PV Dias debru&ccedil;a-se sobre a rica cultura do Norte do Pa&iacute;s e do per&iacute;odo colonial para tra&ccedil;ar novas perspectivas sobre a sua arte

A Amaz&ocirc;nia de PV Dias &eacute; um mundo de possibilidades, um viveiro de um Brasil exuberante, nem sempre compreendido, fruto de misturas e de culturas que v&atilde;o muito al&eacute;m do estere&oacute;tipo. Nascido em Bel&eacute;m do Par&aacute; h&aacute; 30 anos, o artista, que tamb&eacute;m &eacute; carioca por parte de m&atilde;e e hoje mora no Rio de Janeiro, &eacute; uma das vozes mais contempor&acirc;neas e contundentes de um universo art&iacute;stico que tem o carimb&oacute;, o tecnobrega, o elemento ind&iacute;gena e a natureza como epicentros efervescentes. Pesquisador &aacute;vido de arquivos que guardam as hist&oacute;rias coloniais, mas tamb&eacute;m consumidor de tudo o que vem do universo popular, Paulo Vitor bebe na contemporaneidade para propor novas narrativas e pondera&ccedil;&otilde;es. &ldquo;Tenho interesse por uma s&eacute;rie de coisas que remetem &agrave; cultura popular e &agrave; mem&oacute;ria&rdquo;, avisa. &ldquo;Popular enquanto as coisas que est&atilde;o na rua, as coisas que v&ecirc;m da comunica&ccedil;&atilde;o de massa, isso tudo me interessa, principalmente em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; est&eacute;tica.&rdquo;

Série “Rasurando Fidanza” - Foto: Divulgação

A cor &eacute; um elemento fundamental nessa influ&ecirc;ncia, mas t&ecirc;m igual import&acirc;ncia outros aspectos que v&atilde;o do visual ao musical. &ldquo;Essa Amaz&ocirc;nia contempor&acirc;nea &eacute; pulsante. No Par&aacute;, a gente v&ecirc; diversos movimentos est&eacute;ticos como o tecnobrega, o carimb&oacute; e outros vindos de uma rela&ccedil;&atilde;o caribenha com pa&iacute;ses pr&oacute;ximos da regi&atilde;o. Isso me influencia demais&rdquo;, repara. A esse universo, PV Dias junta um conjunto de outras refer&ecirc;ncias trazidas de quadrinhos e da arte atual. As obras s&atilde;o sempre marcadas por tonalidades vivas, muito saturadas, e tem&aacute;ticas que falam de viol&ecirc;ncia, agressividade, colonialidade e escravid&atilde;o.

“Noite de Pau e Corda”, na Galeria Verve - Foto: Divulgação

S&atilde;o combina&ccedil;&otilde;es que resultam em trabalhos como a s&eacute;rie &ldquo;Rasurando Fidanza&rdquo;, na qual faz interfer&ecirc;ncias nas fotos do s&eacute;culo 19, de Filipe Augusto Fidanza, que registrava escravos caracterizados de acordo com o trabalho desempenhado. Ou numa s&eacute;rie intitulada &ldquo;Uma Noite de Pau e Corda&rdquo;, exposta na Galeria Verve, em que retoma imagens de jornais antigos do Par&aacute; sobre o caso de um homem preso por praticar carimb&oacute;, m&uacute;sica considerada degenerada tal qual o samba no Rio de Janeiro da mesma &eacute;poca. Nesta exposi&ccedil;&atilde;o, a s&eacute;rie &ldquo;Que Tenhas o Corpo&rdquo; promove uma absolvi&ccedil;&atilde;o de homens negros presos registrados em um livro de condena&ccedil;&otilde;es arquivado na Biblioteca Nacional. &ldquo;O colorido &eacute; uma forma de contestar essas pautas t&atilde;o duras. N&atilde;o fa&ccedil;o para suavizar, ao contr&aacute;rio, fa&ccedil;o para deixar muito mais contrastado, v&iacute;vido fisicamente ou pictoricamente&rdquo;, explica.

&ldquo;TENHO INTERESSE por UMA S&Eacute;RIE de COISAS que REMETEM &agrave; CULTURA POPULAR e &agrave; MEM&Oacute;RIA&rdquo;

A inten&ccedil;&atilde;o de PV &eacute; propor novas vertentes. Formado em Comunica&ccedil;&atilde;o pela Universidade Federal do Par&aacute; (UFPA), em Artes pela Escola de Artes Visuais do Parque Laje e doutorando em Ci&ecirc;ncias Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o artista, que tem obras nos acervos do Museu de Arte do Rio (MAR), Casa Niemeyer (UNB), Museu d&rsquo;&Aacute;gua (PA) e Museu Nacional de Belas Artes (RJ), acredita na arte como forma de promover mudan&ccedil;as sociais. &ldquo;Eu sou um homem negro brasileiro e &eacute; ineg&aacute;vel olhar para o lado e ver que o mundo da viol&ecirc;ncia ainda perdura&rdquo;, diz. Um dos caminhos para a transforma&ccedil;&atilde;o, ele enfatiza, &eacute; criar novas hist&oacute;rias e imagens. &ldquo;Analisar o passado e fazer cria&ccedil;&otilde;es propositivas art&iacute;sticas que possam idealizar outras mem&oacute;rias e outras narrativas &eacute; fundamental.&rdquo; Ele lembra que tr&ecirc;s quintos da trajet&oacute;ria brasileira foi permeada por uma das pr&aacute;ticas mais violentas da hist&oacute;ria das sociedades humanas. &ldquo;Ent&atilde;o acredito que seja importante que se criem outras formas de pensamento e que seja colocada uma lupa nisso, porque s&oacute; assim a gente pode reestruturar essas quest&otilde;es.&rdquo; @P.V.D.I.A.S

PV Dias debruça-se sobre a rica cultura do Norte do País

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