Fause Haten ressignificou sua trajet&oacute;ria e encontrou alento na arte e equil&iacute;brio pessoal e profissional ao entender que seu processo criativo &eacute; ilimitado

<a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/ricardo-almeida-fala-sobre-moda-em-entrevista-exclusiva-a-l-officiel">Estilista</a> consagrado, Fause Haten ressignificou sua trajet&oacute;ria e encontrou alento na arte e equil&iacute;brio pessoal e profissional ao entender que seu processo criativo &eacute; ilimitado. Exerc&iacute;cio que, agora, ganha uma vitrine. Confira!

Depois de uma longa jornada de 40 anos na moda fazendo desfiles com um qu&ecirc; de performance, experimentar novas emo&ccedil;&otilde;es no palco e transformar tecidos em esculturas, Fause Haten tem seguran&ccedil;a e tranquilidade para se definir como artista que faz roupa, n&atilde;o importa a plataforma. Pode ser como figurino, recurso de atua&ccedil;&atilde;o, para decorar uma parede e, inclusive, vestir clientes que nunca renunciaram a suas cria&ccedil;&otilde;es exuberantes. &ldquo;Foram cerca de dez anos nesse processo [de autoconhecimento] para entender o que eu sou nesse universo&rdquo;, explica, acrescentando que chegou &agrave; conclus&atilde;o de que n&atilde;o se sente mais uma pessoa da ind&uacute;stria da moda, no sentido cl&aacute;ssico do termo. Durante esse per&iacute;odo, estudou teatro e, tamb&eacute;m, mergulhou nas artes visuais.

E foi para unir todos esses &ldquo;Fauses&rdquo; que ele abriu um espa&ccedil;o, em setembro, na Rua Bela Cintra, j&aacute; bem pr&oacute;ximo ao centro da capital paulistana. Haten chama o lugar de ateli&ecirc; porque &eacute; onde tudo est&aacute; sendo gestado, executado e mostrado. &ldquo;Eu tenho essa forma de cria&ccedil;&atilde;o que explode em v&aacute;rios lugares, em todos os trabalhos que tenho feito&rdquo;, conta, dando como exemplo uma pintura t&ecirc;xtil intitulada O Namorado &ndash; derivada de Eu Sou um Monstro, texto que ele escreveu e em que atuou a partir de um acontecimento na vida do pintor Francis Bacon e seu namorado Georges Dyer. &ldquo;Havia ali dramaturgia, atua&ccedil;&atilde;o e selfiescultura com o meu rosto, um autorretrato&rdquo;, contextualiza.

O mesmo acontece com a s&eacute;rie Afeto, sentimento que descreve a maneira como Fause vem encarando desafios, funcion&aacute;rios, clientes, processos. &ldquo;Fiz uma joia, mas eu tenho uma performance com o mesmo nome, que tem a inten&ccedil;&atilde;o de afetar um corpo pelo peso, volume ou restri&ccedil;&atilde;o de movimento. Dela, surgem os afetados, que s&atilde;o entidades. E essas entidades t&ecirc;m uma mitologia&rdquo;, descreve, de maneira po&eacute;tica. Foi repensando, ainda, seu of&iacute;cio como estilista que ele chegou ao projeto Re + Forma, em que ressignifica uma roupa ou um tecido. Logo na entrada do ateli&ecirc; est&aacute; o novo contexto de um vestido adquirido em Los Angeles. &ldquo;Eu achava essa pe&ccedil;a deslumbrante. Voc&ecirc; ainda consegue ver a barra, o decote, o z&iacute;per, as mangas. &Eacute; uma obra que eu fiz em 2014. Dif&iacute;cil uma mulher ter uma roupa como essa hoje em dia. Onde &eacute; que a gente vai por isso? Talvez a arte seja o melhor lugar&rdquo;, analisa ele.

Esse &eacute; o esp&iacute;rito do projeto Ne-Pas-Porter. &ldquo;Porque n&atilde;o &eacute; feito para vestir&rdquo;, frisa. H&aacute;, ainda, trabalhos em que ele utiliza centenas de alfinetes formando mosaicos com pedacinhos de seda, acess&oacute;rios com pedrarias e perucas virando ornamentos para m&aacute;scaras. &Eacute; por esses e muitos outros exemplos que a vibe do espa&ccedil;o &eacute; de galeria, inclusive no formato do im&oacute;vel que antes abrigava uma lavanderia, nas paredes propositalmente descascadas e as inser&ccedil;&otilde;es com folhas de ouro transformando rachaduras em interven&ccedil;&otilde;es inspiradas na t&eacute;cnica kintsugi, a antiga arte japonesa de reparar cer&acirc;mica quebrada. O projeto foi desenvolvido a quatro m&atilde;os com a diretora de arte, set designer e amiga Simone Mina.

At&eacute; agora, Fause atendia suas clientes em um showroom na Mooca, em uma postura fashion low profile que contrastava com as apari&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas no teatro. Talvez venha da&iacute; a percep&ccedil;&atilde;o de que havia abandonado a moda. Apesar de o novo ateli&ecirc; ter fachada de vidro, ele refor&ccedil;a que quer manter a estrutura discreta e o atendimento com hora marcada. &ldquo;Falando muito sinceramente, eu n&atilde;o quero crescer. N&atilde;o fa&ccedil;o liquida&ccedil;&atilde;o e n&atilde;o tenho numera&ccedil;&atilde;o porque posso fazer sob medida e entregar em dois dias. Crio pe&ccedil;as quando eu tenho vontade, sem preocupa&ccedil;&atilde;o com esta&ccedil;&atilde;o. Minha clientela entende: &eacute; pontual, mas ass&iacute;dua&rdquo;, explica.

Mesmo assim, a decis&atilde;o de comunicar a nova fase o obrigou a sair do casulo. &ldquo;T&ecirc;m surgido pessoas novas, h&aacute; pessoas que me reencontraram. E, j&aacute; que fiquei tantos anos recluso, em sil&ecirc;ncio, acho que devo uma rever&ecirc;ncia a todas essas pessoas, uma vez que agora tenho uma vitrine&rdquo;, pondera. Se a entrada do ateli&ecirc; descortina o &ldquo;novo Fause&rdquo;, a ampla sala no fundo guarda a atmosfera de &ldquo;velho conhecido&rdquo;. &Eacute; onde est&atilde;o as araras repletas de pe&ccedil;as exuberantes, que ele vai descortinando em um tour. Come&ccedil;a pelas pe&ccedil;as com detalhes dourados: &ldquo;Isso &eacute; um foil que eu fazia nos anos 2000 e que retomei no ano passado. Aqui s&atilde;o os quimonos, que todas as clientes t&ecirc;m. E esses daqui s&atilde;o os jacquards africanos, feitos na Nig&eacute;ria, que s&atilde;o deslumbrantes pelas estampas e cores&rdquo;, segue enumerando. Em seguida, passa pelos maxicasacos, pelas camisas brancas esculturais de tafet&aacute;, pelas cria&ccedil;&otilde;es de cambraia de linho iluminada e pelos itens sem g&ecirc;nero. &ldquo;No in&iacute;cio, eram apenas femininas, mas os meninos come&ccedil;aram a comprar tamb&eacute;m.&rdquo;

No seu novo momento pessoal e profissional, o desfile deixou de fazer sentido &ndash; o &uacute;ltimo, uma performance no jardim do Museu do Ipiranga, foi em 2016. &ldquo;O Paulo [Borges, idealizador do S&atilde;o Paulo Fashion Week] h&aacute; uns dois anos me chamou para retornar, e eu quase fiquei tentado. Mas hoje tenho certeza de que n&atilde;o h&aacute; a menor possibilidade. Tem uma turma nova fazendo muito bem-feito, uma energia nova. Eu s&oacute; voltaria se fosse para fazer uma coisa diferente e no campo das artes&rdquo;, diz. Eis um aspecto que faz seus olhos brilharem. &ldquo;Na arte contempor&acirc;nea, tudo pode ser arte, desde que voc&ecirc; apresente como arte. Percebo que as pessoas consideram que eu n&atilde;o apresentei [desfiles com estrutura de performance] como arte. Eu apresentei como moda. &Eacute; preciso de fato ser uma performance e n&atilde;o um desfile. Ter um texto justificando a montagem, um curador, um museu apresentando como arte&rdquo;, explica. Apesar de n&atilde;o estar formatada, &eacute; uma ideia que tem tudo para acontecer em breve. J&aacute; estamos ansiosos, Fause!

Fause Haten ganha uma vitrine para sua criatividade sem limites

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