&nbsp;A condi&ccedil;&atilde;o humana est&aacute; sendo instagramada.

Antes de inaugurar uma nova possibilidade, esse que vos fala agora decodificado em palavras vagou por dias e horas a fio sobre o que na verdade seria o certo a se dizer. A falta de a&ccedil;&atilde;o surge porque em uma sociedade &ldquo;hiperexpositiva&rdquo; tudo &eacute; pass&iacute;vel de compartilhamento. Nesse caso, estaria eu contribuindo mais em compartilhar ou em manter o sil&ecirc;ncio?&nbsp;
Os mais ou menos cento e vinte anos de audiovisual que come&ccedil;am no cinema mudo e chegam nas narrativas realistas foram orquestrados por um <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/wellness/saude-mental-durante-a-quarenta-5-aplicativos-que-vao-te-auxiliar-a-bons-habitos">desenvolvimento tecnocient&iacute;fico voraz e veloz.</a> O arqu&eacute;tipo do Her&oacute;i em jornadas &eacute;picas nos ajudava a enxergar as representa&ccedil;&otilde;es de um conflito, levando o espectador a habitar um novo estado atrav&eacute;s do espelhamento e desvelando a camada inconsciente. Os filmes passaram a ter tamb&eacute;m o intuito de levantar discuss&otilde;es, expor situa&ccedil;&otilde;es de vulnerabilidade e muitas vezes foram retratados e usados como instrumento de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/10-filmes-necessarios-para-entender-mais-sobre-o-feminismo">perpetua&ccedil;&atilde;o do patriarcado.</a>

O Brasil, como um dos pa&iacute;ses que mais acessa a internet, foi se tornando um expert na vida alheia - processo iniciado em passos excludentes desde o in&iacute;cio dos reality shows e hoje, habitando um lugar com mais representatividade do que representa&ccedil;&otilde;es.
Para sobreviver &agrave; revolu&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica &eacute; necess&aacute;rio recorrer a um avatar. Criar um avatar &eacute; como traduzir seu Her&oacute;i interno, fazendo alus&atilde;o ao que h&aacute; de melhor e mais poderoso na vida e acreditar nisso de modo que os outros tamb&eacute;m comprem essa "persona". Acontece que apostar todas as fichas na ilus&atilde;o criada por voc&ecirc; mesmo pode te fazer dar voltas em c&iacute;rculos, existindo a partir de um ponto que n&atilde;o abarca a totalidade mas opera em car&aacute;ter polarizado, segregativo.&nbsp;

Caber em um sistema algor&iacute;tmico pode se tornar um precip&iacute;cio se n&atilde;o houver um processo de desenvolvimento individual que v&aacute; al&eacute;m do consumo voraz de informa&ccedil;&otilde;es, gerando assim uma massifica&ccedil;&atilde;o.&nbsp;
Para Jung, esse processo &eacute; chamado de "individua&ccedil;&atilde;o", que consiste no caminho em busca de um senso de identidade, uma estrutura&ccedil;&atilde;o do Eu: onde ele come&ccedil;a, termina, quais suas linhas, contornos e como eu me identifico e me expresso nas rela&ccedil;&otilde;es.&nbsp;
&nbsp;Coisas boas levam tempo para existir consistentemente e necessitam de pr&aacute;tica de escuta, reflex&atilde;o e aprimoramento. O imediatismo auxilia e ao mesmo tempo retarda a expans&atilde;o da linguagem a partir do momento em que o senso cr&iacute;tico e a elabora&ccedil;&atilde;o ficam em segundo plano, dando espa&ccedil;o &agrave; necessidade de concordar e pertencer em primeira inst&acirc;ncia.
Compartilho, logo existo: engajamos sintomaticamente enquanto o mist&eacute;rio pulsante da d&uacute;vida some e cede espa&ccedil;o &agrave; fal&aacute;cias nas redes, que entregam os cinco passos para todos os nossos problemas. Tudo indica o caminho ideal para a realiza&ccedil;&atilde;o plena, mas algo nos escapa. Sempre escapou. N&atilde;o existe linearidade. O que escorre &eacute; o que de fato nos coloca em movimento, em um processo de lapida&ccedil;&atilde;o artesanal e precisa. A hiperexposi&ccedil;&atilde;o nos coloca no limiar da falsa escolha, trazendo ideias fr&aacute;geis de um eu fict&iacute;cio coagido pela informa&ccedil;&atilde;o - a mem&oacute;ria se subutiliza e &eacute; soterrada por dados, arrobas e efeitos que modificam as camadas da realidade e imprimem um novo SELFIE.
&nbsp;

"A informa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o &eacute; uma conclus&atilde;o. Por isso, ela tende &agrave; prolifera&ccedil;&atilde;o e &agrave; massifica&ccedil;&atilde;o. Nisso, ela distingue tanto do saber quanto do conhecimento e da verdade."&nbsp;

Em "Se eu fechar os olhos agora - em busca de um outro tempo", BYUNG-CHUL HAN enfatiza o ato de fechar os olhos como uma conclus&atilde;o e consequentemente o encerramento de algo. Dessa forma, a mem&oacute;ria volta a se tornar camada, condi&ccedil;&atilde;o essencial para a constru&ccedil;&atilde;o de novos pilares na humanidade. Do contr&aacute;rio, ao inv&eacute;s de&nbsp; ser usada para uma estrutura&ccedil;&atilde;o aut&ocirc;noma em busca de um processo digno de individua&ccedil;&atilde;o, a mem&oacute;ria se torna "algoritmizada" por um padr&atilde;o e nicho espec&iacute;ficos. A perda da experi&ecirc;ncia se d&aacute; em muitos n&iacute;veis e no cerne de tudo perdemos subjetividades e poesias orquestradas pelo tempo que ningu&eacute;m v&ecirc; passar ao passo que nos tornamos massa de uma positividade t&oacute;xica por tr&aacute;s de avatares sobre-humanos indefect&iacute;veis apesar de, meramente, ordin&aacute;rios.

Ator, Roteirista, Diretor e Produtor, <a href="https://www.instagram.com/ffelipe.ribeiro/">Felipe Ribeiro</a> come&ccedil;ou sua carreira em 2015, na novela "Babil&ocirc;nia" (TV GLOBO). Em seguida dedicou-se ao Teatro, onde, entre oito espet&aacute;culos, passeou por m&uacute;ltiplas linguagens. Retornou ao audiovisual em 2019, no docudrama "Vitimas Digitais" (GNT) e fez parte do elenco de "Maldivas" (NETFLIX, 2022). Atualmente estuda Filosofia e abriu a Santa B&aacute;rbara, sua produtora focada em desenvolvimento de conte&uacute;dos e projetos para o audiovisual.&nbsp;

Hiperexposição: A exaustão da vida

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