocirc;nicas tamb&eacute;m. O passado e o presente, o religioso e o pag&atilde;o se misturam. A arte est&aacute; presente em todos os lugares. Especialmente no Brasil, o que adoro &eacute; que a popula&ccedil;&atilde;o &eacute; naturalmente mais sens&iacute;vel &agrave; arte (como vemos, por exemplo, nas cal&ccedil;adas do Rio de Janeiro) do que em outros pa&iacute;ses. A arte expressada no Brasil me chama a aten&ccedil;&atilde;o porque sempre esteve &agrave; frente de seu tempo. Quando vemos arte nas cal&ccedil;adas do Rio, parece que estamos nos anos 70, quando j&aacute; &eacute; bem mais antigo! E, no entanto, parece t&atilde;o moderno ao mesmo tempo.</p>

<h2 style="text-align: center;">Das famosas que voc&ecirc; j&aacute; vestiu, qual brasileira voc&ecirc; ainda deseja ver com uma cria&ccedil;&atilde;o sua?</h2>

<p style="text-align: justify;">Obviamente, a primeira que me vem &agrave; cabe&ccedil;a - por ser uma artista extraordin&aacute;ria - &eacute; Maria Beth&acirc;nia. Ela tem o que chamamos de &ldquo;rosto marcante&rdquo;, um semblante extremamente interessante. Eu amo seus cabelos brancos caindo em cascata sobre os ombros. Adoro a forma como ela se move e como se expressa no palco. Esse lado quase tribal, <em>sexy</em> e generoso. Ela tem uma eleg&acirc;ncia natural e um fervor que enche de energia. Essa mulher &eacute; uma verdadeira inspira&ccedil;&atilde;o por si s&oacute;.</p>

Maria Fernanda Cândido (Foto: Getty Images)

<h2 style="text-align: center;">Como voc&ecirc; v&ecirc; a moda brasileira hoje?</h2>

<p style="text-align: justify;">A moda brasileira n&atilde;o &eacute; conhecida internacionalmente. Tamb&eacute;m &eacute; escolha do brasileiro se expressar em outro lugar ou n&atilde;o! O que eu amo &eacute; que, quando chego no Brasil, sinto que estou em um mundo novo porque todas as lojas que vejo ao meu redor n&atilde;o encontro em nenhum outro lugar! &Eacute; isso que d&aacute; essa identidade e for&ccedil;a. Certamente existem muitos talentos brasileiros, mas s&atilde;o pouco conhecidos. Pode ser interessante que um dia uma ou duas marcas brasileiras sejam convidadas para a <em>Paris Fashion Week</em>! A S&atilde;o Paulo Fashion Week est&aacute; cada vez mais conhecida, e a imprensa internacional est&aacute; cada vez mais interessada. Acho isso maravilhoso para os artistas!</p>

<h2 style="text-align: center;">No que voc&ecirc; acredita para o futuro da moda?</h2>

<p style="text-align: justify;">A moda corresponde ao esp&iacute;rito do tempo, &agrave; atualidade e &agrave; economia global. N&atilde;o consigo visualizar o futuro porque ele continua a nos surpreender. O que aconteceu com a pandemia &eacute; um exemplo: ningu&eacute;m poderia esperar isso, exceto nos filmes de fic&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica... e aconteceu mesmo assim! &Eacute; muito dif&iacute;cil dar uma resposta confi&aacute;vel quando n&atilde;o sabemos do que &eacute; feito o amanh&atilde;. Infelizmente, sempre haver&aacute; guerras. Tudo est&aacute; ligado a uma situa&ccedil;&atilde;o social e econ&ocirc;mica. &Eacute; o &uacute;nico aspecto que dar&aacute; o tom da moda de amanh&atilde;. Estamos voltados para uma evolu&ccedil;&atilde;o. S&oacute; caminharemos para uma boa evolu&ccedil;&atilde;o se os estilistas e ateli&ecirc;s de amanh&atilde; tiverem forma&ccedil;&atilde;o suficiente para produzir com qualidade. Hoje, talvez precisemos pensar num modo diferente de consumo. N&atilde;o &eacute; tanto a moda em si, mas a maneira como vivemos. Talvez seja a&iacute; que o futuro da moda ir&aacute; evoluir. Precisamos consumir menos, mas de melhor qualidade e, assim, preservaremos muitas coisas.</p>

Stephane Rolland em entrevista à L’Officiel Brasil

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