Destaque da Casa de Criadores, Guilherme Valente come&ccedil;a a dar novos passos com uma moda poss&iacute;vel e interessante

Quando um jovem nome se lan&ccedil;a nas passarelas, h&aacute; dois perfis muito corriqueiros: os que sabem exatamente a trajet&oacute;ria que querem trilhar e os que v&atilde;o se descobrindo no caminho. <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/casa-de-criadores-guilherme-valente-e-cena">Guilherme Valente</a>, curiosamente, se coloca no meio-termo. Destaque na &uacute;ltima edi&ccedil;&atilde;o da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/casa-de-criadores-chega-a-edicao-de-numero-55">Casa de Criadores</a>, em julho, o paulistano de 23 anos se reapresentou &agrave; sociedade fashionista revendo tudo no seu segundo desfile. A estreia, um ano antes, foi uma homenagem &agrave; m&atilde;e e &agrave; av&oacute; em uma cole&ccedil;&atilde;o que era t&atilde;o terna quanto extravagante, nos exageros costumeiros de algu&eacute;m que acabou de se formar na faculdade &ndash; no caso dele, a Santa Marcelina.

Ele mesmo classifica o d&eacute;but como &ldquo;figurino demais&rdquo;. Apesar disso, a reviravolta em busca de uma identidade de moda mais us&aacute;vel (e acertada) veio exatamente depois de um curso sobre o assunto na NABA, em Roma. &ldquo;Eu amo figurino. E, por isso, tinha em mim uma outra perspectiva de cria&ccedil;&atilde;o&rdquo;, reflete. &ldquo;Mas ali ca&iacute; na real de que precisava mexer o olhar para uma moda mais comercial, que sustentasse um neg&oacute;cio.&rdquo;
Depois de nove meses de planejamento, um vestido branco de delicadezas estruturadas, virginal, mas nem tanto, abriu a cole&ccedil;&atilde;o de possibilidades urbano-festivas ao lado de corsets, flores tridimensionais, pretos l&acirc;nguidos e alfaiatarias oversized &ndash; at&eacute; desembocar em um imenso vestido-cora&ccedil;&atilde;o preto e branco. Comercial poss&iacute;vel, mas sem largar m&atilde;o do drama.

Falando sobre amor-pr&oacute;prio por meio das roupas, Valente abriu, ali, espa&ccedil;o para refletir sobre as suas viv&ecirc;ncias queer que o levaram at&eacute; a moda. &ldquo;Sempre tive esse mood, da crian&ccedil;a que queria fazer bal&eacute; com as irm&atilde;s. Admirava que elas podiam exercitar o lado feminino enquanto eu ficava na observa&ccedil;&atilde;o&rdquo;, lembra. &ldquo;Pude chegar mais perto disso quando comecei a olhar para a moda. Sempre desenhei muito, mas aos 16 comecei a desenhar roupas &ndash; tenho centenas de pap&eacute;is guardados desde ent&atilde;o. Ali percebi que a moda &eacute; onde eu me entenderia e conseguiria passar o que quero.&rdquo;&nbsp;
A rela&ccedil;&atilde;o com as roupas, no seu espa&ccedil;o de figura LGBTQIAPN+, tem reflex&atilde;o imediata no pensar. &ldquo;Elas foram ferramentas para me entender como uma pessoa gay, uma pessoa fora do padr&atilde;o. Foi o que me deu for&ccedil;a para ser quem sou e seguran&ccedil;a para estar feliz com o meu corpo. Por isso que sempre digo que a roupa, para mim, &eacute; uma armadura&rdquo;, dispara.

Ocupando a casa dos pais, da garagem aos quartos, com seu ateli&ecirc;, Guilherme segue trabalhando sob encomenda e planejando o futuro de olho numa ressignifica&ccedil;&atilde;o peculiar do luxo. &ldquo;Para mim, &eacute; ser educado &ndash; e de uma maneira ampla. Por exemplo: quando comecei a sair de Tabo&atilde;o da Serra e frequentar outros lugares, senti que n&atilde;o podia entrar em certos espa&ccedil;os, em marcas de luxo, pois atra&iacute;a olhares. &Eacute; esse pensamento torto que criamos como sociedade que nos impede de conhecer outras realidades, de poder tocar nas coisas mesmo. Isso n&atilde;o pode ser luxo&rdquo;, diz. &ldquo;Quero fazer com que ele seja acess&iacute;vel. Nem financeiramente falando, pois o processo &eacute; realmente caro. Mas acessibilidade no sentido de poder trazer as pessoas comigo, ver como posso dar acesso e visibilidade &agrave;s pessoas como eu, atrav&eacute;s da marca. De receber essa cliente e ela se sentir bem-vinda.&rdquo;

A cria&ccedil;&atilde;o? Nem pelota para os colegas. &ldquo;Gosto de comportamento, de pessoas. Entrevisto gente na rua, pelo Instagram, olho para minha fam&iacute;lia, para o mundo ao redor&rdquo;, diz. &ldquo;Odeio olhar para moda, que digam que tenho que ver o que est&aacute; sendo feito. Eu &lsquo;tenho que&rsquo; nada. Preciso &eacute; me divertir, experimentar &ndash; se isso n&atilde;o estiver acontecendo, tem algo muito errado. A&iacute;, n&atilde;o vale a pena.&rdquo;

Guilherme Valente começa a dar novos passos com uma moda interessante

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