Do cartoon existencial de Theodoro Autops brotam di&aacute;logos que instigam a sociedade a enxergar os seus pr&oacute;prios desejos e ang&uacute;stias

O comportamento humano sempre fascinou Theodoro Autops. Sobretudo, os comportamentos relacionados aos aspectos mais introspectivos da mente. &Eacute; da reflex&atilde;o sobre este universo que o artista tira boa parte de sua produ&ccedil;&atilde;o. Paulistano da Barra Funda, 33 anos, ele criou um personagem capaz de absorver a diversidade de sentimentos &ndash; um sujeitinho que parece ter escapado de um cartoon e que hoje anda pelos muros da cidade e pelas telas exibidas em museus e galerias. &ldquo;Como sempre amei cartoon, desenvolvi essa figura que se chama Pingo, desprovido de qualquer caracter&iacute;stica. Ele n&atilde;o tem cor, etnia, g&ecirc;nero, nenhum atributo que n&atilde;o seja a ideia universal de um ser humano. Escolhi utilizar a linguagem minimalista justamente para que qualquer pessoa consiga se identificar. Ele representa um ser humano e a humanidade inteira&rdquo;, avisa Autops que, em seu Instagram descreve o pr&oacute;prio trabalho como &ldquo;cartoon existencial&rdquo;.

Foto: Divulgação

O artista reconhece que ilustrar a conduta do homem &eacute; um tanto complexo, mas tamb&eacute;m desafiador. &ldquo;A rela&ccedil;&atilde;o do ser humano com ele mesmo, uma coisa interna, os sentimentos e pensamentos, &eacute; algo abstrato&rdquo;, constata. Para lidar com essa aparente confus&atilde;o, ele buscou a linguagem dos quadrinhos.

Cada s&eacute;rie de telas conta uma hist&oacute;ria cuja arquitetura toma emprestada a t&eacute;cnica da arte sequencial muito utilizada na anima&ccedil;&atilde;o e na pr&oacute;pria HQ. &ldquo;Gosto da ideia de fazer uma s&eacute;rie de telas que estejam conectadas pela narrativa, mas cada uma delas com um significado pr&oacute;prio, sozinha, com uma est&eacute;tica individual.&rdquo;

Quando era garoto, l&aacute; pelos 13 ou 14 anos, Autops ficava encantado com a possibilidade de transformar a cidade em tela. Adolescente, fugia de casa para grafitar na rua e, desde sempre, levou bronca na escola porque preferia desenhar a fazer o dever de casa. &ldquo;Grafite sempre foi o meu estilo de vida, o meu esporte.&rdquo; Para alimentar a mochila com tintas, ele apostou em todo tipo de trabalho. Fez servi&ccedil;os no Theatro Municipal e em ag&ecirc;ncia de publicidade, aceitou encomendas de grafite comercial, foi assistente de mural e at&eacute; host de exposi&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Pegava o meu sal&aacute;rio do m&ecirc;s e, o que sobrava do aluguel, comprava tinta pra ir pra rua fazer grafite e me divertir&rdquo;, lembra. Em 2017, teve um estalo: &ldquo;Nesse ciclo maluco de fazer algo que n&atilde;o gosto para depois fazer o que gosto, comecei a pensar &lsquo;por que n&atilde;o me demito e tento conciliar as duas coisas &ndash; e fazer o que amo virar o meu trabalho&rsquo;&rdquo;. N&atilde;o foi f&aacute;cil, mas deu certo.

&ldquo;GOSTO da IDEIA de FAZER UMA S&Eacute;RIE de TELAS que ESTEJAM CONECTADAS PELA NARRATIVA, mas CADA UMA DELAS COM um SIGNIFICADO PR&Oacute;PRIO&rdquo;

Hoje ele viaja o mundo com a sua arte. Pinta nos muros mais inusitados do planeta e conquistou independ&ecirc;ncia. Al&eacute;m disso, colhe a satisfa&ccedil;&atilde;o de comunicar aquilo que acha importante. &ldquo;O principal objetivo do meu trabalho &eacute; proporcionar uma chance para as pessoas pensarem um pouco sobre a vida delas. A import&acirc;ncia da sa&uacute;de mental &eacute; um assunto cada vez mais em pauta, &eacute; algo que tento abordar sempre&rdquo;, avisa o artista que, embora tenha se debru&ccedil;ado mais sobre as pinturas nos &uacute;ltimos anos, faz quest&atilde;o de levar Pingo para as ruas da metr&oacute;pole. &ldquo;Acho essencial que os meus interlocutores consigam acess&aacute;-lo e v&ecirc;-lo em lugares diferentes, tanto num bairro mais humilde quanto num endere&ccedil;o onde a arte &eacute; presente&rdquo;, diz &ndash; e completa: &ldquo;Acredito que levar a arte para regi&otilde;es onde ela &eacute; escassa, nas quebradas, &eacute; obrigat&oacute;rio para o desenvolvimento da no&ccedil;&atilde;o de cultura. A arte acaba sendo limitada pela falta do ingresso &agrave; educa&ccedil;&atilde;o. &Eacute; complicada a forma como a arte &eacute; sucateada no Brasil. Por isso gosto de ter esse trabalho no qual tanto um adulto quanto uma crian&ccedil;a possam se identificar&rdquo;. @_AUTOPS

Theodoro Autops instiga a sociedade sobre os desejos e angústias

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