Momento capturado! Ana Luisa Fernandes, criadora e mente criativa da marca Aluf, conversa com a L'Officiel Brasil e, em entrevista exclusiva, conta sobre seu processo criativo e planos futuros. Confira!&nbsp;

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 Quando Ana Luisa Fernandes surgiu para a moda, dentro do Projeto Estufa no SPFW, era uma garota de 23 anos rec&eacute;m-sa&iacute;da da faculdade e com muitas vontades na cabe&ccedil;a. Era outubro de 2018 e ela fazia o primeiro desfile da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/aluf-apresenta-nova-colecao">Aluf</a>, marca nascida do seu TCC, baseada em shapes org&acirc;nicos, tratando as roupas como objetos vest&iacute;veis e o processo de cria&ccedil;&atilde;o como uma grande psican&aacute;lise interna da eterna quest&atilde;o entre a <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/top-lucas-cristino-faz-ponte-entre-a-moda-e-a-arte">moda e a arte</a>. Agora, quatro anos depois, a Aluf tem outro caminho: prepara abertura de uma segunda loja, lan&ccedil;ou podcast que tem discutido quest&otilde;es do mercado (apostando em uma comunica&ccedil;&atilde;o direta e educativa com quem est&aacute; disposto a entrar nele) e tem o seu universo est&eacute;tico j&aacute; solidificado. Tanto que prepara um retorno &agrave;s passarelas com desfile solo, no fim do m&ecirc;s, para marcar esse ponto de virada, incluindo o lan&ccedil;amento de uma linha de pe&ccedil;as preciosas e feitas sob encomenda. 
 No ateli&ecirc;, dentro da curvil&iacute;nea loja dos Jardins, inaugurada logo no p&oacute;s-quarentena, Ana Luisa conversou com <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/cardi-nigro">L&rsquo;OFFICIEL</a> sobre esse novo momento constru&iacute;do quase em sil&ecirc;ncio, dentro da sua bolha, e a suas vis&otilde;es sobre o que vem por a&iacute;.
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Aluf

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 L&rsquo;OFFICIEL Da &uacute;ltima vez que a Aluf desfilou, em 2019, ainda era uma marca j&uacute;nior. Agora, a sua primeira loja j&aacute; completou um ano e prepara a segunda. Esse desfile &eacute; um momento de mostrar que se tornou um nome de peso? ANA LUISA FERNANDES Super, sim. Tanto que o nosso receio de voltar ao presencial &eacute; que n&atilde;o pod&iacute;amos fazer esse retorno com um desfile qualquer, num lugar que n&atilde;o tenha a ver conosco. A Aluf mudou muito nesse tempo em que n&atilde;o nos apresentamos, as pessoas tamb&eacute;m esperam outra estrutura. N&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel voltar ao ponto em que paramos. A marca existe h&aacute; mais tempo fora da passarela e dentro de pandemia do que em passarela. Ent&atilde;o era uma preocupa&ccedil;&atilde;o nossa: como organizar&iacute;amos tudo de uma forma que fizesse sentido para a Aluf dentro do que a empresa se tornou nesses anos.
 
 L&rsquo;O Voc&ecirc;s acham que conquistaram uma maturidade de mercado, &eacute; um ponto de virada? ALF Sim, que &eacute; muito importante. Era uma coisa que discut&iacute;amos muito naquela &eacute;poca de Projeto Estufa. Pois &eacute; muito importante todo o amadurecimento da parte criativa mas, se a marca n&atilde;o tem dinheiro por tr&aacute;s, faz tr&ecirc;s desfiles e some, pois n&atilde;o tem uma estrutura de neg&oacute;cios para continuar. Esse gap foi um tempo importante para que foc&aacute;ssemos em outras coisas. Imagine uma marca pequena, com uma equipe pequena e o criador tomando conta de quase tudo. Se voc&ecirc; est&aacute; focada em fazer desfile, n&atilde;o foca no crescimento, em fazer contrata&ccedil;&otilde;es, criar um fluxo de caixa. Ent&atilde;o conseguimos nos organizar e ter uma estrutura melhor de funcionamento, produ&ccedil;&atilde;o, qualidade de produto. A cole&ccedil;&atilde;o fala muito sobre isso, sobre esse processo como criadora, sobre relembrar. Vou ler um trecho do texto do desfile, que explica melhor.
 
 L&rsquo;O Voc&ecirc; ama um text&atilde;o para contextualizar as cole&ccedil;&otilde;es, n&eacute;? ALF Amo, n&atilde;o consigo ficar sem.
 L&rsquo;O Mas j&aacute; tentou? ALF Antes eu precisava come&ccedil;ar com eles, mas aprendi a desape- gar. J&aacute; fiz quase toda a cole&ccedil;&atilde;o sem texto, era um sentimento, um pensamento, que n&atilde;o precisei explicar antes. Mas quando tenho que comunicar a cole&ccedil;&atilde;o, organizo essas palavras. Este trecho: &ldquo;Essa cole&ccedil;&atilde;o fala sobre cal&ccedil;ar os sapatos da Ana sonhadora e idealizadora da Aluf, da jovem de 22 anos que idealizou tudo isso. Eu n&atilde;o sou mais ela, mas eu trabalho para ela. E nunca posso me esquecer disso. Esse desfile &eacute; uma homenagem e realiza&ccedil;&atilde;o de um sonho de quem eu j&aacute; fui um dia&rdquo;. Ent&atilde;o, &eacute; isso. Essa coisa de voltar a desfilar presencialmente... n&atilde;o tenho como continuar de onde parei. Eu mudei, n&atilde;o sou mais aquela pessoa, tive que ser muitas outras coisas desde ent&atilde;o.
 L&rsquo;O Mas n&atilde;o apaga. ALF N&atilde;o apaga. Para entender para onde vamos agora eu n&atilde;o posso esquecer do porqu&ecirc; tudo come&ccedil;ou, como criadora. Eu n&atilde;o posso ser a gestora quando sento aqui para desenhar, ou a marca se perde. Tenho que ser a Ana criadora, o motivo pelo qual a Aluf existe. Fazendo uma autoan&aacute;lise cr&iacute;tica, os desfiles anteriores n&atilde;o representam o que somos hoje. Da imagem at&eacute; o acabamento das roupas. &Eacute; curioso porque tenho muito essa imagem do que &eacute; a Aluf, das curvas nos shapes, do cru. Isso sempre foi muito posto, mas sinto que, nos desfiles, essa imagem nunca chegou. A cada cole&ccedil;&atilde;o que falo sobre esse meu processo criativo como arteterapia, &eacute; como se a Aluf sentasse no div&atilde; para falar sobre um novo assunto. Nesta cole&ccedil;&atilde;o, ela sentou para refletir sobre si mesma. Sobre essa discrep&acirc;ncia de quem sou e como as pessoas veem em rela&ccedil;&atilde;o ao desfile, atrav&eacute;s do desfile. Essa imagem que as pessoas t&ecirc;m da Aluf vem muito da nossa comunica&ccedil;&atilde;o no Instagram, n&atilde;o &eacute; da passarela. Acho que faltava isso. &Eacute; um desfile para mostrar o que a Aluf representa e a partir de onde posso continuar evoluindo. &Eacute; quase uma ode para como eu gostaria que a marca fosse vista.
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 L&rsquo;O Tirando a parte &oacute;bvia, do business, da loja, o que mudou dentro da marca nesse tempo? ALF Eu julgo que &eacute; uma Aluf menos ansiosa, em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; cria&ccedil;&atilde;o. Antes eu queria muito me provar como criadora, havia uma ansiedade de querer ter tudo na mesma cole&ccedil;&atilde;o, mostrar todas as ideias ao mesmo tempo. O que aprendi foi que existe sempre uma pr&oacute;xima cole&ccedil;&atilde;o, posso guardar algo para explorar mais profundamente depois. Espero que, com essa calma que ganhei na cria&ccedil;&atilde;o, eu consiga trazer um desfile que seja mais coerente. Faltava um pouco disso nos primeiros desfiles. O resultado ficava um pouco confuso, lidando com essa quase obsess&atilde;o com certos shapes, com certas formas, com muitas ideias.
 L&rsquo;O Voc&ecirc; vai resgatar algo daquela &eacute;poca? ALF Sim, com certeza. Pe&ccedil;as que nunca desfilei, mas foram muito s&iacute;mbolo da marca &mdash; como a camisa Pape, uma das nossas primeiras pe&ccedil;as, com tr&ecirc;s curvas e plissados diferentes. Ela est&aacute; no imagin&aacute;rio da Aluf, mas nunca foi para a passarela. Quero trazer principalmente as coisas dessa primeira cole&ccedil;&atilde;o, que n&atilde;o cheguei a desfilar dentro do Projeto Estufa. E trazer essa ess&ecirc;ncia, para conseguir virar essa p&aacute;gina e concluir esse momento. &Eacute; uma marca&ccedil;&atilde;o de &ldquo;ok, foi daqui que n&oacute;s viemos e de onde evolu&iacute;mos&rdquo;. O processo da cole&ccedil;&atilde;o me fez entender que n&atilde;o era sobre repetir o passado, mas relembrar de onde voc&ecirc; veio para entender onde est&aacute; agora, nesse universo.
 L&rsquo;O Falando de maneira mais pragm&aacute;tica, isso se encaixa no que a moda pede hoje tamb&eacute;m &mdash; de uma cria&ccedil;&atilde;o mais devagar, sem atropelos. ALF Acho que s&atilde;o dois caminhos em rela&ccedil;&atilde;o a isso. Existe esse ponto de n&atilde;o precisar recriar a roda a cada cole&ccedil;&atilde;o, sim, que n&atilde;o acontece mais para n&oacute;s e muitas marcas que s&atilde;o contempor&acirc;neas nossas. Mas n&atilde;o podemos perder o processo criativo. N&atilde;o quero que a Aluf seja aquela marca que, a cada desfile, s&oacute; muda a cor ou o comprimento de uma saia. Tenho muito receio da repeti&ccedil;&atilde;o. &Oacute;bvio, eu vou sempre ter algumas formas, tenho v&iacute;cios de desenho como criadora, gosto de shapes mais amplos e isso sempre aparecer&aacute;. Mas &eacute; uma quest&atilde;o de equil&iacute;brio, de n&atilde;o se deixar cair no conforto. Para mim, &eacute; muito importante entender esse processo criativo, entender o tema, me aprofundar nisso, fazer novas pesquisas. A pesquisa traz essa renova&ccedil;&atilde;o desse exerc&iacute;cio. Tenho muito essa fixa&ccedil;&atilde;o, pois &eacute; por isso que a Aluf existe, por conta desse processo criativo como arteterapia. A partir do momento que isso n&atilde;o est&aacute; acontecendo, deixa de fazer sentido. Temos uma linha muito coerente de contar hist&oacute;rias, pois existe de fato um caminho por tr&aacute;s. N&atilde;o &eacute; s&oacute; mais uma blusinha verde ou sei l&aacute; o qu&ecirc;. &Oacute;bvio que existe um mix de produtos, mas h&aacute; toda a hist&oacute;ria da cole&ccedil;&atilde;o para dar o embasamento a ela.
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 L&rsquo;O Como &eacute; o cuidado de n&atilde;o perder o exerc&iacute;cio criativo nem o olho no produto que, no final das contas, precisa vender? ALF Tento separar esses momentos. Eu penso que em primeiro lugar tem que vir o criativo, que tentamos n&atilde;o colocar barreiras. O mundo ideal &eacute; esse. Depois, vem a Ana gestora, que dilui a cole&ccedil;&atilde;o e cuida da loja. A&iacute; &eacute; m&eacute;trica, &eacute; planilha, ver qual a cal&ccedil;a que mais vende e n&atilde;o pode sair de estoque. Mas &eacute; preciso continuar gerando desejo, contando hist&oacute;rias. O pulo do gato &eacute; o qu&atilde;o bem se consegue equilibrar todos esses pontos. Tanto que nesse desfile n&oacute;s vamos lan&ccedil;ar a linha Aluf Ateli&ecirc;, que vem justamente desse lugar de equil&iacute;brio. Estou fazendo um desfile que &eacute; para ser um sucesso comercial, mostrarei o que est&aacute; na loja. Mas se eu pegasse s&oacute; o que fiz para vender e colocasse na passarela, n&atilde;o representaria 100% o que a Aluf &eacute; como desejo criativo. Eu n&atilde;o quero perder isso. Ent&atilde;o criei a linha Ateli&ecirc;, da qual vai existir s&oacute; uma pe&ccedil;a de cada e a pessoa pode encomendar. S&atilde;o pe&ccedil;as com palha de seda, por exemplo; coisas que, comercialmente, n&atilde;o poderia fazer. Mas eu n&atilde;o posso me deixar cercear criativamente por essas limita&ccedil;&otilde;es do comercial. O que aprendi, batendo muito a cabe&ccedil;a, &eacute; que n&atilde;o &eacute; a canetada da minha vontade que vai resolver. S&atilde;o os n&uacute;meros e eu obede&ccedil;o a eles. Eu brinco com o meu s&oacute;cio que meu papel &eacute; &ldquo;gastar bem&rdquo;. Saber qual o melhor que podemos fazer com o caixa dispon&iacute;vel para n&atilde;o quebrar no m&ecirc;s que vem, ter esse cuidado. Eu sempre tive o p&acirc;nico de ser aquela criadora sem no&ccedil;&atilde;o, que tem uma marca muito legal e que some, depois de dois anos. Ent&atilde;o precisei ativar esse lado muito racional para continuar a criar. Pois se eu for imprudente com a Aluf como neg&oacute;cio, n&atilde;o existir&aacute; a Aluf como criadora.
 
 L&rsquo;O Da&iacute; a parte do seu texto em que voc&ecirc; fala que trabalha para ela. ALF Exato! Trabalho para aquela Ana, meio sonhadora, para fazer acontecer.
 L&rsquo;O Acho curioso voc&ecirc; falar sobre ativar um lado racional, pois sempre apresentou um processo criativo muito cerebral. S&atilde;o racionais diferentes? ALF Eu sempre fui essa pessoa de ter os dois lados. Quando falo sobre ativar, &eacute; n&atilde;o deixar ativo s&oacute; o criativo. Eu n&atilde;o gosto de apenas sonhar, gosto de executar. Acho muito triste quando fica s&oacute; no sonho. Sempre tive a vontade de querer saber o que &eacute; preciso fazer para qualquer coisa dar certo. Eu sou, hoje, o que a Aluf precisa que eu seja para funcionar. Claro que o resultado est&eacute;tico &eacute; importante para o branding, para a vis&atilde;o de marca. Mas, no fim, o porqu&ecirc; do processo criativo &eacute; o essencial para mim. O que aprendo como criadora e como pessoa, a cada cole&ccedil;&atilde;o, &eacute; o mais importante. O fato de eu ser t&atilde;o focada no processo criativo &eacute; o que me d&aacute; embasamento para falar do que acredito, sobre onde a arte e a moda se unem, que &eacute; no processo criativo. Se n&atilde;o, ficaria s&oacute; no produto mesmo e tudo certo. &Oacute;bvio que a moda &eacute; mercado, &eacute; produto, mas sempre tive essa inquieta&ccedil;&atilde;o, desde a faculdade: &eacute; poss&iacute;vel fazer uma moda que seja ligada &agrave; arte, a partir do momento que existe um processo criativo por tr&aacute;s daquilo. No in&iacute;cio, fiz uma exposi&ccedil;&atilde;o com a [artista pl&aacute;stica] Gabriella Garcia, est&aacute;vamos as duas come&ccedil;ando. Entreguei a ela uma tela, um quadro mesmo, e uma roupa, um vestido feito de tela. E ela teve o mesmo processo criativo nas duas bases. A exposi&ccedil;&atilde;o te levava a questionar: por que o quadro era mais importante do que o vestido? Por ser uma roupa e ter uma fun&ccedil;&atilde;o? Mas se o processo criativo foi o mesmo, a mat&eacute;ria que a artista usou foi a mesma, por que o vestido &eacute; &ldquo;menos&rdquo; que o quadro? Em que ponto um se p&otilde;e acima do outro? Isso sempre me incomodou. S&atilde;o esses embasamentos que a Aluf tem para se justificar, da relev&acirc;ncia do fazer de moda, &eacute; do questionamento que n&oacute;s surgimos. O processo criativo &eacute; que nos faz termos essa relev&acirc;ncia enquanto criadores. O desafio &eacute; crescer mantendo isso.
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 L&rsquo;O A Aluf &eacute; muito sobre voc&ecirc;, nasceu do seu TCC, mas voc&ecirc; sempre se colocou por tr&aacute;s das cortinas. Havia esse receio de aparecer como personagem. Isso mudou, n&atilde;o? ALF No in&iacute;cio eu tinha esse pensamento, at&eacute; um pouco radical, sobre n&atilde;o fazer a Aluf sozinha. S&atilde;o diversas pessoas que fazem isso acontecer, n&atilde;o queria que olhassem para a marca e pensassem em mim. Que pensassem no resultado, no desfile, no desempenho, no produto, n&atilde;o na minha cara. Hoje, j&aacute; sei que querer me esconder n&atilde;o faz sentido. Precisei mudar para n&atilde;o me limitar em tudo o que gostaria de comunicar. Claro, o coletivo continua essencial. Mas, no final das contas, sou eu que toco tudo isso. A partir do momento que falamos sobre o tom de voz educacional que a Aluf tem, o quanto n&oacute;s queremos ser para al&eacute;m de uma marca e, de fato, ter informa&ccedil;&otilde;es &mdash; trazer n&atilde;o s&oacute; experi&ecirc;ncias, mas tamb&eacute;m conte&uacute;do, pois gosto muito dessa parte acad&ecirc;mica &mdash; quem vou colocar para falar? Ningu&eacute;m vai ter tanta propriedade para falar como eu. Entendo que tenho essa responsabilidade hoje, preciso ser porta-voz da marca para o que acredito e para unir pessoas de modo a mudar algumas coisas na moda, ent&atilde;o devo me envolver e colocar a cara a tapa. Eu n&atilde;o quero ser famosa, acho isso um pesadelo. Mas sempre quis ser reconhecida pelo meu trabalho, que ele viesse antes de mim. Por isso eu n&atilde;o aparecia tanto no in&iacute;cio. E n&atilde;o &eacute; que sou uma pessoa t&iacute;mida, eu gosto de falar sobre o que acredito. Gosto de dar palestras, aulas, passar a informa&ccedil;&atilde;o. O que n&atilde;o gosto &eacute; de olhar o criador de moda como se ele estivesse num altar. Sempre critiquei essa vis&atilde;o esnobe, essa louva&ccedil;&atilde;o. Ao mesmo tempo que a pessoa se p&otilde;e nesse lugar, ou &eacute; posta, ela passa a ser cobrada de acordo com aquilo. E quando voc&ecirc; coloca essa pessoa no lugar do g&ecirc;nio, essas cobran&ccedil;as aumentam. N&atilde;o &eacute; disso que se faz as coisas aqui, na vida real. N&atilde;o &eacute; assim. Para fazer tudo o que fa&ccedil;o, preciso estar na minha mesa, acordada, bem, equilibrada. Se estiver mal porque est&atilde;o me cobrando isso ou aquilo, nada vai acontecer. Acredito nos processos criativos exatamente por que eles te libertam dessa cobran&ccedil;a. A partir do momento que falo que o essencial &eacute; o processo que voc&ecirc; est&aacute; sentindo e se entendendo, aquilo vem para um bem-estar seu, criativo. Voc&ecirc; se embasa no processo ao inv&eacute;s de esperar que tudo isso venha de voc&ecirc;.
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 L&rsquo;O Quando a Aluf nasceu, nesse seu processo muito racional, ela veio como algo que voc&ecirc; queria fazer e o mercado abra&ccedil;ou ou voc&ecirc;, antes, enxergou um nicho que fazia sentido para si mesma? ALF Acredito que a primeira op&ccedil;&atilde;o. A Aluf nasceu do meu TCC, certo? Quando fiz, eu pesquisei pra cacete, escrevi um monte. E n&atilde;o queria que todo aquele trabalho morresse numa apresenta&ccedil;&atilde;o de 40 minutos em sala de aula. Queria desfilar aquilo, falar sobre, botar para fora. Ent&atilde;o comecei a me inscrever em semin&aacute;rios, dei palestras sobre tudo o que acreditava. Quando participei do Brasil Eco Fashion Week, antes do Projeto Estufa, al&eacute;m do desfile havia a parte do showroom. E eu ficava l&aacute;, sentada com as minhas roupas, vendo as pessoas passarem e dizerem que aquilo era bom. Uma coisa &eacute; voc&ecirc; ser uma excelente aluna dentro de uma faculdade. Outra coisa &eacute; voc&ecirc; ir para o mercado e as pessoas continuarem a falar que o seu trabalho &eacute; bom, &eacute; muito diferente. Quando vi que fui para o mercado, ainda que dentro de uma redoma, e ganhei aprova&ccedil;&atilde;o, percebi que tinha acertado algo ali. Foi a partir da&iacute; que comecei a me entender de fato como marca, que precisaria construir um estoque, colocar numa loja, organizar mesmo. Teoricamente, acho que s&oacute; queria comunicar para o mundo aquele racioc&iacute;nio que tinha constru&iacute;do, que era muito importante. Tanto que a minha ideia era sair para estudar fora, ter outras viv&ecirc;ncias. Mas quando vi que existia um desejo de mercado, o plano mudou.
 L&rsquo;O Acha que o p&uacute;blico que a Aluf atinge hoje entende o que voc&ecirc; quer comunicar, da moda como arte, do seu desejo todo de cria&ccedil;&atilde;o? ALF S&atilde;o n&iacute;veis... principalmente com a expans&atilde;o da marca. H&aacute; a pessoa que entende 100% da marca, mas que pode ser uma estudante, uma entusiasta, que n&atilde;o tem grana para comprar. Tem quem entenda a quest&atilde;o da arte, mesmo sendo de outro mundo fora da moda, que v&ecirc; isso. E tem a cliente que passou na rua, viu uma roupa bonita e quis comprar &mdash; e gra&ccedil;as a Deus ela existe! Imagina se s&oacute; comprasse quem entendesse tudo, &eacute; uma parcela muito pequena. Quando falo sobre a nossa comunidade, &eacute; quem segue a gente no Instagram, com quem nos comunicamos diretamente &mdash; que n&atilde;o necessariamente &eacute; quem est&aacute; comprando. Ent&atilde;o, &eacute; preciso pensar em toda essa gama de pessoas. O nosso processo de crescimento &eacute; sobre ampliar cada vez mais a nossa gama de compradoras para crescer como empresa. E aquela &uacute;ltima pessoa, ali na ponta, n&atilde;o necessariamente quer entender todo o discurso &mdash; e tudo bem. Agora mais ainda, com loja em shopping, que &eacute; um fluxo muito maior de pessoas em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; nossa loja de rua. Essa cliente vai acabar comprando porque o produto &eacute; bom. Temos que ter esse lado tamb&eacute;m, s&oacute; o discurso n&atilde;o vende roupa. &Eacute; o que eu sempre falei em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; quest&atilde;o da sustentabilidade. Por mais que isso seja o embasamento da Aluf, a forma que trabalhamos, n&atilde;o &eacute; por isso que vamos ser diferentes do mercado ou venderemos mais. &Eacute; uma quest&atilde;o de coer&ecirc;ncia interna. N&atilde;o adianta a marca chegar e falar&nbsp;&ldquo;sou sustent&aacute;vel, compre!&rdquo;. Quem &eacute; realmente 100% sustent&aacute;vel nem est&aacute; comprando roupa, sabe? &Eacute; uma mudan&ccedil;a de mercado que sonho que aconte&ccedil;a. Ent&atilde;o, se todo mundo, um dia, estar&aacute; assim, por que isso vai ser um diferencial meu ou de qualquer outra marca? J&aacute; n&atilde;o &eacute; e ser&aacute; cada vez menos.
 
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 L&rsquo;O H&aacute; uma armadilha poss&iacute;vel nesse caminho de crescimento, n&atilde;o acha? De trope&ccedil;ar e deixar o processo para tr&aacute;s. ALF Acho que n&atilde;o, se voc&ecirc; foca em fazer o que acredita. A Aluf existe para que tenhamos orgulho de fazer moda, eu n&atilde;o tenho motivo para abandonar isso. Tenho que fazer o restante para que essas vontades continuem vivas, mesmo que o discurso alcance 10% de quem n&oacute;s atingimos. Ao mesmo tempo, quero que a pessoa que entre na faculdade de moda hoje tenha uma marca que ela possa desejar trabalhar. N&atilde;o necessariamente a Aluf, mas &eacute; um cen&aacute;rio que quero ajudar a construir. Na minha &eacute;poca de estudante havia, sei l&aacute;, uma marca e meia que me atraia, sabe? Quero que as pessoas tenham orgulho e falem &ldquo;nossa, agora temos v&aacute;rias marcas nacionais realmente legais&rdquo;. E que essas marcas tamb&eacute;m possam contratar essas pessoas, que os neg&oacute;cios sejam saud&aacute;veis. Cad&ecirc; aquele momento que n&oacute;s poderemos olhar para uma marca e dizer &ldquo;ela &eacute; foda como est&eacute;tica, mas tamb&eacute;m &eacute; foda como empresa&rdquo;? &Eacute; dif&iacute;cil ver isso.
 
 L&rsquo;O Essa nova gera&ccedil;&atilde;o, que voc&ecirc; faz parte, que est&aacute; crescendo agora e construindo esse cen&aacute;rio: acha que voc&ecirc;s t&ecirc;m essa obriga&ccedil;&atilde;o de remexer o mercado para fazer isso acontecer? ALF N&atilde;o posso falar por eles, mas me sinto... n&atilde;o &eacute; obriga&ccedil;&atilde;o, eu diria, &eacute; um desejo. Fa&ccedil;o parte disso, ent&atilde;o o que posso fazer para mudar? Tenho esses ideais. Mas &eacute; algo que quero tentar fazer, e em sil&ecirc;ncio. Vou sentar aqui e trabalhar para tentar mudar.
 L&rsquo;O Volta um pouco para o assunto da sustentabilidade. Est&aacute; na base da marca, ok. Mas como isso funciona na pr&aacute;tica? ALF Certo, &eacute; um exerc&iacute;cio de ser o mais sustent&aacute;vel poss&iacute;vel dentro do mercado, em pilares sociais, ambientais e econ&ocirc;micos. Partimos da mat&eacute;ria-prima, que &eacute; majoritariamente brasileira. E focamos em tecidos que sejam naturais, reciclados ou biodegrad&aacute;veis. J&aacute; no processo de produ&ccedil;&atilde;o, temos um contrato com os nossos fornecedores de que os res&iacute;duos de tecidos voltem para a marca. Daqui s&atilde;o levados para neg&oacute;cios sociais que transformam esses retalhos em outros produtos e geram dinheiro para essas pessoas. &Eacute; um esfor&ccedil;o para tentar fazer um processo c&iacute;clico fechado. Nosso objetivo, a longo prazo, &eacute; reciclar 100% das sobras de mat&eacute;ria-prima e res&iacute;duos. Temos outras a&ccedil;&otilde;es, tenho pesquisado novos materiais poss&iacute;veis, estou sempre de olho no assunto. Como disse: faz parte da base da marca, &eacute; natural. Mas acho mais importante voc&ecirc; fazer do que falar, sabe? Tem que ser genu&iacute;no, a hipocrisia que envolve esse assunto me incomoda demais. Eu fa&ccedil;o por que acredito que &eacute; importante, n&atilde;o porque sou boazinha.
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Cr&eacute;ditos: FOTOS: Mariana Valente. BEAUTY: Vini Vieira.&nbsp; PRODUÇÃO EXECUTIVA: Ana Luiza Neves. ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Gustavo Uehara. ASSISTENTE DE BEAUTY: Jessica dos Santos.

Ana Luisa Fernandes, head da Aluf, em entrevista exclusiva

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