Questionando o uso desfreado da IA, Alok traz a m&uacute;sica como manifesto

Logo ap&oacute;s sua &uacute;ltima apresenta&ccedil;&atilde;o no dia 19 de abril no <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/coachella-2025-veja-os-destaques-do-festival">Coachella 2025</a>, o DJ <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/alok-faz-show-do-seculo-e-movimenta-milhoes-para-a-economia">Alok</a> &mdash; classificado entre os quatro melhores <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/dj-5-mitos-que-voce-sempre-acreditou-sobre-a-carreira">DJs</a> do mundo pela DJ Mag em 2024 &mdash; concedeu uma entrevista exclusiva &agrave; L&rsquo;Officiel Brasil, compartilhando bastidores e reflex&otilde;es sobre um dos momentos mais marcantes de sua carreira.
Em meio ao deserto da Calif&oacute;rnia, quando o p&ocirc;r do sol tingia o c&eacute;u de dourado e vermelho, e a noite lentamente invadia a plan&iacute;cie estrelada que se misturava &agrave;s luzes do festival, Alok, 33 anos, tomou o palco da 24&ordf; edi&ccedil;&atilde;o do Coachella Valley Music and Arts Festival. Pouco depois de sua segunda apresenta&ccedil;&atilde;o no ic&ocirc;nico Sahara Tent, o DJ falou sobre sua trajet&oacute;ria e as escolhas art&iacute;sticas que moldaram este momento.

Reconhecido entre os quatro melhores DJs do mundo pela revista brit&acirc;nica DJ Mag, Alok protagonizou dois shows no festival &mdash; nos dias 12 e 19 de abril &mdash; em hor&aacute;rios de prest&iacute;gio. Em tempos em que a cria&ccedil;&atilde;o art&iacute;stica parece cada vez mais capturada pelas engrenagens da tecnologia, o artista reafirmou no Coachella a intr&iacute;nseca supremacia da express&atilde;o humana.
Alok apostou em menos uso dos recursos digitais para dar lugar a cinquenta dan&ccedil;arinos do coletivo italiano Urban Theory, que cruzaram o palco em coreografias desenhadas com precis&atilde;o quase escult&oacute;rica. Em uma composi&ccedil;&atilde;o multifacetada e pulsante, Alok subverteu as expectativas do festival, oferecendo uma experi&ecirc;ncia ritual&iacute;stica. Nos tel&otilde;es, a frase &ldquo;This is not AI&rdquo; surgia como uma advert&ecirc;ncia elegante e metaf&oacute;rica, sublinhando sua vis&atilde;o de que a arte, para existir, precisa vibrar de alma e presen&ccedil;a. Em um gesto simples e poderoso, trajava uma camiseta com a mensagem &ldquo;Arte Precisa de Alma&rdquo;, sintetizando no pr&oacute;prio corpo a ess&ecirc;ncia do manifesto.&nbsp;
Sua performance ressoou como um ato emblem&aacute;tico, capaz de transcender o entretenimento e instaurar uma reflex&atilde;o profunda sobre o que torna a cria&ccedil;&atilde;o verdadeiramente humana.

O Coachella 2025 consolidou-se como um mosaico das vozes mais distintas da m&uacute;sica contempor&acirc;nea. Al&eacute;m do show hist&oacute;rico de Alok, passaram pelos palcos nomes como Lady Gaga, Green Day, Post Malone, Travis Scott, Vintage Culture, Benson Boone, Billie Eilish, Charli XCX e Ed Sheeran.&nbsp;
Lady Gaga, fiel &agrave; sua natureza perform&aacute;tica, entregou um espet&aacute;culo teatral em que faixas como &ldquo;Killah&rdquo; e &ldquo;Abracadabra&rdquo; rapidamente ecoaram pelas redes sociais. Green Day, estreando como headliner, reafirmou seu vigor em uma apresenta&ccedil;&atilde;o energ&eacute;tica, enquanto Benson Boone, com a emotiva &ldquo;Beautiful Things&rdquo;, ofereceu ao p&uacute;blico um dos momentos mais arrebatadores do festival. Billie Eilish surpreendeu ao fazer uma participa&ccedil;&atilde;o especial no show de Charli XCX, unindo as vozes na can&ccedil;&atilde;o &ldquo;Guess&rdquo;.
Este ano, o festival enfrentou ainda cancelamentos de diversos artistas internacionais devido a problemas com vistos de entrada nos Estados Unidos.

Alok tamb&eacute;m trouxe ao Sahara Tent a nova vers&atilde;o de seu sucesso &ldquo;Hear Me Now&rdquo;, entrela&ccedil;ada aos sons da floresta Amaz&ocirc;nica, como parte de seu projeto The Future is Ancestral, propondo um elo aut&ecirc;ntico entre inova&ccedil;&atilde;o e heran&ccedil;a cultural.&nbsp;
O festival, que j&aacute; consagrou performances hist&oacute;ricas de Paul McCartney, Madonna, Daft Punk, Prince, Red Hot Chili Peppers, The Cure, The Killers, Blur e Ariana Grande, agora guarda tamb&eacute;m na mem&oacute;ria o manifesto de Alok &mdash; uma noite em que a m&uacute;sica eletr&ocirc;nica dan&ccedil;ou entre as estrelas, desafiando algoritmos e reafirmando que, enquanto houver alma, haver&aacute; m&uacute;sica.&nbsp;
Confira a seguir entrevista exclusiva com Alok:

O Coachella &eacute; reconhecido mundialmente como um espa&ccedil;o de inova&ccedil;&atilde;o e diversidade musical. Como voc&ecirc; pensa e constr&oacute;i seu set para um p&uacute;blico t&atilde;o plural e atento, sabendo da visibilidade global que o festival proporciona?
A performance que desenvolvi para o Coachella foi a mais desafiadora da minha carreira, n&atilde;o por ter uma audi&ecirc;ncia plural ou pela visibilidade global, mas por ser algo in&eacute;dito para mim. Estou acostumado aos recursos tecnol&oacute;gicos nos meus shows e, desta vez, com a colabora&ccedil;&atilde;o do grupo Urban Theory, optamos pela tecnologia humana. Foi uma maneira de buscar novas possibilidades para me expressar artisticamente, mas n&atilde;o apenas isso: foi a chance de transmitir uma mensagem sobre a rela&ccedil;&atilde;o que estabelecemos com as m&aacute;quinas, a natureza e a pr&oacute;pria tecnologia, como o uso da intelig&ecirc;ncia artificial nas artes.

O que motivou a decis&atilde;o de substituir a tecnologia digital pela &lsquo;tecnologia humana&rsquo; em sua apresenta&ccedil;&atilde;o no Coachella? Qual mensagem voc&ecirc; quis transmitir ao fazer essa escolha em um palco de tanta proje&ccedil;&atilde;o internacional?
Como voc&ecirc; pontuou, o Coachella &eacute; um palco de inova&ccedil;&atilde;o e tem um alcance absurdo. Fazer essa reflex&atilde;o naquele espa&ccedil;o foi uma oportunidade que a minha equipe e eu n&atilde;o pod&iacute;amos deixar passar. No fundo, &eacute; isso: como artista, minha responsabilidade &eacute; fazer a cultura se mover e mostrar que a arte precisa de almas humanas.

Ao longo da sua trajet&oacute;ria, voc&ecirc; colaborou com grandes nomes da m&uacute;sica pop e eletr&ocirc;nica. Como consegue preservar sua identidade art&iacute;stica nesses encontros? E o que voc&ecirc; valoriza em um colaborador para que essa parceria seja aut&ecirc;ntica e tenha relev&acirc;ncia criativa?&nbsp;
Manter uma identidade musical nas parcerias &eacute; um desafio, mas que faz sentido quando h&aacute; uma troca real &mdash; quando h&aacute; espa&ccedil;o tanto para mim quanto para o outro artista imprimirmos nossas ess&ecirc;ncias, sem nos prendermos a moldes j&aacute; existentes. O bonito &eacute; co-criar e fazer desse exerc&iacute;cio uma ferramenta de criatividade que se some. Por exemplo, estou lan&ccedil;ando &ldquo;Esperar Pra Ver&rdquo;, uma m&uacute;sica da d&eacute;cada de 1970 que foi sucesso na voz de Evinha, uma cantora extraordin&aacute;ria, mas que a gera&ccedil;&atilde;o mais nova s&oacute; est&aacute; descobrindo agora. Produzi essa faixa junto ao Watzgood, com uma roupagem moderna, atualizada pela m&uacute;sica eletr&ocirc;nica, mas sem descaracterizar os elementos originais da grava&ccedil;&atilde;o. A m&uacute;sica tem esse poder de unir estilos que aparentemente n&atilde;o t&ecirc;m a ver.

Em um pa&iacute;s de diversidade cultural t&atilde;o intr&iacute;nseca quanto o Brasil, como voc&ecirc; v&ecirc; a import&acirc;ncia de conectar a m&uacute;sica eletr&ocirc;nica com ritmos tradicionais?&nbsp;
O Brasil &eacute; um pa&iacute;s gigante e culturalmente diverso; a m&uacute;sica do Norte &eacute; diferente da do Sul. Mas quem disse que n&atilde;o posso misturar forr&oacute; com eletr&ocirc;nica? Fazer um carimb&oacute; eletr&ocirc;nico? Ou, como fizemos com o projeto Futuro &Eacute; Ancestral, levar artistas ind&iacute;genas ao Grammy e &agrave; ONU, em Nova Iorque? A m&uacute;sica &eacute; uma linguagem de express&atilde;o, mais do que um produto.

Com um p&uacute;blico estimado entre 200 mil e 250 mil pessoas no show realizado em Bel&eacute;m &mdash; um marco que, segundo o governo do Par&aacute;, simbolizou a contagem regressiva para a COP30 &mdash;, como voc&ecirc; enxerga o papel da m&uacute;sica eletr&ocirc;nica na promo&ccedil;&atilde;o e preserva&ccedil;&atilde;o das tradi&ccedil;&otilde;es culturais regionais e ind&iacute;genas do Brasil, especialmente diante da resist&ecirc;ncia de alguns em integrar estilos como o carimb&oacute;?
A arte &eacute; uma ferramenta de transforma&ccedil;&atilde;o individual e coletiva. Como artista, entendo que meu papel vai al&eacute;m de entreter. Busco que meus shows sejam experi&ecirc;ncias; existe uma inten&ccedil;&atilde;o em cada set que desenvolvo. Cada m&uacute;sica pretende estabelecer uma conex&atilde;o com o p&uacute;blico. A arte tem esse poder de provocar, inspirar e incitar a reflex&atilde;o. Tento usar minha visibilidade para somar espa&ccedil;o com outras vozes, trazer quest&otilde;es importantes &agrave; tona sobre quem somos e como nos relacionamos com o mundo &mdash; seja por meio da tecnologia, da ancestralidade ou da emo&ccedil;&atilde;o pura que a m&uacute;sica desperta. No fim, acredito que a transforma&ccedil;&atilde;o come&ccedil;a quando a gente toca algu&eacute;m de verdade. Se uma pessoa sair do meu show com uma nova ideia, com um sentimento diferente ou com vontade de mudar algo, j&aacute; valeu a pena.

Alok no Coachella 2025

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