O dom&iacute;nio das m&atilde;os no savoir-faire dos ateli&ecirc;s das grandes maisons evidenciam um trabalho precioso por tr&aacute;s do glamour da alta-costura

Informa&ccedil;&atilde;o est&aacute; por todos os lados, mas poucos&nbsp;assuntos nos rodeiam 24 horas, sete dias por&nbsp;semana, quanto a moda. &Eacute; poss&iacute;vel encar&aacute;-la&nbsp;com grau zero de pensamento ou como tema&nbsp;sens&iacute;vel que se aproxima da arte e tamb&eacute;m&nbsp;se concota profundamente com o mundo p&oacute;s-moderno. Em tempos de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/lofficiel-acquired-amtd-metaverse-virtual-collection-nft">metaverso</a>, o <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/savoir-faire-dior-outono-2021">savoir-faire da alta-costura</a> virou tema e homenagem&nbsp;nas cole&ccedil;&otilde;es <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/l-officiel-90-tudo-sobre-a-nossa-edicao-de-verao-2022">ver&atilde;o 2022</a>, ao lado de uma&nbsp;importante abordagem de inclus&atilde;o de corpo e&nbsp;idades. Nada mais coerente para uma &aacute;rea&nbsp;que ganhou for&ccedil;a dentro do movimento Arts&nbsp;&amp; Crafts, que apoiava o feito &agrave; m&atilde;o em plena&nbsp;Revolu&ccedil;&atilde;o Industrial e que, na &uacute;ltima d&eacute;cada&nbsp;tem vivido uma importanto valoriza&ccedil;&atilde;o dentro&nbsp;do conceito de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/john-galliano-traz-um-novo-conceito-de-sustentabilidade-para-margiela-no-outono-2020">slow fashion</a>.

Em v&aacute;rios momentos Maria-Grazia Chiuri&nbsp;falou de sua paix&atilde;o tanto pelo pr&ecirc;t-&agrave;-porter quanto pela&nbsp;alta-costura. O primeiro, diz, reflete o agora, enquanto&nbsp;a couture &eacute; sobre&nbsp;atemporalidade, heran&ccedil;a, tradi&ccedil;&atilde;o,&nbsp;artesanato, arte. &Eacute; um trabalho minucioso que come&ccedil;a cerca&nbsp;de dois meses antes do desfile, dividido em dois andares&nbsp;do pr&eacute;dio da avenida Montaigne: vestidos e alfaiataria.&nbsp;T&eacute;cnicas manuais especificas, como bordado, plissado e&nbsp;plumas, s&atilde;o enviadas para oficinas especializadas. Depois&nbsp;de prontos, esses&nbsp;detalhes voltam &agrave;s oficinas principais&nbsp;para a montagem dos looks e ajustes. Para a Dior, o ateli&ecirc; &eacute; onde a cabe&ccedil;a e as m&atilde;os trabalham em sintonia. Ainda&nbsp;que modos&nbsp;de fazer centen&aacute;rios sejam perpetuados a&nbsp;cada cole&ccedil;&atilde;o, experimenta&ccedil;&otilde;es s&atilde;o sempre bem-vindas. A&nbsp;diretora criativa da Maison olha para esse universo como a&nbsp;uni&atilde;o de uma linguagem m&aacute;gica e cient&iacute;fica. E t&atilde;o&nbsp;precioso que virou tema desta cole&ccedil;&atilde;o. A ideia &eacute;, ainda,&nbsp;prestar homenagem &agrave;s rela&ccedil;&otilde;es humanas por meio&nbsp;do&nbsp;fazer manual. Assim, o bordado, por exemplo, torna-se&nbsp;um ato conceitual tridimensional que reinventa as t&eacute;cnicas&nbsp;do ateli&eacute; e a excel&ecirc;ncia elementar, enquanto a pureza das&nbsp;linhas celebra a ess&ecirc;ncia da alta-costura: vestir o corpo.

Pe&ccedil;as de alta-costura exigem o talento das&nbsp;costureiras&nbsp;mais&nbsp;experientes.&nbsp;Sob&nbsp;seus dedos &aacute;geis,&nbsp;esbo&ccedil;os ganham vida. Come&ccedil;a com um toile de algod&atilde;o,&nbsp;a primeira interpreta&ccedil;&atilde;o de um desenho que materializa&nbsp;uma silhueta. Depois os looks da cole&ccedil;&atilde;o s&atilde;o aprovados,&nbsp;montados, costurados e meticulosamente bordados. Quer&nbsp;seja cortado em&nbsp;"flou", tecidos et&eacute;reos destinados a vestidos&nbsp;e blusas, ou outros tecidos mais estruturados usados para&nbsp;"alfaiataria", cada um requer uma execu&ccedil;&atilde;o rigorosa. No&nbsp;in&iacute;cio deste ano, a Chanel deu o ousado passo de reunir cerca de 600 artes&atilde;os no complexo 19M, localizado no 190&nbsp;distrito preparado para preservar e valorizar ainda mais&nbsp;saberes variados. O apuro aparece na cole&ccedil;&atilde;o, que a diretora&nbsp;criativa Virginie Viard definiu como um aceno &agrave; est&eacute;tica das&nbsp;Exposi&ccedil;&otilde;es Universais. A partir dessa tem&aacute;tica, vieram os&nbsp;bordados finamente geom&eacute;tricos. Uma das pe&ccedil;as-chave &eacute;&nbsp;um vestido inteiramente bordado pelo ateli&egrave; Lesage, com&nbsp;cam&eacute;lias construtivistas em contas pretas, brancas e coral,&nbsp;usado com uma jaqueta preta. Joias, cal&ccedil;ados, tecidos e&nbsp;bolsas tamb&eacute;m passam pela expertise das oficinas.

Foto: Divulgação

Os rituais de fazer roupas e acess&oacute;rios de&nbsp;alta-costura estiveram em um di&aacute;logo &iacute;ntimo com quem as&nbsp;usa, a mulher real. Foi assim que Pierpaolo Piccioli trocou a&nbsp;modelo com medidas perfeitas sob&nbsp;a &oacute;tica tradicional - alta,&nbsp;magra e jovem -&nbsp;por uma variedade de musas com corpos e&nbsp;idades diferentes. Levar este debate para a semana de moda&nbsp;mais luxuosa foi um passo importante para o fortalecimento&nbsp;da inclus&atilde;o na moda. Com o corpo sendo o ponto inicial e&nbsp;final de todo o processo, a abordagem foi de acolhimento&nbsp;e democracia. Vem da&iacute; o t&iacute;tulo desta cole&ccedil;&atilde;o: Anatomia&nbsp;da Alta-Costura.&nbsp;O&nbsp;dom&iacute;nio preciso da modelagem e&nbsp;as &oacute;timas sacadas de finaliza&ccedil;&atilde;o dos detalhes, reflexo da&nbsp;uni&atilde;o de talentos entre artes&atilde;os e estilista, permitiram que&nbsp;os looks resultassem impec&aacute;veis, independentemente das&nbsp;medidas da modelo. Capturar a beleza de como o corpo&nbsp;se modifica &agrave; medida que a idade avan&ccedil;a tamb&eacute;m estava&nbsp;no radar de Piccioli, que&nbsp;convocou Kristen McMenamy,&nbsp;Marie Sophie Wilson, Lara Stone, Violetta Sanchez, Lynn&nbsp;Koster, Jon Kortajarena para o show. A ideia que esteve por&nbsp;tr&aacute;s da cole&ccedil;&atilde;o? A liberdade de ser voc&ecirc; mesma.

Os c&oacute;digos hist&oacute;ricos de Roma, os m&aacute;rmores&nbsp;esculturais e a est&eacute;tica eclesi&aacute;stica convivem hoje com&nbsp;constru&ccedil;&otilde;es modernas. Foi essa percep&ccedil;&atilde;o da cidade&nbsp;que Kim Jones levou para esta cole&ccedil;&atilde;o.&nbsp;"Quando voc&ecirc;&nbsp;anda pelas ruas de Roma, est&aacute; constantemente indo e&nbsp;voltando no tempo"&nbsp;explica o diretor criativo.&nbsp;"Onde&nbsp;trabalhamos parece muito moderno,&nbsp;mas voc&ecirc; passa&nbsp;por monumentos no caminho. H&aacute; uma atemporalidade&nbsp;total na cidade: uma veia hist&oacute;rica que a atravessa, mas&nbsp;tamb&eacute;m um movimento que se projeta para a frente.&rdquo;&nbsp; Da arquitetura externa para os processos internos&nbsp;do ateli&ecirc;, Jones uniu t&eacute;cnicas consagradas pelo tempo&nbsp;e artesanato contempor&acirc;neo em perfeita harmonia. Na&nbsp;pr&aacute;tica,&nbsp;isso significou fotografia gerando impress&atilde;o&nbsp;com&nbsp;bordados&nbsp;tradicionais,&nbsp;est&aacute;tuas&nbsp;cl&aacute;ssicas&nbsp;localizadas fora do Palazzo della Civilt&agrave; Italiana da&nbsp;Fendi inspiraram pinturas&nbsp;&agrave;&nbsp;m&atilde;o&nbsp;em&nbsp;claro-escuro&nbsp;dram&aacute;tico, enquanto couros moldados a quente foram&nbsp;bordados com microlantejoulas.&nbsp;A proposta tamb&eacute;m&nbsp;foi enaltecer a constru&ccedil;&atilde;o, ess&ecirc;ncia da roupa couture.

Foto: Divulgação/Aldo Castoldi

Glenn Martens foi&nbsp;o segundo convidado de&nbsp;Jean Paul Gaultier a assumir as tesouras desde que o&nbsp;estilista franc&ecirc;s anunciou seu afastamento&nbsp;da alta-costura. E foi como uma celebra&ccedil;&atilde;o do universo meio&nbsp;debochado de Gaultier que o diretor criativo belga aceitou&nbsp;de bom grado o desafio.&nbsp;Ele mesmo um irreverente &agrave;&nbsp;frente de sua marca pr&oacute;pria, a Y/Project, Martens se&nbsp;viu numa esp&eacute;cie de Disneyl&acirc;ndia diante das infinitas&nbsp;possibilidades dos ateli&ecirc;s da couture. Momentos ic&ocirc;nicos da marca francesa voltaram &agrave; passarela revisitados,&nbsp;principalmente a paix&atilde;o de Gaultier pela corseteria, cujas&nbsp;pe&ccedil;as foram trabalhadas como underwear e outwear, em&nbsp;vers&atilde;o alfaiataria e boudoir,&nbsp;"pendurados"&nbsp;em saias ou&nbsp;decorados com flores 3D em metal.&nbsp;Esta n&atilde;o foi a primeira vez que os dois criadores&nbsp;estiveram na mesma p&aacute;gina. Em 2008, Martens foi&nbsp;contratado como assistente, logo depois de ter se formado&nbsp;na Royal Academy of Fine Arts da Antu&eacute;rpia.

Savoir-faire: o segredo das grandes maisons

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