Semanas de moda internacionais sugerem reflex&atilde;o sobre o agravamento das tens&otilde;es pol&iacute;ticas globais, crise clim&aacute;tica e retrocessos nos direitos sociais

As <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/semanas-de-moda-confira-quais-sao-as-5-tendencias-de-destaque">semanas de moda internacionais</a> para a temporada <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/outono-inverno-os-acessorios-que-farao-sucesso-por-carol-toledo">outono-inverno</a> 2025/2026 refletiram, de maneira contundente, o cen&aacute;rio de instabilidade pol&iacute;tica e econ&ocirc;mica global. Os <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/roda-da-fortuna-desfiles-internacionais">desfiles</a> trouxeram n&atilde;o apenas novas propostas est&eacute;ticas, mas tamb&eacute;m narrativas visuais que dialogam com um mundo em transi&ccedil;&atilde;o, no qual a incerteza, o medo e o desejo de resist&ecirc;ncia foram temas recorrentes. Em um momento em que direitos femininos, quest&otilde;es de identidade de g&ecirc;nero e sustentabilidade ambiental est&atilde;o sob amea&ccedil;a em diversas partes do mundo, a moda se posicionou tanto como forma de protesto quanto de reafirma&ccedil;&atilde;o de valores progressistas.

Prada - Foto: Divulgação

Traduzindo para est&eacute;ticas, o cover-up surgiu como uma tend&ecirc;ncia-chave da temporada, mas tamb&eacute;m est&aacute; o vestir-se nu, com transpar&ecirc;ncias e outros recursos expondo o corpo. O design utilit&aacute;rio aponta para a import&acirc;ncia da funcionalidade. Casacos estruturados e cortes precisos contrastam com bainhas cruas, a cartela de cores &eacute; s&oacute;bria com highlight de vermelho e h&aacute; perman&ecirc;ncia de elementos elisabetanos. O resultado traz uma sensa&ccedil;&atilde;o de drama, de necessidade de prote&ccedil;&atilde;o tanto f&iacute;sica quanto emocional. As sequ&ecirc;ncias finais na Balenciaga e Rick Owens, por exemplo, evocaram uma esp&eacute;cie de armadura urbana, com pe&ccedil;as volumosas, tecidos tecnol&oacute;gicos e silhuetas imponentes. Na Herm&egrave;s e na Balenciaga, cen&aacute;rios trouxeram labirintos e, de maneira geral, os shows foram montados em salas menores e com ilumina&ccedil;&atilde;o contida ou com o p&uacute;blico bem pr&oacute;ximo das passarelas, tamb&eacute;m como reflexo da atmosfera que envelopou a temporada.

Tom Ford - Foto: Divulgação

Na abordagem de g&ecirc;nero, h&aacute; uma crescente fus&atilde;o entre o masculino e o feminino, com alfaiataria desestruturada, modelagens fluidas e uma aus&ecirc;ncia de binarismo nas cole&ccedil;&otilde;es. Marcas como Miu Miu exploraram essa neutralidade apostando em um visual que desafia as conven&ccedil;&otilde;es tradicionais do vestu&aacute;rio. Miuccia Prada, que desta vez cuidou at&eacute; dos m&iacute;nimos detalhes do show, quis falar sobre como a feminilidade pode transformar o fundamentalmente mas culino, independentemente do g&ecirc;nero. As roupas foram manipuladas, dobradas, deslocadas e moldadas para se curvarem, uma vez que a identifica&ccedil;&atilde;o do feminino &eacute; sin&ocirc;nimo de curva. &ldquo;Nesta temporada, n&oacute;s realmente quer&iacute;amos criar uma eleg&acirc;ncia sem nada &ndash; por meio do cotidiano. As roupas s&atilde;o combinadas com gestos ousados do feminino &ndash; joias, peles &ndash; que elevam, que d&atilde;o import&acirc;ncia, valor e tom de complexidade a cada look&rdquo;, diz ela.
J&aacute; a Prada atualizou sua linha de pensamento sobre a presen&ccedil;a feminina na sociedade com questionamentos como: &ldquo;O que significa feminilidade hoje? Como pode ser definida?&rdquo;. &Eacute; um exerc&iacute;cio de colocar quest&otilde;es, provocar discuss&atilde;o em torno de nossa percep&ccedil;&atilde;o coletiva da feminilidade, sobre no&ccedil;&otilde;es de beleza, sobre como essas percep&ccedil;&otilde;es podem mudar constantemente, frisaram Miuccia Prada e Raf Simons, que assinam o estilo. Suas apostas apareceram em recursos est&eacute;ticos de redimensionamento, rematerializa&ccedil;&atilde;o, recontextualiza&ccedil;&atilde;o e descontextualiza&ccedil;&atilde;o de modelagens, detalhes e propor&ccedil;&otilde;es para criar silhuetas disruptivas que deixam o corpo livre e confort&aacute;vel. Opondo-se a levar sua moda para o campo pol&iacute;tico, Miuccia buscou traduzir em roupas e acess&oacute;rios que &eacute; preciso se arriscar para alcan&ccedil;ar liberdade, em uma vis&atilde;o mais social do presente.

Givenchy - Foto: Divulgação

Por outro lado, Maria Grazia Chiuri, diretora criativa na Dior, continuou a trajet&oacute;ria de utilizar a moda como plataforma pol&iacute;tica ao misturar refer&ecirc;ncias masculinas e femininas pin&ccedil;adas de s&eacute;culos passados, com babados remov&iacute;veis, rufos &ndash; eles surgiram no fim do renascimento e permaneceram em alta at&eacute; o barroco e, na cole&ccedil;&atilde;o, remetem ao romance semi biogr&aacute;fico Orlando, de Virginia Woolf, que desafia conceitos de g&ecirc;nero &ndash;, botas de montaria usadas como no s&eacute;culo 19, capas, ombros arredondados modelando a silhueta, casacos masculinos combinados com busti&ecirc;s, casaquetos, peplums franzidos e minivestidos moldados como crinolina.&nbsp;
E falando sobre poder feminino, as passarelas foram un&acirc;nimes no resgate do visual dress for success dos anos 1980, enfatizando a silhueta em tri&acirc;ngulo invertido na alfaiataria e em vestidos. O momento mais contundente foi na Saint Laurent: ombros moldados com ombreiras vistosas enfatizam uma mulher feminina mas no poder; vestidos, blazers alongados, saias-l&aacute;pis acompanhadas de blusas com la&ccedil;o atr&aacute;s do pesco&ccedil;o vieram em cores exuberantes. Stella McCartney fez vestidos de j&eacute;rsei drapeado sexy, Ludovic De Saint Sernin prop&ocirc;s pe&ccedil;as que transitam do escrit&oacute;rio &agrave; pista de dan&ccedil;a, como blazers de ombros marcados escondendo vestidos de couro entrela&ccedil;ado e saias-l&aacute;pis de l&aacute;tex polido.

Coperni - Foto: Divulgação

Se por um lado a moda refletiu o pragmatismo da crise, por outro, algumas marcas buscaram na criatividade uma forma de subvers&atilde;o e escapismo. O maximalismo, o resgate do punk e a ironia reafirmaram a moda como um espa&ccedil;o de contesta&ccedil;&atilde;o. O diretor criativo da Rabanne, Julien Dossena, desconstruiu o&nbsp; visual punk inspirado nos filmes de Fassbinder dos anos 1970 e no som de Sin&eacute;ad O&rsquo;Connor e escolheu como cen&aacute;rio a sede da Unesco, a Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas para a Educa&ccedil;&atilde;o, a Ci&ecirc;ncia e a Cultura, entidade que preza pela solidariedade intelectual e moral da humanidade. Na Issay Miyake, Satoshi Kondo quis ressignificar itens banais do dia a dia transitando entre conceito, est&eacute;tica e usabilidade: colarinhos vieram duplos e deslocados, a jaqueta virou bolsa, a shopping bag se transformou em blusa, tric&ocirc;s foram sobrepostos como em um sandu&iacute;che, cachec&oacute;is eram finalizados por luvas, mangas perderam sua fun&ccedil;&atilde;o. &Oacute;tima deixa para questionar muitas outras f&oacute;rmulas prontas.

Dior - Foto: Divulgação

A sustentabilidade e a preocupa&ccedil;&atilde;o com as mudan&ccedil;as clim&aacute;ticas, por sua vez, foram enfatizadas por meio do uso de tecidos reciclados, processos de fabrica&ccedil;&atilde;o de baixo impacto e reutiliza&ccedil;&atilde;o de materiais. Stella McCartney fez 96% da cole&ccedil;&atilde;o com materiais conscientes e 100% cruelty free, posicionando-se contra o uso de couro, plumas e peles ex&oacute;ticas. Uma novidade s&atilde;o os paet&ecirc;s &agrave; base de plantas em parceria com a Sequinova, startup de biomateriais sediada em Londres. Marine Serre deu sequ&ecirc;ncia ao reaproveitamento de materiais &ndash; dez pe&ccedil;as de alta-costura fizeram upcycling de moedas, medalhas, rel&oacute;gios antigos e golas de peles.
Adrian Appiolaza, que fez desfile com acess&oacute;rios divertidos flertando com o trompe-l&rsquo;oeil, como o chap&eacute;u que lembra um colch&atilde;o acompanhando um casaco-edredom, encerrou o desfile da Moschino com uma camiseta-manifesto onde se podia ler: &ldquo;SOS Save Our Sphere&rdquo;, enquanto a CFCL &ndash; sigla para Clothing For Contemporary Life, primeira empresa de vestu&aacute;rio japonesa a ser certificada como B Corp (Benefit Corporation) &ndash; faz mais de 80% de suas pe&ccedil;as com materiais reciclados e regenerados certificados &ndash; a meta &eacute; atingir 100% at&eacute; 2030 e tamb&eacute;m ser carbono neutro. O seu diretor criativo, Yusuke Takahashi, reimaginou o processo de tentativa e erro de criar roupas exclusivamente por meio de malhas como linhas que se curvam, dobram e se expandem.

Max Mara - Foto: Divulgação

Dentro desse cen&aacute;rio, &eacute; importante abrir espa&ccedil;o para falar da enxurrada de peles que tomou conta das passarelas nas quatro principais semanas de moda, prioritariamente em Mil&atilde;o. Foram golas e punhos, casacos inteiros e at&eacute; suti&atilde; de pele, o que detonou uma rea&ccedil;&atilde;o indignada em cadeia nas m&iacute;dias sociais. Na maior parte, entretanto, as peles n&atilde;o eram verdadeiras. Esta foi a temporada de solu&ccedil;&otilde;es tecnol&oacute;gicas e reaproveitamento de vinagre. A pele sint&eacute;tica, ainda que seja derivada do petr&oacute;leo, ganhou vers&otilde;es de maior qualidade, atraindo novamente algumas grifes, como Simone Rocha e Ganni; enquanto outras marcas como Prada, Giorgio Armani, Dolce &amp; Gabbana, Fendi e Ferragamo adotaram pele de carneiro tratada para parecer vison, raposa ou zibelina. Outra alternativa foi o uso do pelo tosquiado de ovelha que passa por trabalho artesanal, como escovar ou tricotar, para ficar felpudo. J&aacute; Gabriela Hearst reaproveitou casacos de vison reais.

Ferragamo - Foto: Divulgação

Entre a prote&ccedil;&atilde;o e a resist&ecirc;ncia, entre a austeridade e a criatividade, as semanas de moda demonstraram que o vestu&aacute;rio pode ser tanto um escudo contra as adversidades quanto um meio de express&atilde;o diante das incertezas do mundo atual. Seja por meio da alfaiataria rigorosa ou da excentricidade rebelde, a moda mostrou-se mais uma vez como um term&ocirc;metro das tens&otilde;es e esperan&ccedil;as da sociedade contempor&acirc;nea.

Valentino - Foto: Divulgação

Nesta temporada, as grandes expectativas eram as estreias de Sarah Burton na Givenchy e Haider Ackermann na Tom Ford. E foram duas apresenta&ccedil;&otilde;es muito boas

Miu Miu - Foto: Divulgação

Sarah explorou um estoque de padronagens e amostras de tecido da primeira cole&ccedil;&atilde;o do fundador Hubert de Givenchy de 1952, encontradas dentro de uma parede durante as obras no primeiro ateli&ecirc; do couturier. A partir dessa pesquisa, ela p&ocirc;de se debru&ccedil;ar sobre novas formas e volumes, com &ecirc;nfase em drapeados e curvas estruturadas em formato de ampulheta na alfaiataria. Casacos e vestidos estilo smoking ainda trouxeram bainhas cruas, contribuindo para um resultado ligeiramente despojado e altamente desej&aacute;vel, com looks para todas as idades mostrados por um casting igualmente variado.

Hermès - Foto: Divulgação

Escolhido pelo pr&oacute;prio Tom Ford, Ackermann uniu sua vis&atilde;o criativa &agrave; identidade da marca em uma cole&ccedil;&atilde;o consistente. Sua moda se equilibra entre o desejo e a disciplina, cortes arquitet&ocirc;nicos encontram o despojamento calculado. Tons vibrantes iluminam a alfaiataria impec&aacute;vel, enquanto o preto e o cinza mant&ecirc;m a personalidade sexy da casa. O luxo est&aacute; na depura&ccedil;&atilde;o: formas puras, acabamentos impec&aacute;veis e detalhes quase subliminares, como o &ldquo;T&rdquo; discretamente inscrito em acess&oacute;rios.&nbsp;

Anrealage - Foto: Divulgação

TOP 10 TEND&Ecirc;NCIAS&nbsp;

<ol>
<li style="text-align: justify;"> Dress for success&nbsp;</li>
</ol>
Power dressing dos anos 1980 est&aacute; de volta dando &ecirc;nfase aos ombros com ombreiras enormes e cintura marcada.&nbsp;
<ol start="2" style="text-align: justify;">
<li> Ampulheta&nbsp;</li>
</ol>
Nessa silhueta curvil&iacute;nea, a cintura vem marcada e o quadril tem volume.&nbsp;
<ol start="3" style="text-align: justify;">
<li> Cover-up&nbsp;</li>
</ol>
Camadas e camadas envolvem todo o corpo.&nbsp;
<ol start="4" style="text-align: justify;">
<li> Corpo &agrave; mostra&nbsp;</li>
</ol>
Ele &eacute; revelado na lingerie aparente, comprimento m&iacute;ni, transpar&ecirc;ncias e rendas.&nbsp;
<ol start="5" style="text-align: justify;">
<li> Clima g&oacute;tico&nbsp;</li>
</ol>
O preto puxa uma cartela crom&aacute;tica fechada que inclui marinho, cinza chumbo, marrom e vermelho encorpado.&nbsp;
<ol start="6" style="text-align: justify;">
<li> Bright colors&nbsp;</li>
</ol>
Tons exuberantes marcaram presen&ccedil;a em composi&ccedil;&otilde;es blocadas ou monocolor.&nbsp;
<ol start="7" style="text-align: justify;">
<li> H&iacute;pica&nbsp;</li>
</ol>
Tweed, xadrez, jaquetas acinturadas, cal&ccedil;as e botas em estilo montaria fazem o look.&nbsp;
<ol start="8" style="text-align: justify;">
<li> Escultura&nbsp;</li>
</ol>
Drapeados, tor&ccedil;&otilde;es e plissados criam silhuetas femininas e artsy. J&aacute; geometrias garantem linhas modificando o formato do corpo.&nbsp;
<ol start="9" style="text-align: justify;">
<li> Peles&nbsp;</li>
</ol>
Elas est&atilde;o de volta, apontando para vers&otilde;es sint&eacute;ticas, de carneiro, l&atilde; de ovelha ou reais vintage.
<ol start="10" style="text-align: justify;">
<li> Golas&nbsp;</li>
</ol>
Rom&acirc;nticas em babados e aristocr&aacute;ticas em rufos

Semanas de moda internacionais sugerem reflexão sobre o mundo

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