Fora da curva: brasileira de sucesso em Hollywood, mulher em pap&eacute;is de destaque tradicionalmente masculinos, Alice Braga mostra por que &eacute; exce&ccedil;&atilde;o &agrave; regra &ndash; e por que a regra tem que mudar

Depois de consolidar seu nome no cinema nacional como a Ang&eacute;lica de &nbsp;Cidade de Deus (2002), <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/alice-braga-reclama-de-exigencia-de-muitos-seguidores-para-testes">Alice Braga</a> rapidamente&nbsp;conquistou a ind&uacute;stria de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/bryce-dallas-howard-fala-de-desigualdade-salarial-em-hollywood">Hollywood</a> atuando ao lado de astros como <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/pop-culture/zoe-kravitz-se-arrepende-de-criticas-a-will-smith">Will Smith</a>, em Eu sou a Lenda (2007), <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/nicole-kidman-julianne-moore-e-meryl-streep-sao-estrelas-da-nova-exposicao-do-met">Julianne Moore</a>, em Ensaio sobre a Cegueira (2008), <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/livre-e-destemida-iris-law-e-o-novo-rosto-da-fendi-solar-dream">Jude Law</a>, em Repo Men (2010), Anthony Hopkins, em O Ritual (2011), e Matt Damon, em Elysium (2013) &ndash; a lista &eacute; extensa.
 Agora, se consagra como a primeira brasileira a protagonizar uma s&eacute;rie norte-americana: A Rainha do Sul, cujas filmagens da segunda temporada acaba de come&ccedil;ar, em Dallas. Na trama, exibida no Brasil pelo canal Space, Alice &eacute; Teresa Mendoza, uma jovem mexicana que se refugia nos Estados Unidos para assumir o controle do tr&aacute;fico de drogas antes pertencente a seu namorado, que acaba de ser assassinado. O papel, que retrata uma mulher sem clich&ecirc;s de fragilidade, reflete n&atilde;o s&oacute; as escolhas profissionais de Alice, como tamb&eacute;m sua postura fora das telas. Se de um lado est&aacute; a constante escolha por pap&eacute;is femininos fortes e ins&oacute;litos, de outro est&aacute; uma mulher que re&uacute;ne essas caracter&iacute;sticas sem esfor&ccedil;o algum. Sobre empoderamento, misoginia e os pr&oacute;ximos projetos &ndash; al&eacute;m de filmar a s&eacute;rie, ela est&aacute; produzindo um document&aacute;rio sobre o brasileiro Thiago Soares, primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres &ndash;, ela fala na entrevista exclusiva a seguir. &nbsp;

Alice Braga

O empoderamento feminino &eacute; um tema que sublinha A Rainha do Sul. Como voc&ecirc; avalia a representatividade das mulheres na ind&uacute;stria audiovisual hoje? A representatividade das mulheres hoje, n&atilde;o s&oacute; na ind&uacute;stria audiovisual, mas tamb&eacute;m em outros contextos da sociedade, &eacute; um tema central, superado no sentido de que ningu&eacute;m deveria mais question&aacute;-lo. A conscientiza&ccedil;&atilde;o &eacute; importante, e acredito que vem a&iacute; uma gera&ccedil;&atilde;o bem disposta a colocar os pingos nos &ldquo;is&rdquo; no quesito igualdade de direitos entre homens e mulheres. Mas &eacute; importante, tamb&eacute;m, pensar em iniciativas que deem &agrave;s mulheres acesso a &aacute;reas geralmente reservadas aos homens.&nbsp;

 
Como isso se d&aacute; no cinema? Falando de cinema, especificamente, o problema passa pelos pr&oacute;prios roteiros: textos com protagonistas mulheres s&atilde;o numericamente raros. Ou, quando dispon&iacute;veis, narram a jornada de uma personagem cuja reden&ccedil;&atilde;o &eacute;... achar um marido. A quest&atilde;o tem dois aspectos: precisamos de hist&oacute;rias que abordem a subjetividade feminina com profundidade, mas tamb&eacute;m precisamos ter acesso a hist&oacute;rias universais, com protagonistas que poderiam ser tanto homens quanto mulheres. Por que o universal &eacute;, por defini&ccedil;&atilde;o, masculino?

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H&aacute; a quem culpar pela misoginia neste ambiente? A misoginia &eacute; um&nbsp;problema cultural, mais antigo que todos n&oacute;s, n&atilde;o &eacute; particular do cinema ou da TV. Os postos de comando das grandes organiza&ccedil;&otilde;es s&atilde;o tradicionalmente reservados aos homens &ndash; mas n&atilde;o s&atilde;o de propriedade deles, ent&atilde;o o melhor que a gente pode fazer &eacute; chegar l&aacute; e disput&aacute;-los no m&eacute;rito, desatando as armadilhas que existem para dificultar esse acesso, de forma que fique cada vez mais simples chegar l&aacute;.&nbsp;

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&Eacute; uma batalha... &Eacute; uma batalha mesmo. O importante &eacute; insistir e romper padr&otilde;es que historicamente colocam a mulher em segundo plano. O que &eacute; mais complicado, no caso do cinema, &eacute; que a gente conta hist&oacute;rias, e&nbsp;essas hist&oacute;rias criam representa&ccedil;&otilde;es &ndash;&nbsp;&nbsp;tanto de homens quanto de mulheres &ndash;&nbsp;&nbsp;que, com frequ&ecirc;ncia, est&atilde;o repetindo velhos clich&ecirc;s e preconceitos. N&atilde;o &eacute; piada o fato de que tantas com&eacute;dias brasileiras que t&ecirc;m protagonistas mulheres pintem um quadro em que a coisa mais importante da vida de cada uma de n&oacute;s, o que nos define, &eacute; amarrar um cara. Como se fosse nossa salva&ccedil;&atilde;o. Esse &eacute; um ponto a que atualmente as pessoas est&atilde;o dando menos aten&ccedil;&atilde;o do que deveriam. Uma rea&ccedil;&atilde;o maior deveria existir.

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Sua estreia como diretora foi com uma s&eacute;rie documental sobre Neymar. O que a atraiu ao projeto? O Felipe&nbsp;Braga, diretor, meu amigo, e s&oacute;cio na produtora, foi convidado para dirigir um projeto com o Neymar, e me convidou para entrar nessa jornada com ele. Achei um desafio interessante para viver. O Neymar ama o que faz acima de tudo. Isso &eacute; inspirador. A paix&atilde;o dele pelo futebol &eacute; encantadora.

Voc&ecirc; est&aacute; produzindo um document&aacute;rio sobre o bailarino Thiago Soares. De onde veio a vontade de contar essa hist&oacute;ria? O Soares, como &eacute; chamado em Londres, &eacute; mais do que um bailarino. &Eacute; um artista m&uacute;ltiplo, que faz pontes entre culturas, especialmente o gingado brasileiro e a tradi&ccedil;&atilde;o cl&aacute;ssica brit&acirc;nica. &Eacute; uma grande figura, bem-humorado,&nbsp;inteligente, com tudo o que se precisa de um bom personagem. Ele saiu do hip hop carioca e tem uma forte hist&oacute;ria para mostrar. E, no filme, registramos a forte participa&ccedil;&atilde;o de mulheres ao seu lado, tanto bailarinas como a core&oacute;grafa Deborah Colcker. H&aacute; uma gera&ccedil;&atilde;o de diretores brasileiros hoje, como Anna Muylaert e Kleber Mendon&ccedil;a Filho, que est&aacute; revalorizando o cinema nacional.

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O que acha desta safra? Sensacional. E olha que Anna e Kleber j&aacute; est&atilde;o na faixa dos 50 anos. Um time imenso vem abrindo portas e portas &ndash; e, dentro da perspectiva do come&ccedil;o da entrevista: cresceram no digital e com presen&ccedil;a feminina. 
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Alice Braga faz sucesso em Hollywood!

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